Caio Barbieri Um comunicado interno sobre uma ação social organizada pela 27ª Delegacia de Polícia (DP), no Recanto das Emas, gerou reações divergentes entre servidores da unidade e de outras delegacias.
A iniciativa, programada para o dia 28 de junho, pretende oferecer atendimentos gratuitos à comunidade, mas a forma como foram solicitadas contribuições financeiras internas causou desconforto em parte da equipe.
De acordo com mensagens compartilhadas em grupos de WhatsApp (veja abaixo), as quais o GPS|Brasília teve acesso, o delegado adjunto da unidade, Vander Braga, teria solicitado a colaboração financeira dos servidores com valores escalonados conforme o cargo e remuneração.
A primeira versão do comunicado, segundo ele, usava a expressão “contribuição compulsória”, o que levou alguns policiais a interpretarem o pedido como uma exigência. O delegado nega (leia também logo abaixo).
A cobrança variava de R$ 100 a R$ 300, a depender do cargo, com a solicitação de que os depósitos fossem feitos até o dia 15 de junho na conta pessoal do delegado adjunto via PIX.
A nota, que foi atualizada momentos após, ainda pedia que os servidores não solicitassem folga no dia do evento, já que uma Ordem de Serviço (OS) seria expedida para convocá-los a participar da ação.
Delegado garante que doações seriam voluntárias
Procurado pela reportagem, o delegado Vander Braga afirmou que a polêmica surgiu a partir de uma falha de redação no primeiro envio da mensagem.
Segundo ele, o uso do termo “compulsória” foi um equívoco interno, mas logo corrigido em uma errata.
Ele reforçou que percebeu o problema minutos após a divulgação e avisou no grupo, alegando que não poderia alterar as palavras pelo fato de o documento estar em arquivo sem acesso para edição.
“Pegaram o documento com erro e compartilharam, mesmo sabendo que logo após fizemos a correção. Sempre foi uma colaboração voluntária, como ocorre todos os anos em ações semelhantes. E a gente quer que isso seja replicado por outras delegacias, uma vez ao ano”, justificou à coluna.
Ainda na conversa, Braga também informou que os valores já depositados por três servidores foram devolvidos e que a devolução seria uma forma de reforçar o caráter facultativo dessa arrecadação.
“O termo ‘compulsória’ foi utilizado por engano e corrigido em seguida. Nosso objetivo é estreitar os laços entre a Polícia Civil e a comunidade, por meio de um evento fraterno, sem caráter obrigatório. Inclusive, devolvemos os valores de três servidores que já haviam feito doações, como forma de reforçar esse entendimento”, afirmou Braga.
Apesar da repercussão, o delegado adjunto garantiu que permanecerá com o propósito social do evento, para beneficiar a população do Recanto das Emas.
Segundo ele, já é tradição, pela própria história, realizar ações que possam reduzir os problemas vividos pelas comunidades onde costuma atuar. “Isso vem de mim, sempre foi assim”, continuou.
Repercussão
Policiais que procuraram o GPS|Brasília alegaram que a cobrança, mesmo corrigida depois, causou desconforto e preocupação quanto à forma de como a contribuição foi apresentada inicialmente.
Parte dos servidores teme que a não participação possa ser mal interpretada pela chefia da unidade, especialmente diante da previsão de convocação oficial para o dia do evento.
Além disso, alguns policiais levantaram dúvidas sobre uma possível conotação política da ação, por ser organizada na unidade chefiada por Fernando Fernandes, delegado titular e ex-deputado distrital e que sinaliza o retorno para a vida política.
Contudo, o delegado Vander Braga afastou essa possibilidade, a qual classificou como “maldosa”. “A ação é de minha responsabilidade, e faz parte de uma série de eventos que promovo ao longo da minha carreira como delegado. Não tem qualquer relação com política, e sim com o serviço social”, declarou.
O delegado disponibilizou à coluna a cópias das mensagens com a referida correção, mas, com o objetivo de não expor outros policiais, trechos da conversa não serão divulgados.
Apenas para finalizar, até a publicação desta reportagem, o delegado Fernando Fernandes, também citado no texto, não havia se pronunciado sobre o tema. O espaço segue aberto para manifestação, caso ocorra.
Veja a primeira versão do documento:
Trecho do comunicado da 27a DP, na primeira versão | Reprodução
Agora, a errata enviada logo após:
E aqui o trecho da “convocação” registrado na primeira versão:
Trecho da convocação | Reprodução
Programação do evento
A ação “Polícia Civil em Ação – Recanto Cidadão” contará com uma série de atividades abertas ao público:
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Atendimento jurídico gratuito;
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Emissão de carteiras de identidade (1ª via e renovação);
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Exposição de viaturas e equipamentos da Polícia Civil;
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Doação de cestas básicas, roupas e cobertores;
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Atendimentos de saúde com aferição de pressão e testes de glicose;
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Espaço infantil com brinquedos e atrações lúdicas;
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Atendimento especializado à mulher com equipe da unidade.
