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Antonio Geraldo: Burnout e os riscos psicossociais: a nova exigência da NR-1 e o impacto nas empresas

Segundo a OMS, esse fenômeno pode afetar qualquer profissional, independentemente do cargo ou nível hierárquico

O burnout é classificado pela CID-11 como um fenômeno ocupacional, ou seja, não se trata de uma doença em si, mas de uma condição resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho. Segundo a OMS, esse fenômeno pode afetar qualquer profissional, independentemente do cargo ou nível hierárquico.

Os sintomas costumam se manifestar de forma gradual, tornando-se mais intensos ao longo do tempo. A pessoa começa a sentir exaustão extrema, perda de motivação e interesse por suas atividades. Com o tempo, pode surgir uma irritabilidade constante, sensação de sobrecarga e, em muitos casos, um distanciamento emocional, levando o indivíduo a se sentir desconectado tanto das suas responsabilidades quanto das pessoas ao seu redor.

A principal causa do burnout é o estresse crônico, muitas vezes impulsionado por ambientes de trabalho altamente exigentes, excesso de cobranças, falta de reconhecimento e dificuldade em equilibrar a vida pessoal e profissional. Expectativas irreais e o aumento constante de responsabilidades também contribuem  significativamente para o problema. Além disso, muitos trabalhadores acabam levando o trabalho para casa ou assumindo outras responsabilidades igualmente desgastantes, como o cuidado com filhos, familiares doentes ou múltiplas funções domésticas.

De acordo com a CID-11, todos os sintomas precisam estar diretamente relacionados ao trabalho para que o diagnóstico seja considerado burnout. O Conselho Federal de Medicina (CFM) ressalta que a confirmação do diagnóstico exige uma avaliação presencial no local de trabalho, garantindo o nexo causal. Isso significa que atendimentos realizados apenas em consultório não são suficientes para atestar a relação direta entre o quadro e o ambiente
de trabalho.

Felizmente, o burnout é resolvível. A busca por ajuda profissional com o psiquiatra deve ser breve, pois o profissional pode ajudar a pessoa a entender suas emoções e encontrar formas mais saudáveis de lidar com o estresse. Toda a equipe multiprofissional ajudará na recuperação e além disso, é essencial adotar estratégias de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, como descanso adequado, prática de atividades físicas, hobbies e fortalecimento das relações sociais.

Quando não tratado adequadamente, o burnout pode piorar e transtornos mais graves podem ser desencadeados, como ansiedade e depressão. Em 2024, foram registradas 472.328 licenças médicas devido a transtornos psiquiátricos, um aumento de 68% em relação ao ano anterior. As mulheres representaram 64% dos casos. As principais doenças observadas nesses afastamentos foram transtornos de ansiedade e depressão, condições altamente incapacitantes.

Diante desse cenário preocupante, as empresas precisam se adequar às novas exigências da Norma Regulamentadora 01 (NR-1), que passou a incluir a necessidade de identificação, prevenção e gestão dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho. A partir de maio, o Ministério do Trabalho intensificará a fiscalização das condições de trabalho, exigindo que as organizações adotem medidas concretas para minimizar os impactos emocionais sobre seus funcionários.

Além de ser uma questão de saúde e qualidade de vida, essa adequação também traz impactos financeiros diretos. Os afastamentos por transtornos mentais representam um custo significativo para as empresas e para a Previdência Social, tanto em termos de produtividade quanto de encargos trabalhistas. A falta de conformidade com a NR-1 pode gerar penalidades, além de aumentar os índices de afastamento e os custos globais, tangíveis e intangíveis, associados a esses transtornos.

A prevenção do burnout e de outros transtornos relacionados ao trabalho deve ser uma prioridade nas organizações. Criar um ambiente saudável, investir em programas de saúde mental e adotar uma cultura corporativa mais humanizada são medidas essenciais para reduzir esses riscos.

Se você ou alguém que conhece apresenta sintomas de burnout, não hesite em buscar ajuda profissional. Investir no bem estar e qualidade de vida dos funcionários é um diferencial nos dias de hoje e trará resultados notáveis. Cuidar da saúde mental é um compromisso individual e coletivo, essencial para garantir um ambiente de trabalho mais equilibrado, produtivo e sustentável para todos.

Antonio Geraldo: Burnout e os riscos psicossociais: a nova exigência da NR-1 e o impacto nas empresas

*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.

Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.

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