Centenas de pessoas lotaram o principal aeroporto do Nepal, em Katmandu, nesta quinta-feira (11), para embarcar em voos para fora do país, enquanto continuava a confusão sobre quem governará a nação após protestos violentos derrubarem o primeiro-ministro, Khadga Prasad Oli. Na capital, moradores correram para comprar alimentos básicos, como arroz, vegetais e carne, quando o exército suspendeu brevemente o toque de recolher. Soldados armados guardavam as ruas, verificavam veículos e ofereciam assistência aos necessitados.
O exército do Nepal assumiu o controle da capital na noite de terça-feira (9), após dois dias de grandes protestos que deixaram a residência presidencial e os prédios do governo em chamas e forçaram o primeiro-ministro a renunciar e fugir. Muitos tentaram deixar o país depois que o aeroporto reabriu na noite de quarta-feira (10) e os voos internacionais foram retomados nesta quinta-feira.
Ninguém sabe quem comanda o Nepal
Ainda não esta claro quem assumirá o controle do governo e a busca por um líder interino continua. Quando os protestos levaram Oli a renunciar na terça-feira, o presidente cerimonial do país, Ram Chandra Poudel, pediu que ele liderasse um governo de transição até que um novo pudesse ser formado. Mas Oli fugiu de sua residência oficial e seu paradeiro não é conhecido.
Os moradores de Katmandu ficaram se perguntando quem estava no comando. “Acho que deveria haver uma eleição o mais rápido possível e novos líderes capazes de trabalhar pelo país deveriam ser eleitos. Depois de tudo isso, o que precisamos é de paz. Acho que não deveria ter havido tanta destruição, mas isso já aconteceu”, disse o empreendedor Sanu Bohara.
Os líderes dos protestos se reuniram com oficiais militares no quartel-general do exército em Katmandu na quarta-feira para discutir um líder de transição. Rehan Raj Dangal, representante dos manifestantes, disse que seu grupo propôs aos militares que Sushila Karki, ex-presidente do Supremo Tribunal, liderasse um governo interino. Sushila foi a única mulher a ocupar o cargo de presidente do Supremo Tribunal do Nepal. Outros manifestantes se opuseram à sua nomeação.
Bloqueio de redes sociais no Nepal desencadeou revolta
As manifestações com milhares de pessoas começaram na segunda-feira (8), após o governo nepalês bloquear temporariamente plataformas de redes sociais, incluindo Facebook, X e YouTube, que não se registraram junto às autoridades e não se submeteram à supervisão.
Os policiais atiraram contra os manifestantes, e os confrontos se intensificaram na terça-feira com ataques a prédios do governo. A proibição das redes sociais foi suspensa no mesmo dia, mas as manifestações continuaram, alimentadas pela raiva causada pela morte de 30 manifestantes.
Os protestos também se intensificaram para refletir um descontentamento mais amplo. Muitos jovens estão revoltados com os filhos dos líderes políticos – chamados de “nepo babies” ou “nepo kids” -, que parecem desfrutar de um estilo de vida luxuoso e vantagens, enquanto a maioria dos jovens luta por trabalho. Com o desemprego juvenil em cerca de 20% no ano passado, de acordo com o Banco Mundial, o governo estima que mais de 2 mil jovens deixam o país todos os dias em busca de trabalho.
Fogo na residência oficial do presidente do Nepal
Os manifestantes atearam fogo no prédio do parlamento, na residência presidencial, na secretaria central – que abriga os escritórios do primeiro-ministro e dos principais ministérios – e na residência oficial do primeiro-ministro. A fumaça ainda subia desses prédios até quarta-feira.
O prédio do maior veículo de comunicação do Nepal, a Kantipur Publication, também foi incendiado e danificado. Concessionárias de automóveis também foram alvo e veículos queimados eram vistos nas ruas. “Somos obrigados a ir para o exterior porque não há futuro para pessoas como nós no Nepal”, disse Asmita Poudel, que aguardava o embarque em um voo para Dubai. “Se houvesse oportunidades, todos nós ficaríamos no país.”
Militares do Nepal assumem controle do país
Os militares raramente são mobilizados no Nepal, e os soldados inicialmente permaneceram em seus quartéis enquanto a polícia perdia o controle da situação. As forças de segurança começaram a se mobilizar na terça-feira à noite, afirmando que estavam comprometidas em preservar a lei e a ordem.
O número total de mortos na violência chegou a 30, informou o Ministério da Saúde nesta quarta-feira, com 1.033 feridos. O número aumentou à medida que relatos de vítimas chegavam de outras partes do país. Na quarta-feira, soldados reprimiram uma tentativa de fuga da prisão no centro de Katmandu. Os presos da prisão principal dominaram os guardas, incendiaram prédios e tentaram fugir. Os soldados dispararam para o ar, prenderam os detentos em fuga e os transferiram para outras prisões.