A ex-governadora Maria de Lourdes Abadia (União Brasil) classificou a invasão das sedes dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro, como uma das cenas mais tristes vistas por ela na história de Brasília.
Durante entrevista, a pioneira na construção da cidade afirmou ter “preocupação” sobre a falta do senso democrático num momento de polarização política no país.
“Eu realmente não acreditava no que eu estava vendo. Porque foi um misto de ódio. Eu olhava como alguém vê um tsunami ou um terremoto. Você para e diz: ‘meu Deus, isso é Brasília? A nossa Brasília? A população brigando entre irmãos, por política. Cadê a democracia? De você respeitar o que eu penso […] Nós não podemos abrir mão disso. Eu fiquei muito triste, preocupada. Eu nunca tinha visto isso“.
Em momentos anteriores de politização política no Brasil, Maria de Lourdes Abadia, que se diz do centro democrático, contrariou as diretrizes do seu então partido, o PSDB, para apoiar a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Fernando Collor de Mello para o Palácio do Planalto, e, depois, de Cristovam Buarque (então PT, hoje no Cidadania) contra Valmir Campelo (então PTB) ao Governo do Distrito Federal.
“Na hora que eu apoiei a esquerda, na eleição de Collor e Lula, meu perfil é de ser de centro, sem ser Centrão, porque eu sempre votei para o bem do povo. Dali pra cá, eu nunca mais fui eleita. O meu eleitorado não se identifica com a esquerda. É um eleitorado que quer progredir, que quer emprego. Não é do quebra-quebra, da greve“, avaliou.
Primeira mulher a ocupar a principal cadeira do Palácio do Buriti, Abadia integra a história da cidade. Foi a primeira administradora (e fundadora) de Ceilândia, foi deputada constituinte e também liderou um movimento para atrair mulheres para a atuação política.
“Sou democrata, da democracia cristã. Eu sempre me identifiquei com [Franco] Montoro (ex-governador de São Paulo), que era um democrata cristão. É um espírito cristão de solidariedade, de ter um olhar para o outro“, disse.
Apoiadora de outros governos, como de Rodrigo Rollemberg (PSB), Abadia evitou criticar a gestão de Ibaneis Rocha (MDB), a quem elogiou pela conduta durante a pandemia da covid-19. Contudo, citou a condição para estar ao lado do governador num palanque eleitoral: “Teria de ter argumentos“, disse.
Sobre as derrotas, quando disputou o Senado, a Câmara dos Deputados e, recentemente a Câmara Legislativa, Abadia afirmou que a derrota “dói” e que não acredita que voltará a ocupar algum cargo eletivo futuramente.
“Os piores momentos foram quando eu não fui eleita. É muito ruim perder. Doeu. Mas acho que a população achou alguém melhor que eu“, disse.
Veja a entrevista completa: