Quando falamos sobre doenças mentais, é comum pensar em um único diagnóstico, como depressão, ansiedade ou transtorno bipolar, etc. Mas você sabia que muitas pessoas podem conviver com mais de um transtorno ao mesmo tempo? Na Psiquiatria, chamamos este fenômeno de comorbidade, que acontece quando duas ou mais doenças mentais ocorrem concomitantemente.
Não são casos raros. É bastante comum que alguém com transtorno de ansiedade generalizada também tenha episódios de depressão. Ou que pessoas com transtorno bipolar também desenvolvam transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, como álcool ou drogas. Esses transtornos se influenciam mutuamente, tornando o diagnóstico e o tratamento mais complexos.
A dependência química também pode causar comorbidades e levar ao desenvolvimento de outras doenças como a esquizofrenia, por exemplo. Estudos mostram que dependentes químicos possuem muito mais chances de desenvolverem uma comorbidade psiquiátrica do que uma pessoa que não é dependente.
As comorbidades não estão restritas apenas a doenças mentais. Também é possível que pessoas que tenham um diagnóstico psiquiátrico possam ter outros diagnósticos de outras áreas clínicas. Transtornos de Ansiedade quando não tratados adequadamente podem aumentar a chance de doenças cardiovasculares.
Assim como as doenças mentais primárias, as comorbidades podem afetar diretamente a qualidade de vida da pessoa, o funcionamento no trabalho, as relações afetivas e a vida social. Quando dois ou mais transtornos atuam ao mesmo tempo, os sintomas podem ser mais intensos e duradouros.
Muitas vezes, a pessoa pode ter dificuldades em entender o que está sentindo e por que certos tratamentos não estão funcionando como esperado. Identificar com precisão e fazer o diagnóstico diferencial das comorbidades é essencial nesses casos. Isso exige uma avaliação cuidadosa feita por um profissional especializado, como um psiquiatra. O tratamento inadequado de uma condição pode levar ao agravamento de outras. Por isso o acompanhamento médico é tão importante.
O tratamento das comorbidades psiquiátricas deve ser individualizado. O psiquiatra vai considerar todos os transtornos presentes, como eles se relacionam entre si e recomendar o tratamento mais adequado para todos eles. Em muitos casos, é necessário usar uma combinação de medicamentos, além de psicoterapia, para tratar os diferentes sintomas do quadro.
Muitas pessoas hesitam em procurar ajuda por medo de serem julgadas ou mal compreendidas. Porém, o tratamento adequado é fundamental quando falamos de comorbidades psiquiátricas. Com o acompanhamento adequado, muitas pessoas conseguem controlar os sintomas, retomar suas atividades e viver com mais equilíbrio. Se precisar, peça ajuda!
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.