Na semana passada, fui convidado para participar de uma audiência pública no Senado Federal e compartilhar a minha visão sobre a regulamentação da psicoterapia no Brasil. O debate girava em torno de quem estaria habilitado a exercer essa prática, se apenas os psicólogos ou também psiquiatras. Eu ouvi também profissionais de outras formações reivindicarem esta pauta. Essa questão toca em pontos específicos sobre a formação dos profissionais envolvidos e, principalmente, o cuidado ético e responsável com os pacientes.
É curioso refletir sobre isso justamente hoje, 13 de agosto, em que celebramos o Dia do Psiquiatra. A formação de um psiquiatra é extensa e bastante rigorosa. São seis anos de faculdade de Medicina, três anos de Residência Médica em Psiquiatria, com muitas horas de dedicação exclusiva ao estudo teórico e prático, que nos habilita a compreender a complexidade da mente humana. Ao final desse processo, é possível nos especializarmos ainda mais em determinadas áreas de atuação, entre elas a Psicoterapia.
Psicoterapia é uma palavra com origem grega, vem de psyké (mente) e therapeia (ato de curar) e sua premissa é tratar questões relacionadas à mente. É um processo colaborativo baseado na relação entre um indivíduo e um psicoterapeuta. Fundamentada normalmente em uma conversa, ela tem a intenção de oferecer um ambiente de apoio, permitindo que o paciente fale abertamente com alguém que é neutro e que não estará inclinado a fazer julgamentos, muito pelo contrário, ele estará lá para ajudar.
A psicoterapia é uma ferramenta clínica séria e há muitas ramificações dela. A mais conhecida talvez seja a Terapia Cognitivo-Comportamental, criada pelo psiquiatra Aaron Beck, em 1956. Ele analisou pessoas com depressão e percebeu que elas tinham pensamentos distorcidos e negativos sobre si mesmas e sobre o mundo ao seu redor que influenciavam suas emoções e comportamentos. A proposta da TCC é ajudar o paciente a reconhecer esses pensamentos e ensinar estratégias para que ele consiga superá-los.
Portanto, a psicoterapia é um processo que exige técnica, conhecimento e uma base teórica sólida. Sua essência está na escuta qualificada, na intervenção adequada e na criação de um vínculo terapêutico confiável. No Brasil, a psicoterapia está presente na matriz de competências de apenas duas profissões: psicólogo e médico psiquiatra. Esses são os profissionais capacitados para exercer esta prática.
Por isso, faço um alerta: psicoterapia não é autoajuda, não é espiritualidade e muito menos uma escuta informal. É uma prática clínica, com riscos e benefícios. Quando mal conduzida, pode agravar sintomas, reforçar traumas, induzir falsas memórias ou causar dependência emocional. A regulamentação de quem pode exercer essa atividade precisa ser feita com muito cuidado e responsabilidade.
Hoje, no Dia do Psiquiatra, celebro não apenas esta profissão que amo, mas também o compromisso ético que nós psiquiatras temos em oferecer o melhor e mais correto tratamento para os nossos pacientes. E, para isso, precisamos de uma regulamentação baseada na ciência, com uma formação rigorosa e, acima de tudo, comprometida com o bem-estar dos pacientes.
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.