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Antonio Geraldo: Transtorno de personalidade borderline é um assunto sério

Transtorno é caracterizado por intensas oscilações de humor, que podem variar da euforia à tristeza profunda

O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um transtorno mental sério e complexo, que exige compreensão fundamentada na ciência, responsabilidade e empatia. Assim como qualquer outra condição de saúde, o TPB possui tratamento e deve ser levado a sério. No entanto, o estigma ainda presente dificulta o diagnóstico precoce, o acesso ao tratamento e o acolhimento necessário a essas pessoas.

Receber o diagnóstico de TPB — ou de qualquer outra doença mental — não significa que a pessoa é “louca” ou que está “interpretando um personagem”, mas sim que enfrenta uma condição real, que precisa ser reconhecida e tratada com respeito e cuidado, sem preconceitos.

O TPB é um transtorno de personalidade, ou seja, afeta profundamente o modo como o indivíduo percebe a si mesmo, os outros e o mundo ao redor, influenciando de forma consistente sua maneira de funcionar e reagir emocionalmente. É caracterizado por intensas oscilações de humor, que podem variar da euforia à tristeza profunda em curtos períodos de tempo. Essas alterações emocionais impactam negativamente o bem-estar da pessoa, sua vida cotidiana, seus relacionamentos interpessoais e sua capacidade de tomar decisões.

Uma das principais características da pessoa com TPB é a dificuldade em lidar com situações que envolvam rejeição ou abandono, ainda que apenas percebidos ou interpretados como tal. Muitos episódios de instabilidade emocional, comportamentos impulsivos ou mesmo crises de autolesão e descontrole estão relacionados a esses sentimentos. O simples cancelamento de um encontro por um amigo, a suspensão temporária de um atendimento médico ou a percepção de distanciamento de um parceiro podem desencadear reações intensas. A experiência de abandono, para quem vive com TPB, pode ser extremamente desorganizadora e dolorosa.

Pessoas com TPB também podem apresentar comportamentos impulsivos, como gastos excessivos, uso abusivo de substâncias e relações interpessoais instáveis. Em situações mais graves, pode haver risco de comportamentos autoagressivos ou tentativas de suicídio. Esses comportamentos não são “exageros” ou “dramas”, mas sim manifestações clínicas de um transtorno que, quando não tratado, pode causar profundo sofrimento e prejuízos significativos.

O desenvolvimento do TPB resulta da interação de fatores genéticos, ambientais e neurobiológicos. Muitas pessoas diagnosticadas com o transtorno relatam histórias de traumas na infância, como negligência, abandono ou abuso físico e emocional. Embora a prevalência seja maior entre mulheres, o TPB pode acometer pessoas de qualquer gênero, idade ou classe social.

O diagnóstico deve ser realizado exclusivamente por um médico psiquiatra devidamente registrado (CRM e RQE), por meio de avaliação criteriosa que considera o histórico clínico e familiar do paciente, além da exclusão de outras condições. O TPB pode ser confundido com outros transtornos, como a depressão maior ou o transtorno bipolar, e diagnósticos equivocados podem levar a tratamentos inadequados.

O TPB é tratável. A abordagem mais indicada é a psicoterapia, especialmente a Terapia Comportamental Dialética (DBT), que auxilia o paciente a regular suas emoções, aprimorar suas relações e desenvolver estratégias para lidar com situações de estresse. Em alguns casos, o uso de medicações pode ser necessário para controlar sintomas específicos, como depressão, ansiedade ou impulsividade.

Pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline precisam de acolhimento, empatia e acesso contínuo ao tratamento especializado. Não se trata de “frescura”, “exagero emocional” ou falta de força de vontade, mas sim de uma condição real e séria, que exige cuidados específicos. É fundamental não romantizar os excessos emocionais nem reforçar preconceitos ou diminuir a dor de quem vive com essa condição. Ter responsabilidade e consciência sobre o outro é um ato de respeito. A empatia gera reciprocidade diante das dificuldades, fragilidades e necessidades que todos enfrentamos. Se você ou alguém próximo apresenta sinais relacionados ao que foi descrito aqui, procure ajuda do médico psiquiatra; ele é o profissional competente, qualificado e especializado para que essa condição não traga consequências negativas irreversíveis.

Se você precisar, peça ajuda!

 

*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.

Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.

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