O emocionante capítulo final da Copa do Catar consagrou a Argentina de Lionel Messi, campeã na decisão por pênaltis, após empate por 2 x 2 no tempo normal e por 3 x 3 na prorrogação. A conquista foi valorizada pelo adversário, a heróica França de Mbappé, que, tal como Messi, foi protagonista do jogo, marcando os três gols de seu selecionado, fechando a competição como seu artilheiro, com oito. Mas a final não foi só dos dois: nos pênaltis, brilhou também o goleiro Emiliano Martínez, que pegou a cobrança de Coman e assistiu a Tchouaméni chutar para fora, o que facilitou a vitória argentina por 4 x 2.
Assim, Messi chega, aos 35 anos, conquistando o maior título de sua excepcional carreira, igualando a marca de outro ídolo portenho, Diego Armando Maradona, falecido em 2020. Ele também demoliu com um tabu de quase um século: campeões da Copa América nunca haviam vencido a Copa do Mundo disputada em seguida – em 2021, em pleno Maracanã, a Argentina bateu o Brasil por 1 x 0, quebrando jejum de títulos que durava 28 anos. Agora, no gramado do Estádio Lusail, no Catar, Messi também acabou com outro período argentino sem títulos: desde 1986, no México, a seleção portenha não vencia uma Copa do Mundo – foi vice em 1990 e 2014, ambas para a Alemanha.
Ao lado de seus companheiros, Messi fez com que a Copa do Mundo voltasse à América do Sul, algo que não ocorria desde o pentacampeonato do Brasil, em 2002. Eles também impediram que Didier Deschamps, o técnico francês, igualasse a marca histórica do lendário treinador italiano Vittorio Pozzo, bicampeão nas edições de 1934-1938. Como consolação a nós, derrotados pela insossa Croácia, nos pênaltis, nas quartas de final, restou a marca histórica de permanecer como o último vencedor de duas Copas seguidas, graças ao brilho do selecionado de Pelé e Garrincha, em 1958 e 1962.
Além do tricampeonato, a Argentina leva para casa as conquistas de Enzo Fernández, eleito o jogador revelação da Copa, de Emiliano Martínez, melhor goleiro, e de Lionel Messi, escolhido como o Bola de Ouro pelo seu desempenho em toda a competição. Ele também alcançou um recorde pessoal: é o jogador com mais partidas na história das Copas, com 26 jogos, um à frente do alemão Lothar Matthäus.
A vitória deste domingo (18) fechou uma campanha que começou com um início preocupante, pois a Argentina perdeu na estreia para a Arábia Saudita, por 2 x 1, de virada. A partir daí, fez uma campanha equilibrada, Venceu o México e a Polônia, por 2 x 0, passando em primeiro no Grupo C. Nas oitavas, passou sufoco, mas bateu a Austrália por 2 x 1. Nas quartas de final, diante da forte Holanda, classificou-se nos pênaltis, após um 2 x 2 no tempo normal. Na semifinal, mais solta em campo, deu uma aula nos 3 x 0 em cima da Croácia, que eliminara o Brasil.
**Emoções de sobra**
Mas a final foi de fortes emoções. Contrariando as expectativas, o técnico Lionel Scaloni levou a campo uma linha de quatro defensores e tirou o volante Paredes para escalar Di Maria, atuando aberto pela esquerda. Com isso, a Argentina tomou conta do jogo. Nos primeiros 15 minutos, o time de Scaloni perdeu três boas chances, diante de uma França apagada em campo. Abrir o placar era questão de tempo e, aos 20, Di Maria invadiu a área e foi derrubado por Dembelé. Na cobrança do pênalti, Messi deslocou Lloris para fazer 1 x 0.
O dominio era tamanho que nos 30 primeros minutos a França sequer chutou a gol. Com este volume de jogo, o segundo era questão de tempo. Aos 35, Mac Allister puxou contra-ataque com Messi, que passou a Álvarez pela direita. O atacante devolveu para Mac Allister, que rolou para Di Maria, na área. Na saída de Lloris, ele chutou forte, para fazer 2 x 0 e cair no choro durante a comemoração.
