Em um mundo acelerado e hiperconectado, algo essencial tem sido negligenciado: o descanso. Longe de ser um luxo ou algo dispensável, desacelerar e permitir-se pausas é uma necessidade fundamental para a saúde do corpo e da mente. A busca incessante por produtividade nos faz acreditar que descanso é perda de tempo e que trabalhar mais é sempre melhor. Essa mentalidade, alimentada pelo estresse constante, cobranças externas e até pela pressão interna de estar sempre ocupado, cria um ciclo vicioso que compromete nosso equilíbrio.
Muitas vezes, essa pressão para fazer mais e mais é confundida com procrastinação ou até fracasso. A sensação de não dar conta pode gerar culpa, e as pessoas frequentemente acreditam que há algo de errado com elas. Porém, essa percepção não necessariamente indica preguiça ou um problema como o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Em muitos casos, trata-se simplesmente de uma sobrecarga de tarefas e responsabilidades. É impossível atender a todas as demandas ao mesmo tempo, e reconhecer essa limitação é o primeiro passo para sair desse ciclo de exaustão.
Quando não descansamos adequadamente, nosso corpo e nossa mente sofrem. Ficamos mais distraídos, nossa capacidade de concentração diminui e a memória começa a falhar. Esses lapsos de memória e atenção, muitas vezes confundidos com características de TDAH, são, na verdade, reflexos do cansaço acumulado. Sendo assim, buscar ajuda profissional de um médico psiquiatra é fundamental e importante para garantir que de fato essa condição não é uma doença. A falta de descanso prejudica diretamente as funções cognitivas, intensificando esquecimentos e erros que podem gerar frustração e afetar tanto o desempenho quanto as relações pessoais e profissionais. Além disso, esse estado de constante exaustão pode levar ao adoecimento mental, agravando problemas como ansiedade e depressão.
Outro fator que agrava essa sensação é a tentativa de assumir múltiplas tarefas ao mesmo tempo. A multitarefa, embora vista como uma habilidade valorizada, muitas vezes resulta em prejuízos ao desempenho e à saúde mental. Dividir a atenção entre diversas atividades pode comprometer a qualidade do que é feito e intensificar a sensação de sobrecarga. Por
isso, é fundamental administrar melhor as multitarefas, adotando estratégias mais realistas e positivas, como priorizar o que realmente importa, delegar quando possível e estabelecer limites claros. Dessa forma, é possível evitar os impactos negativos da exacerbação de atividades que, na maioria das vezes, acabam sendo feitas de forma apressada e
insatisfatória.
Paradoxalmente, mesmo nos momentos em que poderíamos descansar e permitir à mente uma pausa necessária, acabamos ocupando esse tempo com acessos incessantes às redes sociais e conteúdos vazios, que, na maioria das vezes, não trazem benefícios reais. Ao invés de relaxar, nos sobrecarregamos com informações inúteis, comparações e estímulos visuais que drenam ainda mais nossa energia. Esse hábito não apenas compromete nosso descanso, mas pode precipitar questões como ansiedade e insatisfação, agravando o cansaço mental e emocional.
Quando descansamos de verdade, recarregamos nossas energias e, ainda que pareça contraditório, nos tornamos mais produtivos. O descanso, no entanto, vai além de simplesmente dormir. Durante o sono, o cérebro processa informações, cria conexões e renova as energias para o dia seguinte. Sem uma boa qualidade de sono, nossa capacidade de regular emoções, lidar com o estresse e tomar decisões é afetada. Mas descansar também significa desconectar das demandas cotidianas por meio de atividades prazerosas, como ler, meditar, viajar, praticar hobbies ou estar em contato com a natureza. Esses momentos de pausa ajudam a aliviar o estresse e restabelecer o equilíbrio entre corpo e mente.
Desacelerar não significa abandonar responsabilidades, mas sim reconhecer a importância de oferecer ao corpo e à mente as pausas necessárias para manter um bom funcionamento. Isso inclui garantir noites de sono de qualidade, cultivar momentos de lazer que tragam prazer e ajustar expectativas para torná-las mais realistas e alcançáveis. Encontrar equilíbrio também passa por gerenciar as multitarefas de forma mais eficaz, respeitar os próprios limites e reduzir os excessos que comprometem o bem-estar.
Desacelerar é um ato de autocuidado essencial e não deve ser encarado como fraqueza, mas como uma escolha consciente por saúde e qualidade de vida. E lembre-se: se estiver difícil lidar com as demandas ou se sentir sobrecarregado, não hesite em buscar ajuda. Um médico psiquiatra é o profissional capacitado para identificar e tratar possíveis excessos ou
transtornos, ajudando a recuperar o equilíbrio necessário. Se precisar, peça ajuda!
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.
Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo®”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia.