Débora Oliveira Da pequena Urussanga, em Santa Catarina, às mais prestigiadas salas de concerto da Europa, a trajetória do tenor Aldo Baldin (1945–1994) é tão grandiosa quanto desconhecida por muitos brasileiros. Isso começa a mudar com a estreia nacional de Aldo Baldin – Uma vida pela música, documentário dirigido por Yves Goulart, que chegou aos cinemas nesta semana após 14 anos de produção e 24 prêmios conquistados no circuito nacional e internacional.
Vencedor de um Grammy em 1981 e com mais de cem álbuns gravados, Baldin é reverenciado fora do Brasil como uma das maiores vozes líricas do século 20. No entanto, por aqui, sua história permanece em silêncio. O filme resgata essa narrativa com emoção, precisão e a participação de nomes importantes da música erudita brasileira, como o maestro Isaac Karabtchevsky, a pianista Lilian Barretto e o compositor Edino Krieger.
A ideia do projeto surgiu de maneira inesperada. Em 2009, Yves Goulart, também natural de Urussanga, descobriu por acaso um LP com a imagem da igreja matriz de sua cidade natal na capa. O cantor? Aldo Baldin. Movido pela curiosidade e pelo espanto de nunca ter ouvido falar dele, o diretor iniciou uma longa pesquisa que culminou no documentário, não apenas um resgate biográfico, mas um tributo à força do talento brasileiro além das fronteiras.
O longa mergulha na infância modesta de Baldin, seu fascínio precoce pela música e o sucesso internacional que o levou a dividir o palco com lendas como Helmuth Rilling, Dietrich Fischer-Dieskau e Sir Neville Marriner, com quem conquistou o Grammy por sua interpretação da obra A Criação, de Haydn. O filme também registra depoimentos íntimos de familiares, amigos e parceiros de palco, revelando um artista generoso, apaixonado e comprometido com sua arte.
Distribuído pela Bretz Filmes e indicado para maiores de 10 anos, o documentário percorreu pré-estreias em Nova York, Alemanha, Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis, acumulando prêmios como “Melhor Documentário” no Berlin Motion Picture Awards e no Festival Internacional Movie Awards de Roma.
Mais do que um registro sobre um talento vocal extraordinário, o filme é um convite ao reconhecimento tardio de um brasileiro que, mesmo longe dos holofotes nacionais, construiu uma carreira memorável. “Baldin representa o lado bom e criativo da alma brasileira”, afirma Yves Goulart. A viúva do cantor, Irene Flesch Baldin, completa: “Sua curta vida foi intensa como cantor e professor. O público brasileiro merece conhecer sua história de resiliência”.
Ao transformar o desejo do próprio Baldin de escrever um livro sobre sua vida em um filme-documento, Goulart eterniza não apenas a voz do tenor, mas também seu legado artístico e humano. Para quem ama música, e para quem valoriza boas histórias, Aldo Baldin – Uma vida pela música é uma descoberta imperdível, e um acerto de contas poético com a memória cultural do país.
