O fim do ano é um período marcado por uma série de expectativas, responsabilidades e, muitas vezes, uma crescente sobrecarga. Para muitos, essa é uma época de celebração, mas para outros, é também um momento de grande estresse. As demandas no trabalho aumentam, as metas precisam ser alcançadas e, ao mesmo tempo, os compromissos sociais e familiares se intensificam.
Paralelamente a isto, há a necessidade de planejar o futuro e mudar este contexto para o novo ano que se inicia e que precisa ser planejado e novas metas a serem traçadas.
Como psiquiatra, vejo frequentemente pacientes apresentando sinais de exaustão mental, ansiedade e até sintomas depressivos durante essa época. O acúmulo de tarefas e a falta de descanso adequado podem impactar profundamente a saúde mental, especialmente quando não conseguimos gerenciar com qualidade essas demandas.
Nos últimos anos, a saúde mental tem ganhado destaque nas discussões sobre bem-estar, embora ainda haja um longo caminho a percorrer. A preocupação com a saúde física é amplamente difundida, mas a saúde mental é igualmente essencial para uma vida equilibrada. Qualquer pessoa pode vivenciar períodos de estresse, sobrecarga ou questões emocionais — que podem ou não estar ligadas ao trabalho. Quando esses sentimentos não recebem a devida atenção, podem prejudicar o dia a dia e, em alguns casos, evoluir para transtornos mais graves.
Tudo isto pode estar sob seu controle, a depender do seu gerenciamento de como você “estar no mundo”. Como razão de ser – “daseinsberechtigung” em alemão ou como existência – “daseins” também em alemão! Isto irá refletir no “daseinsvorsorge” bem-estar público, no qual todos estamos envolvidos na busca de um admirável mundo novo.
No Brasil, o impacto dos transtornos mentais no ambiente de trabalho tem se tornado cada vez mais evidente. Dados recentes mostram que o afastamento de servidores públicos por problemas de saúde mental é alarmante. Só no âmbito federal, cerca de 15 mil servidores foram afastados nos últimos anos, principalmente em profissões que exigem contato direto com a população, como professores, profissionais de saúde, policiais e agentes de segurança pública.
Apesar da gravidade da situação, falar sobre saúde mental no trabalho ainda é um tabu. Nestes ambientes, infelizmente, ainda é frequente a prática da PSICOFOBIA – preconceito em relação às pessoas padecentes de deficiências e das doenças mentais. Muitos têm receio de admitir que estão enfrentando dificuldades por medo do julgamento ou de que isso prejudique suas carreiras. Essa resistência está diretamente ligada à falta de acolhimento integral, onde os trabalhadores se sintam seguros para buscar ajuda sem o temor de represálias ou estigmas. Há também a crença equivocada de que procurar apoio é sinal de fraqueza, quando, na verdade, é um ato de coragem e cuidado consigo mesmo. Uma maneira correta de ser e de viver.
A transformação desse cenário começa com a conscientização. É fundamental promover ambientes de trabalho mais acolhedores e livres de estigmas, onde todos quando precisem não se sintam tolhidos para pedir por ajuda. Além de melhorar o bem-estar individual, essa mudança impacta positivamente na produtividade e na harmonia no ambiente de trabalho trazendo benefícios globais.
A inclusão de profissionais especializados, psiquiatras e outros componentes da equipe de saúde que cuidam do psicológico, no ambiente corporativo, é uma medida essencial para facilitar o acesso ao tratamento. Vale lembrar que o cuidado com a saúde mental não é apenas responsabilidade do indivíduo. Governos e organizações públicas devem implementar políticas que efetivem a promoção da saúde, prevenção de doenças e ações que tratem de saúde mental.
Cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo, aliás, são indissociáveis. O cuidado e o tratamento adequados, seja por meio de terapia ou acompanhamento psiquiátrico, é transformador. Eles proporcionam autoconhecimento, ferramentas para saber lidar com as emoções e maneiras mais saudáveis de enfrentar os desafios do dia a dia.
Se você perceber que a sobrecarga está afetando sua saúde mental, não hesite em buscar apoio profissional e fazer a intervenção o mais breve possível. Diagnósticos como ansiedade, depressão ou outras doenças mentais precisam de acompanhamento adequado. Lembre-se: pedir ajuda não é fraqueza — é um passo importante para recuperar o equilíbrio e a qualidade de vida.
Cuide-se e, se precisar, peça ajuda!
*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.
Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo®”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia.