O atentado de um brasileiro de 35 anos contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na noite de quinta-feira (1º), ainda está cercado de mistérios e perguntas. O atirador, identificado como Fernando Andrés Sabag Montiel, apontou uma pistola para o rosto de Kirchner, mas a arma não disparou.
O presidente do país, Alberto Fernández, classificou o ataque como “o mais grave desde 1983, quando o país voltou a ser uma democracia”. Foi declarado feriado nacional nesta sexta-feira (2) e uma reunião ministerial foi convocada para discutir o assunto.
O atentado ocorre em um momento de intensa ebulição política no país vizinho. Com uma inflação incontrolável, níveis de pobreza recordes e crise econômica aprofundada pela pandemia, a popularidade de Alberto Fernández está em seu patamar mais baixo desde a posse.
**Veja o momento do ataque contra Cristina Kirchner:**
Além disso, Cristina Kirchner, que governou o país entre 2007, quando sucedeu seu falecido marido, Néstor Kirchner (morto em 2010), e 2015, enfrenta uma batalha judicial por acusações de corrupção em seu governo. Promotores argentinos pediram que ela seja condenada a 12 anos de prisão, o que desencadeou uma série de conflitos entre militantes pró e contra a vice-presidente.
O ataque de quinta-feira é o ápice do acirramento político e da polarização na Argentina. Após a saída de Cristina da presidência, o país viveu quatro anos sob o comando de Maurício Macri, político de direita e antagonista da chama “Era K”, como os analistas políticos batizaram o período de Néstor e Cristina à frente da Argentina.
Macri implementou uma série de medidas econômicas liberais na tentativa de estabilizar a economia argentina, o que teve reflexo em uma maior austeridade nos gastos do governo. Sem sucesso na redução da pobreza e no equilíbrio fiscal, nos bastidores os aliados de Macri promoveram uma investida judicial contra indícios de corrupção nos governos anteriores.
Com a derrota de Macri para o antigo chefe de gabinete de Cristina, Alberto Fernández, a ex-presidente voltou à cena como vice-presidente. Foram retomadas antigas práticas econômicas no país, com maior gasto público e assistencialismo social, que aprofundaram a crise financeira durante a pandemia de Covid-19 e aumentou a insatisfação popular.
**O que se sabe sobre o atentado?**
Veja o que já foi apurado e o que ainda é investigado sobre o ataque em Buenos Aires.
**O que aconteceu?**
Fernando André Sabag Montiel, brasileiro, de 35 anos, radicado na cidade de Buenos Aires, apontou uma pistola a poucos centímetros do rosto da vice-presidente, Cristina Kirchner. O ataque aconteceu por volta das 21h desta quinta (1º), quando ela saudava um grupo de militantes na frente de sua residência. A arma chegou a ser engatilhada, mas o tiro falhou.
**Quem é o atirador?**
Fernando Sabag Montiel, de 35 anos, nascido em 13 de janeiro de 1987, morava no bairro de La Paternal, em Buenos Aires. Segundo as autoridades argentinas, trabalhava como motorista de aplicativo no país. O documento do brasileiro aponta que ele nasceu em São Paulo, mas morava na Argentina desde o início dos anos 1990. Segundo o Itamaraty, o atirador é filho de mãe argentina e pai chileno.
Montiel tem antecedentes por “porte de arma ilegal não-convencional”: em março de 2021 foi flagrado com um facão pela polícia, mas alegou “segurança pessoal”. Segundo vizinhos, o brasileiro é “instável” e obcecado em aguardar músicos famosos em hotéis.
**Já se sabe a motivação?**
Ainda não há uma resposta conclusiva sobre a motivação do brasileiro. Segundo informações preliminares, Montiel apresenta tatuagens de cunho nazista.
**O que aconteceu com o atirador?**
Montiel foi detido pelos seguranças de Cristina Kirchner imediatamente após a tentativa de homicídio.
**A arma usada era verdadeira?**
A arma de calibre .38 foi periciada e era verdadeira. A pistola estava carregada com cinco balas, mas falhou na hora do disparo contra a vice-presidente.
**O que disse o presidente Alberto Fernández sobre o ataque?**
Em pronunciamento na televisão, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, considerou o caso “o mais grave” desde a redemocratização do país, em 1983. “Temos a obrigação de recuperar a convivência democrática que foi quebrada pelo discurso de ódio que se espalhou de diferentes espaços políticos, judiciais e midiáticos”, afirmou. “O povo argentino quer viver em democracia e em paz e nosso governo está firmemente empenhado em trabalhar todos os dias para que possamos alcançá-lo”, declarou ele.