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Antonio Geraldo: Comprar para preencher o vazio; quando o consumo vira vício?

Oniomania é um transtorno de compra compulsiva, que causa prejuízos significativos à vida do indivíduo

O ato de comprar faz parte da vida cotidiana. Precisamos consumir para garantir nossa sobrevivência: roupas, alimentos e objetos que facilitem nosso dia a dia. No entanto, esse hábito comum, necessário e muitas vezes prazeroso, pode ser um problema sério de doença mental. Chamamos de oniomania, ou transtorno de compra compulsiva, quando o impulso de comprar se torna incontrolável e causa prejuízos significativos à vida do indivíduo.

O termo “oniomania” vem do grego oné (aquisição) e manía (insanidade ou impulso incontrolável). Refere-se a um desejo urgente e recorrente de comprar, mesmo sem necessidade real, muitas vezes como uma tentativa de aliviar emoções negativas como tensão, ansiedade, tristeza ou frustração. O alívio proporcionado pela compra, porém, é passageiro e costuma ser seguido por sentimentos de culpa, vergonha e arrependimento.

As principais características da oniomania incluem a perda de controle sobre o ato de comprar, o aumento progressivo do número de aquisições, tentativas fracassadas de parar e a presença de comportamentos de ocultação, como esconder compras ou mentir sobre gastos. Com o tempo, essa compulsão pode gerar endividamento, conflitos  familiares, prejuízos no desempenho profissional e sofrimento emocional.

Você provavelmente já viu ou ouviu falar do filme Os delírios de consumo de Becky Bloom. Nele, a personagem principal, Rebecca, é uma compradora compulsiva que compromete sua carreira e seus vínculos pessoais por conta do descontrole. Em uma cena marcante, ela afirma: “Quando eu compro, o mundo fica melhor. E depois deixa de ser. Aí eu compro outra vez.” Essa frase traduz com precisão o ciclo do vício: um alívio breve seguido de um novo
vazio.

Embora possa atingir qualquer pessoa, a oniomania é mais frequente em mulheres e pode estar associada a fatores emocionais mais profundos. Muitas vezes, ela caminha ao lado de outros transtornos ou doenças mentais, como os transtornos do humor, transtornos da personalidade, ou transtornos de controle do impulso, o que evidencia a complexidade e a necessidade de uma avaliação do médico psiquiatra, cuidadosa e individualizada. Vale ressaltar que esse comportamento não deve ser interpretado como futilidade ou exagero, mas como um sinal de alerta legítimo.

É essencial compreender que o problema não está no ato de comprar em si, mas na perda de controle e nos impactos negativos que ele pode causar na vida da pessoa. Quando o consumo deixa de ser funcional e começa a comprometer as relações, o trabalho ou a estabilidade financeira, é hora de buscar ajuda.

A oniomania tem tratamento. A psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental (TCC), é altamente eficaz nesse processo. Através da TCC, o paciente aprende a identificar os gatilhos emocionais e contextuais que o impulsionam a comprar, desenvolve recursos para regular essas emoções e constrói estratégias para evitar recaídas. O tratamento promove mais consciência, autocontrole e autonomia diante dos impulsos.

Se você ou alguém próximo apresenta sinais de compra compulsiva, saiba que não se trata de uma falha de caráter ou de uma fraqueza moral. A incapacidade de interromper esse comportamento não significa ausência de força de vontade, mas sim a presença de um transtorno que merece acolhimento, compreensão e cuidado especializado. Procurar ajuda é um passo importante, e profundamente corajoso, para retomar o equilíbrio e reconstruir uma relação mais saudável com o consumo e com as próprias emoções.

Fique atento, se você ou um familiar precisar, peça ajuda!

*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.

Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.

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