Irritado com a postura passiva do seu time, Didier Deschamps trocou dois jogadores ainda no primeiro tempo: Dembelé e Giroud saíram para dar lugar a Thuram e Kolo Muani, que também entraram contra Marrocos e modificaram o panorama daquela partida. Mas, naquele momento, a tática era, ao menos, segurar o ímpeto dos argentinos. Assim, os franceses saíram para o intervalo sem dar um único chute a gol.
No segundo tempo, a Argentina veio ocupando o ataque, para tentar definir logo o jogo. Aos 13, Julián Álvarez recebeu passe de Di Maria na área e chutou para defesa de Lloris. Um minuto depois, Di Maria passou por Koundé e cruzou rasteiro. A bola chegou a Messi, que driblou Thuram, mas foi travado por Rabiot na pequena área.
Com o jogo aparentemente definido, a Argentina trocou Di Maria pelo lateral Acuña, recuou e tentou continuar com o domínio, mas cedeu espaços à França, que pouco ameaçava. Só que, aos 34, veio o inesperado. Kolo Muani, pela esquerda, entrou na área e foi derrubado por Otamendi. Mbappé bateu o pênalti no canto direito de Martínez, fazendo o primeiro gol francês. Dois minutos depois, o inesperado e imprevisível empate. Coman desarmou Messi, avançou e cruzou para Mbappé, que bateu de primeira, para fazer um golaço e deixar tudo igual no Lusail.
Animados, os franceses quase desempataram com Camavinga, aos 47. Na sequência, Rabiot chutou para boa defesa de Martínez, em dois tempos. No finalizinho do tempo regulamentar, a resposta dos argentinos veio em uma finalização de Messi da entrada da área, com Lloris defendendo de mão trocada.
**Prorrogação e pênaltis emocionantes**
Na prorrogação, o primeiro tempo foi de estudos. Mas no segundo houve de tudo. Aos 3, Enzo Fernández lançou Lautaro Martínez, que entrou na área e bateu. Lloris deu rebote, mas Messi, na sobra, desempatou. Parecia que o título tinha voltado para Buenos Aires, mas aos 10, Mbappé chutou da entrada da área e a bola bateu no braço de Montiel. Pênalti marcado e reconfirmado pelo VAR, cobrado com precisão pelo camisa 10 francês. A virada só não saiu aos 17 minutos, porque Martínez fez milagre em chute de Kolo Muani.
Com a igualdade, a decisão foi para os pênaltis, como nas Copas de 1994, vencida pelo Brasil contra a Itália, e de 2006, quando os italianos bateram os franceses. Messi ganhou o cara ou coroa e começou escolhendo o gol à frente da torcida argentina.
Mbappé e Messi bateram os dois primeiros pênaltis com categoria, fazendo 1 x 1. Aí a sorte começou a pender de vez para a Argentina. Martínez pegou a batida de Coman e Pablo Dybala fez 2 x 1. Na batida seguinte, Tchouaméni cobrou para fora. Paredes, na sequência, fez 3 x 1. Na quarta rodada, Kolo Muani diminuiu com uma bomba no meio do gol, mas aí veio a reabilitação de Montiel. Depois de cometer o pênalti na prorrogação, ele bateu firme, deslocando Lloris e levando a Copa do Mundo para Buenos Aires.
**ARGENTINA 3 (4)**
Emiliano Martínez, Molina (Montiel), Romero, Otamendi e Tagliafico (Dybala); Enzo Fernández, De Paul (Paredes) e Mac Allister (Pezzella); Di María (Acuña), Messi e Julián Álvarez (Lautaro Martínez).
**Técnico:** Lionel Scaloni
**FRANÇA 3 (2)**
Lloris, Koundé (Disasi), Varane (Konaté), Upamecano e Theo Hernández (Camavinga); Tchouaméni, Rabiot (Fofana) e Griezmann (Coman); Dembélé (Kolo Muani), Giroud (Thuram) e Mbappé
**Técnico:** Didier Deschamps
**Gols:** Messi (pênalti), aos 20, e Di Maria, aos 35 minutos do primeiro tempo, Mbappé, aos 34 e aos 36 minutos do segundo tempo, Messi (pênalti), aos 3, e Mbappé (pênalti), aos 10 minutos do segundo tempo da prorrogação.
**Árbitro:** Szymon Marciniak (Polônia), auxiliado por Pawel Sokolnicki e Tomasz Listkiewicz (ambos da Polônia).
**Estádio:** Lusail.