De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição do Neuro desenvolvimento de causa genética reconhecida pela ciência médica e que afeta milhões de crianças, adolescentes e adultos ao redor do mundo. Caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, o transtorno pode impactar significativamente a vida acadêmica, profissional e social dos indivíduos. No entanto, apesar de amplamente estudado e documentado, o TDAH ainda é alvo de desinformação e mitos que dificultam o reconhecimento e o tratamento adequado.
Um dos equívocos mais comuns é a crença de que o TDAH não passa de um problema de falta de disciplina ou uma consequência da educação inadequada. Na realidade, estudos demonstram que o transtorno tem forte base genética e neurobiológica, sendo resultado de alterações no funcionamento cerebral que afetam a regulação da atenção e do comportamento. Além disso, há aqueles que questionam a existência do TDAH, alegando que ele é uma invenção da indústria farmacêutica. No entanto, o transtorno está descrito em manuais médicos reconhecidos internacionalmente, e sua prevalência é bem estabelecida, afetando cerca de 6,5% das crianças e 2,7% dos adolescentes, números que podem ser ainda maiores devido ao aumento da procura por diagnóstico.
Outro mito recorrente é a ideia de que o TDAH se manifesta apenas na infância e desaparece com a idade. Embora os sintomas possam mudar ao longo da vida, cerca de metade dos adolescentes deixam de ter os sintomas mas a outra metade dos que se tornaram adultos, continuam enfrentando desafios relacionados à desatenção, impulsividade e dificuldades no gerenciamento do tempo e das responsabilidades. Estima-se que cerca de 50% dos indivíduos diagnosticados na infância mantenham sintomas significativos na fase adulta, impactando seu desempenho acadêmico, profissional e social.
Há também uma visão equivocada de que o TDAH afeta apenas meninos. Embora os sintomas possam se manifestar de maneira diferente entre os sexos, com meninas frequentemente apresentando mais desatenção do que hiperatividade, o transtorno ocorre em ambos, exigindo um olhar atento para que o diagnóstico não passe despercebido. Além disso, algumas pessoas acreditam que o transtorno está associado à baixa inteligência, o que não é verdade. O TDAH não afeta a capacidade cognitiva do indivíduo, mas pode dificultar a organização do pensamento e a execução de tarefas que exigem maior concentração e planejamento.
Outro equívoco comum é a crença de que o consumo excessivo de açúcar ou alimentos ultraprocessados pode causar TDAH. Embora a alimentação influencie o bem-estar geral, não há evidências científicas que associem diretamente o consumo de determinados alimentos ao desenvolvimento do transtorno. Fatores genéticos e neurobiológicos desempenham um papel muito mais relevante na sua manifestação.
No que se refere ao tratamento, é fundamental desmistificar a ideia de que a medicação é a única alternativa. O manejo do TDAH requer uma abordagem multidisciplinar, que pode envolver psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos e, em alguns casos, outros especialistas da área médica. Além da farmacoterapia, estratégias como psicoterapia, mudanças no estilo de vida, práticas de atividade física, sono regulado e alimentação equilibrada contribuem significativamente para o bem-estar do paciente.
O diagnóstico do TDAH deve ser feito pelo médico psiquiatra treinado nesta área. No CID10 que é a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, o TDAH está disposto no código F que identifica transtornos mentais e comportamentais. Portanto o médico psiquiatra é o profissional que, por meio de uma avaliação clínica criteriosa, é quem com propriedade e técnica realiza o diagnóstico. Diferentemente do que muitos pensam, não existem exames laboratoriais que confirmem o transtorno; testes de imagem e outros exames complementares servem apenas para descartar outras condições com sintomas semelhantes. Neste caso, para ajudar no diagnóstico diferencial. Um diagnóstico inadequado pode levar a tratamentos ineficazes e até agravar outros transtornos coexistentes.
Infelizmente, há pessoas que simulam sintomas de TDAH para obter prescrições de medicamentos estimulantes com finalidades inadequadas, como aumento da concentração sem necessidade médica ou até mesmo para perda de peso. Esse comportamento irresponsável não apenas compromete a credibilidade do transtorno, mas também representa um risco à saúde, pois o uso indevido dessas substâncias pode causar dependência, efeitos colaterais graves e complicações cardiovasculares. Cabe ao psiquiatra agir de maneira ética e responsável, garantindo que os diagnósticos sejam feitos com base em critérios científicos, evitando prescrições indevidas e educando os pacientes sobre os riscos do uso inadequado de medicamentos.
Diante desse cenário, é fundamental que, ao surgirem dúvidas sobre sintomas relacionados ao TDAH ou qualquer outra condição de saúde mental, as pessoas procurem orientação profissional adequada. O acesso a um diagnóstico preciso e a um tratamento correto pode transformar a qualidade de vida dos pacientes, permitindo que eles desenvolvam todo o seu potencial. Se precisar, não hesite em buscar ajuda especializada, peça ajuda!
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.