Da periferia à honraria. A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) concedeu na semana passada, de forma oficial, o título de cidadã honorária de Brasília à apresentadora Carmela, vivida pelo jornalista Diego Ponce de Leon. A proposta foi do deputado distrital Jorge Vianna (PSD). Essa é a primeira vez na história que uma drag queen recebe o título na Capital Federal.
Diego Ponce possui mestrado pela Universidade de Brasília (UnB) e já é figurinha carimbada nas redações do DF, afinal, atua como jornalista há mais de dez anos. Já o outro lado deste artista versátil, a Carmela, sempre foi muito atuante em rádios locais e na internet, onde faz performances, vídeos de humor e protestos voltados para minorias.
Segundo o regimento interno da Câmara, o título de cidadão honorário é concedido apenas às “pessoas de notório reconhecimento público que conduziram relevantes iniciativas sociais a favor do DF”. No entanto, até se tornar oficial é um processo protocolar longo. O título precisa ser aprovado por algumas comissões internas, além de ser votado e aprovado em plenário pelos deputados da casa.
Carmela conta detalhes de como recebeu o convite do deputado Jorge Vianna. “Ele conheceu meu trabalho no rádio. Inicialmente, ele se surpreendeu com a minha forma de gerar entretenimento, mas acabou sensibilizado pelo alcance social envolvido, que vai desde tirar pessoas da depressão à distribuição de cestas básica, passando por intervenções pedagógicas em escolas e a busca por visibilidade a histórias anônimas”, afirmou.
Carmela já existe na vida de Diego há muitos anos, mas ganhou destaque de verdade desde 2018, quando passou a comandar um programa de rádio intitulado “Barraco da Carmela”. A partir daí, Diego começou a deixar a Carmela aparecer e se destacar cada vez mais. Nunca antes na história de Brasília uma pessoa que trabalha como drag queen havia sido reconhecida como cidadã honorária.
“É grandioso e louvável pensarmos que a Câmara Legislativa, a casa do povo, possa ter se aberto a reconhecer o trabalho de uma figura que busca refletir a ideia convencional de gênero, os paradigmas costumeiros da família e a forma habitual de se fazer arte”.
Apesar de ter se sentir agraciada, Carmela ressalta que, com o título, também vem a cobrança e a responsabilidade. “Senti uma cobrança ainda maior para sustentar as pautas às quais me dedico, como a valorização da cultura periférica, a luta contra a invisibilidade das pessoas socialmente vulneráveis e o apelo por uma representação política que seja muito mais relacionada ao povo”, defendeu.