Candidata natural à sucessão de Ibaneis Rocha (MDB) ao Palácio do Buriti, a vice-governadora Celina Leão (PP) tem se beneficiado, se assim pode ser dito, da demora na articulação da esquerda e de outros adversários para avançar e tirar do campo das ideias a possível candidatura ao Governo do Distrito Federal (GDF) em 2026. E com o aval do titular do Executivo local.
Com a esperada desincompatibilização do emedebista em abril do ano que vem, quando ele deve deixar o cargo para se candidatar ao Senado Federal, Celina terá de assumir oficialmente a principal cadeira do DF e disputar a reeleição já como governadora.
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Um ano antes dos prazos definidos pela Justiça Eleitoral, as conversas nos bastidores já estão intensas e tratam da composição de uma chapa ampla e que consiga manter a atual base de apoio de Ibaneis, ou pelo menos grande parte dela.
Além de referendada pelo governador, Celina tem a simpatia da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e de outros nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Articuladora reconhecida, Celina é evangélica e alinhada com as pautas conservadoras, o que a ajuda na conquista de grande parte do eleitorado brasiliense. Isso porque, nas últimas eleições, Bolsonaro teve a maioria dos votos no Distrito Federal.
Da mesma forma, Ibaneis foi reeleito ainda no primeiro turno, protagonizando um resultado histórico na capital.
Apesar do cenário favorável, Ibaneis e Celina sabem que, para manter o atual grupo no poder, a escolha do vice na chapa será decisiva. “Maestro” na definição da aliança, Ibaneis tem defendido um nome “técnico”, sem grandes ambições políticas e que tenha alinhamento com ambos para manter a estabilidade política no DF.
Além disso, as características ajudariam Ibaneis num possível projeto de retorno do emedebista ao Palácio do Buriti em 2030. Caso vitoriosa no ano que vem, Celina ficaria impedida de disputar novamente o GDF no pleito seguinte, conforme as atuais regras eleitorais.
Oposição
Se por um lado as articulações do atual comando do Executivo local estão a todo vapor, de outro a oposição ainda patina pela ausência de um nome competitivo e que consiga agregar integralmente a base adversária, o que evitaria a pulverização de votos na disputa.
Pelo PSB, Ricardo Cappelli deu a largada e tenta se viabilizar para garantir o apoio de outros partidos da chamada esquerda, especialmente do PT-DF. Contudo, essa investida não costuma ser fácil, conforme a história recente da capital.
Na última eleição, por exemplo, Leandro Grass, mesmo filiado ao PV, conseguiu ser validado pelos caciques petistas para disputar o governo do DF, após anos de candidaturas próprias da legenda. Mesmo com o feito, o ex-deputado distrital foi derrotado e Ibaneis acabou reeleito no primeiro turno, com 50,30% dos votos válidos.
No caso de Cappelli, caso seja oficializado na disputa política majoritária, a estrada não deve ser muito diferente daquela traçada por Grass se a intenção for pleitear a “unidade oposicionista” ao atual governo local.
O ex-interventor da segurança pública do DF, cargo que ocupou após os atos de 8 de Janeiro, deve apostar suas fichas no trabalho realizado naquele momento crítico da capital, além de, possivelmente, mirar nas críticas contra as áreas mais sensíveis do DF.
O movimento de Cappelli não exclui o do PT, já que o partido não bateu o martelo e poderá retomar o objetivo de ter protagonismo na eleição do ano que vem, especialmente para garantir um palanque para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Distrito Federal.
Com tanto tempo até o prazo final das oficializações eleitorais, outras possibilidades de candidaturas ainda podem surgir, seja na esquerda ou mesmo nas chamadas chapas avulsas.
Especulações
É o caso do atual presidente do Tribunal de Contas (TCDF), Manoel de Andrade, o qual tem sido lembrado nos bastidores e que, tudo indica, parece estar disposto a testar o nome nas urnas, embora esteja afastado da vida política há algum tempo.
Ex-presidente do Sindicato dos Taxistas do DF, Manoelzinho integrou a Câmara Legislativa (CLDF) entre 1991 e 1º de janeiro de1999, pouco antes de assumir a cadeira de conselheiro do TCDF por indicação do então governador Joaquim Roriz (in memorian).
Com a proximidade dos 75 anos, ele terá de ser aposentado de forma compulsória do cargo vitalício, o que poderá incentivá-lo a compor o enredo político local do ano que vem.
Pela ligação com o “berço do rorizismo”, como ele costuma lembrar, e a experiência dentro do TCDF e CLDF, o ex-deputado distrital poderá recorrer a esses argumentos para tentar convencer líderes partidários a garantir uma legenda para que ele possa estar na disputa majoritária local do ano que vem.
Isso, claro, se o cenário comentado nos bastidores atualmente realmente for concretizado.