Com a chegada do inverno, é comum que muitas pessoas sintam mudanças no humor, na disposição e até na qualidade do sono. Os dias mais curtos, com menos luz natural, mexem com o funcionamento do nosso corpo e da mente. Essa relação entre a estação mais fria do ano e sintomas depressivos é reconhecida como Transtorno Afetivo Sazonal. De acordo com DSM-5, esse transtorno é identificado como um tipo de depressão.
A principal explicação para esse fenômeno está na redução da luz solar, que interfere na produção de substâncias importantes para o equilíbrio do nosso humor, como a serotonina e a melatonina. A primeira está relacionada à sensação de bem-estar e prazer, enquanto a segunda regula o sono. Quando os níveis dessas substâncias se alteram, a pessoa pode apresentar sintomas como fadiga, tristeza, alterações no sono e apetite, o que reforça os sintomas depressivos em pessoas mais vulneráveis.
Além da questão biológica, o estilo de vida durante o inverno também pode agravar esse quadro. Com o frio e os dias mais curtos, tendemos a sair menos de casa, praticar menos exercícios físicos e passar mais tempo em ambientes fechados. Esse isolamento, mesmo que não seja intencional, pode aumentar sentimentos de solidão, desânimo e irritabilidade, principalmente em quem já tem alguma doença mental ou predisposição a ter.
Pessoas com depressão, podem perceber uma piora nos sintomas durante esse período, mesmo estando em tratamento. Por isso, o acompanhamento com um psiquiatra deve ser mantido de forma contínua. Estratégias simples, como buscar exposição à luz natural,
manter uma rotina de exercícios e reforçar os laços sociais, podem fazer uma grande diferença no bem-estar.
É importante lembrar que o impacto das estações do ano não é o único fator ambiental que influencia a saúde mental. As mudanças climáticas, por exemplo, têm se mostrado um desafio crescente. O aumento das temperaturas, a ocorrência de eventos extremos e de calamidade pública como secas e enchentes somada a sensação de incerteza quanto ao futuro do planeta têm impactado a saúde mental de muita gente.
O calor excessivo, cada vez mais comum em várias regiões do mundo, também tem um efeito direto sobre a saúde mental. Estudos recentes mostram que dias muito quentes estão associados a um aumento nos casos de internações psiquiátricas e até em comportamentos de risco, como agressividade e pensamentos suicidas.
Prestar atenção aos sinais do corpo e da mente, buscar ajuda profissional quando necessário e adotar hábitos saudáveis na alimentação, praticar atividades físicas, boa qualidade do sono, são atitudes que fazem diferença para a qualidade de vida a curto e a
longo prazo. Se precisar, peça ajuda.
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.