No filme, **Charlotte Wells** faz um recorte de seu passado, trazendo um filme de **cores juvenis** que, no fundo, encobre um texto **pungente** e **emocionante**. Na história, Charlotte Wells é a menina Sophie (Frankie Corio).
Sophie projeta numa parede imagens de 20 anos atrás. São velhas películas de filmes recentemente encontrados, talvez lembrados ou, quem sabe até, imaginados por ela; recordações suas, de quando tinha apenas 11 anos de idade, e passava uma semana de férias com seu pai em um resort, numa praia da Turquia, no final dos anos 1990.
**Sua memória é quem dita** o caminho e o ritmo de Aftersun. Aos poucos, e desordenadamente, Sophie projeta cenas dessa viagem em companhia de seu pai.
O filme se destaca, logo à primeira vista, por uma **narrativa diferenciada**. Sua trama prescinde perfeitamente de cenas impactantes de ação, conflitos, ou movimentos de causa e efeito. Aftersun **é a própria vida pulsando em silêncio**, cinema em estado bruto e poético.
Sophie, agora adulta, vê com **melancolia** o passado transbordar para muito além da simples sequência de fotogramas, e constata nas entrelinhas aquilo que, à época, não lhe parecia tão explícito. A história se utiliza do Cinema como **metalinguagem** e, silenciosamente, nos envia mensagens e emoções subliminares.
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As cenas de Aftersun, projetadas sem qualquer compromisso com a linha do tempo e tampouco preocupadas em preencher os vazios com diálogos significativos, mostram-se **grandiosas em sentimento e emoção**, e imediatamente nos deixa arrebatados pela história.
Sophie se encontra num momento de descoberta de sua sexualidade, e enfrenta problemas de interação com outros jovens. A atriz Frankie Corio faz de sua personagem uma menina **introspectiva, inteligente e esperta**, trabalhando suas muitas camadas, numa atuação brilhante, digna de uma profissional veterana.
O pai de Sophie é **Calum**, interpretado por **Paul Mescal**, jovem ator revelado na minissérie _Normal People_ – tem crítica na página do meu Instagram **@lulamattos.art** – Calum se desdobra ao máximo para proporcionar à filha a semana de férias de verão mais perfeita que pode haver. Porém, apesar de seu esforço, ele não consegue disfarçar da menina o sofrimento e a dor do estado depressivo que o atormenta gravemente.
Os diálogos e silêncios entre pai e filha são preciosos e carregados de extrema **sensibilidade**. Impossível não se ligar no que a diretora tem para nos revelar.
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Charlotte Wells, que também assina o roteiro do filme, utiliza-se de uma direção que se mostra nada convencional. Não raras vezes, sua câmera opera com movimentos bruscos, descuidados e imprecisos, filmando closes desfocados e enquadramentos esdrúxulos que nos remetem imediatamente à ideia de que o equipamento pode estar nas mãos de uma criança – a criança que Wells foi.
A trilha sonora, de tons graves e monocórdios, que reverberam infinitamente dentro da nossa cabeça, tensiona e costura toda a história, e não nos deixa esquecer, nem por um segundo, que algo de errado ainda está por acontecer.
A produção é **independente**, e o filme estreou em grandes eventos internacionais de cinema, conquistando no **Festival de Cannes de 2021** o Prêmio do Júri.
Aftersun é um **mergulho profundo e direto nos sentimentos mais recônditos da alma**, e está sendo uma das obras mais aclamadas pela crítica em 2022. Aqui, no Brasil, fato inédito se dá – apesar de ter chegado à plataforma digital MUBI (produtora e distribuidora global), Aftersun segue com grande sucesso de público, nas salas de cinema.
Corre então pra telona. **Uma experiência emocionante espera por você.**