Dr. Antônio Geraldo da Silva O sono é uma necessidade biológica fundamental, essencial para o bem-estar físico e mental de todo ser humano. Porém, quando temos situações que atrapalham o nosso sono, devemos ficar atentos. Alterações do sono, como insônia e apneia do sono, não apenas afetam a qualidade de vida, mas também estão associadas a quadros psiquiátricos como um todo, incluindo depressão, ansiedade e transtornos de humor.
A privação do sono pode dificultar a nossa capacidade de lidar com o estresse e as emoções. Pessoas que enfrentam mudanças sono frequentemente relatam um aumento na irritabilidade, dificuldade de concentração e uma sensação geral de mal-estar. Esses efeitos podem contribuir para o agravamento de doenças psiquiátricas.
Alguns quadros psiquiátricos também podem influenciar negativamente a qualidade do sono. Por exemplo, pessoas com transtorno de ansiedade muitas vezes têm dificuldade para relaxar e “silenciar” os pensamentos para dormir. Da mesma forma, a depressão pode levar a alterações nos padrões de sono, causando insônia ou hipersonia, ou seja, sono excessivo.
Em certos casos, o uso de medicamentos para dormir pode ser considerado uma solução temporária para lidar com a insônia e outros distúrbios relacionados ao sono, proporcionando alívio a curto prazo. Mas é imprescindível que esse uso seja recomendado e acompanhado por um psiquiatra, uma vez que pode ser apenas a ponta do iceberg. A automedicação e o uso inadequado desses medicamentos pode ser arriscado e levar à dependência e o pior, a cronificação de doenças que seriam facilmente tratáveis.
Os riscos associados ao uso excessivo de medicamentos para dormir não podem ser subestimados. Além da dependência, esses fármacos podem causar efeitos colaterais, como sonolência diurna, comprometimento cognitivo e alterações de memória. Por isso, é fundamental que a prescrição e o uso desses medicamentos sejam cuidadosamente avaliados por um médico psiquiatra.
Vivemos em um mundo hiperconectado e imediatista. Buscamos soluções rápidas para questões complexas e queremos tudo resolvido imediatamente. Percebemos que existem pessoas que buscam remédios para dormir não porque precisam e tem alguma alteração do sono, mas que buscam uma solução imediatista para uma questão natural ao ser humano. Mas essa prática pode ser muito prejudicial. Auto diagnosticar, tentar fazer auto tratamento, é totalmente inadequado.
Alternativas não farmacológicas podem e devem ser consideradas como parte de uma abordagem holística para o tratamento de distúrbios do sono e consequentemente da saúde mental. Psicoterapias, como a Terapia Cognitivo Comportamental, especificamente para tratar insônia, é um método eficaz para melhorar a qualidade do sono. Técnicas de relaxamento, mudanças no estilo de vida, como a prática regular de exercícios físicos e uma dieta equilibrada atuam como promoção da saúde e prevenção de doenças.
Ter uma boa higiene do sono é fundamental. A higiene do sono é um conjunto de práticas e hábitos que podemos adotar em nossa rotina para termos um sono de qualidade, essencial para a saúde mental. Essa rotina inclui criar um ambiente propício ao descanso, como manter o quarto escuro e silencioso, deitar-se e levantar-se sempre no mesmo horário todos os dias, evitar estimulantes como a cafeína de forma rotineira, deixar o celular um pouco de lado e evitar telas quando já estiver na cama, entre outras. Essas práticas ajudam a regular a qualidade do sono, mas também melhoram o bem estar como um todo.
Um sono adequado desempenha um papel fundamental na saúde mental e na qualidade de vida em geral. Quando dormimos bem, nosso humor, nossa libido E a nossa capacidade de raciocínio e memória melhoram e ficam mais equilibrados. Quando temos algum tipo de privação do sono ou dificuldades persistentes para dormir, devemos procurar um médico psiquiatra para ter um tratamento adequado. Cuidar da higiene do sono é parte fundamental de um estilo de vida saudável e faz muito bem para a nossa saúde mental.
Não podemos deixar o nosso desconhecimento e nosso preconceito prevalecer sobre o conhecimento e capacidade de lidar com as novas situações , se acontecer com você e tiver perdas, prejuízos, peça ajuda.
Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.
Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo®”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia.
