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Após ser criticada em audiência, presidente da CLDF sai em defesa de juíza penal

Ativistas questionaram atuação da responsável pela Vara de Execuções Penais do TJDFT
Deputado Wellington Luiz
Deputado Wellington Luiz (MDB) | Foto: material cedido ao GPS|Brasília

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O presidente da Câmara Legislativa (CLDF), deputado distrital Wellington Luiz (MDB), manifestou, nesta sexta-feira (17), o apoio à juíza Leila Cury, titular da Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).

A magistrada foi envolvida em falas durante uma audiência pública da Casa, quando participantes classificaram o Estado como “criminoso” ao tratarem da realidade dos presidiários na capital federal (leia a nota na íntegra abaixo).

Na nota de desagravo, divulgada nos canais oficiais da Casa, o chefe do Legislativo local condenou as declarações do presidente do Centro Brasiliense de Defesa dos Direitos Humanos (CBDDH), Michel Platini, e de Rodrigo Cademartori, ex-detento, contra a magistrada.

O fato ocorreu durante a reunião realizada no dia 6 de maio, quando foi discutido o “Enfrentamento à Tortura e Mortes no Sistema Prisional do DF”, iniciativa de autoria do deputado distrital Fábio Felix (PSol). Platini nega e diz que as acusações estão fora do contexto original (leia abaixo).

“É lamentável que pessoas façam acusações infundadas e desrespeitosas contra uma profissional dedicada e competente como a juíza Leila Cury. A liberdade de expressão não pode ser usada de forma irresponsável e criminosa”, afirmou Wellington Luiz.

De acordo com o presidente da CLDF, Michel Platini e Rodrigo Cademartori atribuíram à juíza Leila Cury “atos criminosos, ambos de maneira reprovável, deseducada a acintosa”, disse o parlamentar sobre os participantes do ato oficial.

O presidente da Câmara Legislativa ressaltou a importância do respeito mútuo entre os Poderes do Estado e a necessidade de coibir esse tipo de comportamento.

“A Justiça deve ser feita de maneira transparente e imparcial, sem espaço para atitudes caluniosas e difamatórias. A magistrada Leila Cury conta com o meu total apoio e solidariedade neste momento”, declarou o deputado.

Wellington Luiz concluiu a nota de desagravo reafirmando o compromisso da Câmara Legislativa do DF em zelar pela integridade e “respeito entre os Poderes”.

Assista as falas a partir de 2h e 11 min:

Entenda o caso

No dia 6 de maio, durante a audiência pública proposta pelo deputado Fábio Felix (PSol), Michel Platini e Rodrigo Cademartori pediram a palavra. Ao assumir a fala, Platini fez críticas e direcionou algumas delas à magistrada, a qual, segundo o ativista, se recusaria a receber familiares de presidiários. 

Platini divulgou informações sobre o sistema prisional do Distrito Federal, levantando questionamentos sobre a atuação do Estado e da juíza Leila Cury, responsáveis pelas decisões sobre casos de detentos do DF. Conforme Platini disse na audiência, a situação seria “grave” e exigiria “atenção”.

Michel também questionou quem realmente estaria “mais em conflito com a lei: o Estado ou as pessoas sob sua custódia?”. Ele apontou que o sistema prisional opera de forma “criminosa” e que seria necessário investigar “9 mortes ocorridas em apenas cinco meses”.

O ativista chamou atenção para o fato de que as famílias dos detentos enfrentariam discriminação, como no caso de uma avó que foi impedida de visitar um de seus netos encarcerados.

A atuação direta da juíza Leila Cury também foi destaque nas declarações de Platini, quando questionou o tratamento dado por ela aos familiares dos presos. Ele levantou a questão se a juíza estaria estendendo o crime praticado pelas pessoas encarceradas para suas famílias, citando a restrição de visitas e a falta de acolhimento. 

“Ô, Leila Cury, você (sic) precisa responder isso para a sociedade inteira. Vocês estão tratando esses familiares com discriminação? Gente, é grave o que acontece lá dentro, os filhos que não podem ver seus pais”, disse ele na audiência pública.

Outro participante

Logo após a fala de Platini, e de forma mais enfática, o ex-preso Rodrigo Cademartori, mais conhecido como Rodrigo Pilha, fez graves denúncias sobre as condições dos presídios e a conduta da juíza Leila Cury. No depoimento, Rodrigo relatou sua suposta experiência de “tortura e negligência” dentro do sistema prisional.

“Eu pedi a palavra, mesmo chegando atrasado, porque na qualidade de ex-preso, aqui a gente está vendo os familiares. Não sei com os outros, mas comigo, [estou] preso para sempre. Não saio daquele inferno. Já parei até de acompanhar. Não estou conseguindo inclusive nem militar pelo desencarceramento, porque é pesado, Nada muda”, desabafou Rodrigo.

O ex-detento ainda engrossou críticas à juíza Leila Cury. “Nós temos uma juíza, da Vara de Execuções Penais, [que é]  criminosa. A senhora Leila Cury, ela é criminosa. Não estou acusando o Estado de praticar a tortura, eu vivi a tortura (…). Eu fiquei só em 22 dias”, começou.

“E é verdade (…). A decisão dela só prejudica os presos, nada muda. E não acuso, eu afirmo: o GDF, a Seap [Secretaria de Administração Penitenciária] e a Leila Cury são torturadores e criminosos e precisam urgentemente sair do sistema prisional”, declarou.

Rodrigo também denunciou as condições supostamente desumanas dentro das celas e a falta de alimentação adequada. “Quando eu fiz a denúncia, eles passaram a me tratar de forma pior ainda. Nada chegou, nem mesmo alimentação. Fui obrigado a contar com a ajuda de outros presos para me alimentar”, relatou.

O outro lado

Procurado pela reportagem, Michel Platini explicou o discurso e garantiu não ter feito nenhum tipo de acusação criminosa contra a magistrada.

“Participei de uma audiência pública e utilizei o espaço de fala, conforme permitido pela democracia, para questionar o fato de a titular da Vara da Execução Penal não receber familiares de internos do sistema. Em nenhum momento afirmei que o juízo era criminoso. Nenhuma instituição está acima da lei e todos estão sujeitos ao controle social. Tenho uma trajetória de respeito à Justiça e luto para que seja mais inclusiva”, disse.

Platini continuou dizendo que “as palavras não deveriam causar maior choque do que a atual situação do sistema prisional. A fome nos presídios, denúncias de tortura, superlotação e outros problemas irresolvíveis deveriam causar mais incômodo a todas as autoridades”, finalizou.

A coluna tenta contato com os demais envolvidos. O texto será atualizado se houver manifestação oficial das partes.

Leia a nota de Wellington Luiz na íntegra:

“O presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Wellington Luiz, vem a público apresentar Nota de Desagravo em favor da juíza de direito titular da Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios Leila Cury diante das declarações proferidas pelo senhor Michel Platini atribuindo à magistrada a prática de atos desidiosos, omissos e preconceituosos no desempenho da judicatura, e pelo senhor Rodrigo Cademartori, atribuindo a prática de atos criminosos, ambos de maneira reprovável, deseducada a acintosa. 

A liberdade de expressão não é um direito absoluto, porque pode vir a configurar crime contra a honra e, considerando que tais atos foram praticados dentro desta Casa Legislativa, expede-se esta Nota de Desagravo para o restabelecimento do respeito recíproco que deve haver entre os Poderes do Estado”, registrou o documento.