Em 2024, a palavra “ansiedade” foi uma das mais buscadas no Google pelos brasileiros, refletindo uma realidade cada vez mais presente em nossa sociedade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um em cada quatro indivíduos apresenta ou já apresentou um quadro de ansiedade, sendo que a prevalência em mulheres é duas vezes maior que em homens e o Brasil ocupa o posto de um dos países mais ansiosos do mundo, condição que antes da pandemia afetava 9,3% da população, e após pandemia, há estudos falando em um aumento em até 25% destes índices. Diante desse cenário, surgem perguntas frequentes: mas afinal, o que é e como lidar com a ansiedade? Seria uma forma de ser? Uma doença? Um sentimento?
A ansiedade é uma resposta natural do corpo a situações de estresse ou perigo e, em níveis moderados, é essencial para o nosso amadurecimento e sobrevivência. Sentir-se ansioso antes de um compromisso importante, por exemplo, é normal. Contudo, quando a ansiedade começa a interferir nas atividades diárias, causando sofrimento intenso e prolongado por mais de um mês, ela pode ter evoluído para um transtorno de ansiedade, ou mesmo já ter preenchido os critérios diagnósticos, caracterizando assim, uma doença.
Os transtornos de ansiedade incluem diferentes tipos. De acordo com o O DSM-V que é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, os transtornos de ansiedade são categorizados em seis tipos, porém os mais comuns são: Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), o Transtorno do Pânico, a Fobia Social, a Agorafobia e o Transtorno de Ansiedade de Separação. O TAG, por exemplo, é caracterizado por preocupações excessivas, inquietação, irritabilidade, tensão muscular e insônia. Já o Transtorno do Pânico manifesta-se em episódios súbitos e intensos de medo, acompanhados de sintomas físicos como falta de ar, dor no peito e sensação de desmaio. A Fobia Social envolve um medo irracional de ser observado ou julgado negativamente por outras pessoas, enquanto a Agorafobia é o medo de estar em locais ou situações onde seria difícil fugir ou buscar ajuda. Por fim, o Transtorno de Ansiedade de Separação está associado ao sofrimento excessivo diante da separação de alguém com forte vínculo emocional, mesmo sem motivos concretos para isso, como o medo de que algo ruim aconteça a essa pessoa.
Para identificar quando a ansiedade se torna patológica, é importante observar a intensidade e a duração dos sintomas. Ela se transforma em um transtorno quando compromete a qualidade de vida ou melhor a funcionalidade do indivíduo em seu cotidiano. O transtorno de ansiedade prejudica o trabalho, os estudos ou até mesmo os relacionamentos pessoais. Ele é considerado uma das doenças mais incapacitantes, muitas vezes se manifestando em sintomas físicos, como insônia, dores musculares e aumento da frequência cardíaca. A pessoa pode se sentir constantemente tensa, incapaz de relaxar ou concentrar-se, indicando a necessidade de intervenção especializada.
Procurar ajuda profissional é essencial para obter uma avaliação precisa e um plano de tratamento individualizado. O psicólogo clínico, especializado na na abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) utiliza técnicas que têm se mostrado eficazes ao ajudar os pacientes a identificar e modificar padrões de pensamento negativos que alimentam a ansiedade. É importante também a consulta com um médico psiquiatra para uma avaliação adequada e se necessário, pode ser sugerido o uso de medicamentos, sempre como parte de um tratamento holístico e personalizado.
No dia a dia, hábitos saudáveis, podem ajudar a lidar com a ansiedade. Técnicas de relaxamento, como a meditação, podem reduzir a tensão e melhorar o foco. A prática regular de exercícios físicos também tem efeitos positivos na saúde mental, promovendo a liberação de endorfinas, neurotransmissores que melhoram o humor e diminuem o estresse.
Se você sente que a ansiedade está comprometendo a sua qualidade de vida, não hesite em buscar ajuda especializada. Como qualquer outra condição de saúde, os transtornos de ansiedade têm tratamento e, com o acompanhamento adequado, é possível levar uma vida equilibrada, saudável e plena. Não tenha medo, não tenha vergonha, se precisar, peça ajuda! Estaremos aqui para ajudar.
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.
Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo®”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia.