Apesar de seu consumo ser amplamente aceito socialmente, os impactos negativos das bebidas alcoólicas superam qualquer possível benefício. Elas prejudicam tanto a saúde física quanto mental, além de comprometerem a qualidade de vida e o bem-estar de quem as consome e até mesmo as do seu entorno.
O início de um novo ano é tradicionalmente um momento de reflexão, quando avaliamos hábitos e nos propomos a mudanças para uma vida mais saudável. Nesse contexto, a decisão de reduzir ou eliminar o consumo de álcool aparece como uma resolução crescente e relevante. Embora beber socialmente ou ocasionalmente seja visto como algo inofensivo, é essencial questionar os impactos reais dessa prática e reavaliar sua presença na rotina.
O álcool é frequentemente associado à descontração e à socialização, mas a verdade é que ele não é indispensável para nenhum desses momentos. A ideia de que o álcool desinibe ou relaxa é um mito: na prática, ele reduz o autocontrole, tornando as pessoas mais vulneráveis a situações embaraçosas ou abusivas, além de poder levar à dependência com o tempo. A maioria dos acidentes automobilísticos, homicídios, agressões às mulheres e afogamentos em adultos estão relacionados ao uso do álcool.
Os danos físicos causados pelo consumo de álcool são amplamente conhecidos, afetando órgãos como fígado e coração, e aumentando o risco de doenças graves como cirrose, hipertensão e câncer. Além disso, seu consumo constante acelera o envelhecimento, reduz o vigor físico e afeta negativamente a aparência. No entanto, os prejuízos à saúde mental são ainda mais alarmantes. O consumo de álcool está associado a transtornos como ansiedade, depressão, insônia e comportamentos impulsivos, que podem resultar em situações negativas de consequências irreparáveis.
É preciso também desconstruir a ideia equivocada de que o álcool ajuda a dormir melhor. Na verdade, ele interfere no ciclo natural do sono, impedindo um descanso reparador. Também, usar o álcool na tentativa de lidar com o estresse ou justificar comportamentos inadequados apenas mascara os problemas, adiando a adoção de estratégias saudáveis e eficazes para enfrentar desafios emocionais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o impacto do consumo de álcool na longevidade é significativo: as mulheres perdem, em média, 1,4% de anos de vida útil devido ao consumo de álcool, enquanto os homens perdem 7,4%. Esses dados não apenas revelam a redução do tempo de vida, mas também expõem os danos cumulativos que o consumo causa ao bem-estar, à estética e ao vigor ao longo dos anos. Ademais, o álcool pode funcionar como uma espécie de chamariz na seara de outros vícios como tabagismo e drogas ilícitas.
Reduzir ou abandonar o consumo de álcool começa com uma reflexão honesta: “Por que estou bebendo? É algo que realmente desejo ou é um hábito que sigo por pressão social ou rotina?” Identificar suas motivações é essencial para criar novos hábitos. Estabelecer limites claros ou até mesmo parar imediatamente o consumo pode trazer benefícios significativos para a saúde física, mental e emocional.
Se você tem dúvidas sobre os impactos negativos do álcool, se existe quantidade segura ou os danos que ele pode causar ao organismo, o médico-psiquiatra é o profissional mais adequado para oferecer orientações fidedignas. Ele pode ajudar na adoção de estratégias e cuidados preventivos, e, caso já exista dependência, é o especialista mais capacitado para oferecer um tratamento seguro e eficaz. O acompanhamento profissional é essencial para garantir resultados positivos e promover uma mudança que seja duradoura e transformadora. Lembre-se: quanto antes buscar ajuda, maiores serão os benefícios para sua saúde e qualidade de vida.
Se você precisar, peça ajuda!
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.
Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo®”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia.