A transcrição de escuta que causou o pedido de renúncia na última semana do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, do Partido Socialista, foi colocada em dúvida por advogado de um dos executivos gravados. A menção à participação do premiê para interceder a favor de uma empresa chamada Start Campus, num caso de investigação de favorecimento a negócios de lítio e hidrogênio, seria, na verdade, ao ministro da Economia, António Costa Silva.
A informação foi publicada pela CNN Portugal, no domingo, 12, após o advogado Manuel Magalhães e Silva, que representa o consultor da empresa Diogo Lacerda Machado, ter dito que o seu cliente nunca mencionou o nome do premiê. No mesmo dia, o jornal Diário de Notícias veiculou que o advogado reforçou que aquilo que se ouve na escuta é o nome António Costa Silva. “Vou repetir: ‘António Costa Silva’”, disse à publicação, e esta seria a única possível menção ao primeiro-ministro nas gravações
O Ministério Público, no entanto, segundo notícia do canal de televisão SIC, não admitiu o erro, ao contrário do que foi veiculado pela CNN. Os procuradores teriam admitido que possa haver confusão, mas defendiam que a transcrição está correta. No texto relativo à escuta, não haveria nenhuma menção de que se tratava do primeiro-ministro o nome citado.
Apesar da polêmica, a transição de governo está avançando. Nesta quarta, 15, o premiê anunciou que manterá a tutela do Ministério da Infraestrutura, depois da demissão do ministro João Galamba, um dos pivôs do escândalo. A decisão de não nomear um novo ministro foi tomada em reunião de Costa com o presidente, Marcelo Rebelo de Sousa.
A investigação que atinge Costa, um dos poucos socialistas à frente de um governo na Europa, está relacionada com suspeitas de “malversação, corrupção ativa e passiva de funcionários públicos e tráfico de influência”, na atribuição de concessões de minas de lítio e de produção de hidrogênio.
A popularidade do líder despencou após uma série de escândalos. O mais notório envolveu a companhia aérea estatal TAP, que levou à demissão de ministros e subsecretários. Conhecido como “TAPgate”, o caso estourou há quase um ano, após ter sido revelado que uma executiva de uma companhia aérea recebeu uma indenização de 500 mil euros (cerca de R$ 2,6 milhões).
Posteriormente, a funcionária assumiu a direção da empresa pública responsável pelo controle do tráfego aéreo e foi então nomeada secretária de Estado do Tesouro.