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Artigo: ‘Crianças fora da escola, uma realidade preocupante pós-pandemia’

Estudo do Unicef em parceria com o Cenpec Educação mostrou que mais de 5 milhões de meninas e meninos não tiveram acesso à educação no Brasil

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Os efeitos da pandemia de COVID-19 na educação brasileira ainda estão sendo estudados, mas quem trabalha nessa área, especialmente na educação infantil, tem sérios motivos para estar preocupado com o futuro de muitas crianças. Nos últimos anos, o país vinha avançando, lentamente, no acesso de crianças e adolescentes à escola. A pandemia da Covid-19, no entanto, afastou muitos estudantes da sala de aula. 

 

Um estudo do Unicef em parceria com o Cenpec Educação mostrou, em novembro de 2020, que mais de 5 milhões de meninas e meninos não tiveram acesso à educação no Brasil – número semelhante ao do início dos anos 2000. Desses, mais de 40% eram crianças de 6 a 10 anos, etapa em que a escolarização estava praticamente universalizada antes da pandemia e fase crucial para potencializar vínculos sociais, desenvolver habilidades físicas e cognitivas. 

 

Os motivos são diversos: a questão financeira, o receio de contaminação pelo vírus (que ainda assusta principalmente aqueles que perderam familiares), ou o fato de muitos pais em homeoffice se dividirem entre o trabalho e os cuidados com os filhos, ou simplesmente optarem por ajuda de terceiros nessa missão.
 

A OCDE reportou que, em 2020, as escolas brasileiras ficaram fechadas por 178 dias, num país onde o acesso à internet em casa só está disponível para 19% dos estudantes (dados do Banco Mundial). Tão grave quanto a dificuldade de acesso ao conteúdo escolar são os prejuízos causados pela falta do contato direto das crianças com os professores e com seus colegas. E essa realidade não é apenas de escolas públicas, temos visto isto acontecer diante dos nossos olhos.
 

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Foto: Unsplash

Essa situação é muito preocupante e isso não diz respeito apenas à minha opinião de educadora e diretora de escola no Distrito Federal, mas os especialistas em educação sabem que os impactos negativos dessa baixa taxa de retorno à sala de aula, e a postergação da matrícula escolar, vão dificultar o aprendizado justo na fase de alfabetização e outras aprendizagens essenciais às demais etapas escolares. Ciclos de alfabetização incompletos ou interrompidos podem acarretar em um enorme “gap” no aprendizado escolar.
 

Deixando um pouco de lado as estatísticas e acolhendo o lado prático dessa realidade, um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgado em janeiro de 2020, contribuiu para validar premissas com relação à educação precoce que, já há algum tempo, fazem parte da estratégia das escolas que lideram uma revolução no aprendizado infantil, como a rede Eleva.
 

A pesquisa científica demonstrou os claros benefícios da educação de alta qualidade desde os primeiros anos de vida dos alunos, com reflexos demonstrados na capacidade cognitiva. Essa vantagem é percebida não apenas pelo melhor desempenho nos anos primários, mas pelo potencial de desfrutar de uma aprendizagem acelerada no futuro.
 

Os conceitos mais modernos de educação colocam ênfase na necessidade de fazer conexões e desenvolver relacionamentos, na socialização, no aprendizado baseado na curiosidade e na investigação, no questionamento e na pesquisa. O objetivo é fazer as crianças começarem a pensar e seguirem pensando por elas mesmas.
 

Adotamos uma alta qualidade no ensino das nossas crianças desde os 3 anos de vida, com um aprendizado baseado na exploração e no questionamento, na pesquisa e na solução de problemas. Acreditamos que isso representa uma vantagem única em comparação com outras crianças que começaram sua educação mais tarde.
 

Recentemente participei de uma roda de conversa com uma pediatra conceituada de Brasília e ela contou que um de seus filhos foi para a escola com quatro meses de vida enquanto o outro aos 2 anos e ela percebe nitidamente a diferença no desenvolvimento deles. Disse, ainda, que se pudesse voltar atrás teria matriculado o caçula mais cedo, pois a escola será sempre a melhor escolha.
 

É nisso que acreditamos: boas escolas, sempre em parceira com a família, podem formar cidadãos preparados para os desafios da vida. Deixá-los de fora desse meio pode não ser a melhor escolha, em que pese muitos fatores alheios à vontade dos pais estarem envolvidos. Lugar de criança é, desde muito cedo, na escola!

 

 

Isabella Sá, diretora da escola Eleva Brasília

Isabella Sá – Headmaster Escola Eleva Brasília e professora de Public Speaking. Formada em Psicologia com mestrado na LIU-NY em Guidance and Counseling.