As vendas do varejo na Páscoa de 2025 devem registrar queda pela primeira vez desde a pandemia. Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que o faturamento da data chegue a R$ 3,36 bilhões, o que representa uma retração de 1,4% em relação ao ano passado, já descontada a inflação.
O principal vilão deste desempenho é o chocolate, tradicional símbolo da data, cujo preço disparou 18,9% em média — o maior reajuste dos últimos 13 anos. O aumento é reflexo direto da valorização internacional do cacau e da desvalorização do real frente ao dólar, que subiu de R$ 5 para R$ 5,80 em apenas 12 meses.
Além do chocolate, outros itens típicos da celebração também pesaram mais no bolso do consumidor. A cesta de bens e serviços relacionados à Páscoa — que inclui oito produtos — teve alta média de 7,4%. Destaques para o bacalhau (+9,6%) e o azeite de oliva (+9,0%), ambos presentes nas ceias de muitas famílias brasileiras.
A queda na demanda já é percebida também nas importações: segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, a entrada de chocolates importados caiu 17,6% em março, enquanto o volume de bacalhau caiu 11,7%.
Para o economista da CNC, Fabio Bentes, os números evidenciam um consumo mais contido. “Esse comportamento está diretamente relacionado ao impacto dos preços e ao contexto econômico volátil, que tende a frear o ímpeto do consumidor mesmo em datas tradicionalmente fortes para o varejo”, afirma.
São Paulo deve liderar novamente o volume de vendas, com estimativa de movimentar R$ 923,29 milhões. Logo atrás aparecem Minas Gerais (R$ 344,06 milhões), Rio de Janeiro (R$ 237,52 milhões) e Rio Grande do Sul (R$ 194,93 milhões). Por outro lado, Bahia (-6,2%) e Rio Grande do Sul (-4,9%) são os estados com maiores retrações previstas nas vendas.
Desde 2021, o varejo brasileiro vivia uma trajetória de recuperação nas vendas de Páscoa, impulsionada pela reabertura do comércio após os efeitos da pandemia. A data, que teve desempenho semelhante ao de 2007 no auge da crise sanitária, registrou crescimentos consecutivos nos últimos anos. Essa sequência, no entanto, deverá ser interrompida em 2025.
Para o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, a combinação de fatores macroeconômicos explica o cenário atual. “O varejo está sendo pressionado por uma economia instável, influenciada por variáveis cambiais e inflação externa. Isso exige revisão constante nas estratégias do setor para manter sua competitividade”, analisa.