Até a década de 1990, ao andar pelas ruas das principais capitais do País, o brasileiro encontrava uma série de bancos e caixas econômicas estaduais. Mas, a partir de 1998, no final do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, estas instituições entraram na mira dos grandes players do mercado. Muitos, endividados, sucumbiram frente ao poderio dos maiores.
O primeiro a morrer foi o Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge), privatizado em 1998 pelo governador Eduardo Azeredo e vendido ao Banco Itaú por R$ 538 milhões. Era à época, o 20° maior banco do País, com 472 agências e 7.104 funcionários, após um enxugamento radical, especialmente em termos de pessoal. Curiosamente, nos primeiros seis meses de 1999, o balanço do antigo Bemge mostrou lucro de R$ 473 milhões. Ou seja, o Itaú praticamente quitou o investimento com o lucro obtido pela estrutura existente.
Obviamente que, à época, isso não passou em branco e a grita sindical foi forte. Mas isso não impediu o desaparecimento de outras bancos. O Banco do Estado da Bahia (Baneb) foi o seguinte, custando ao Bradesco a bagatela de R$ 260 milhões, em junho de 1999. Já em 2000, desapareceu o Banco do Estado do Paraná (Banestado), que o Itaú levou por R$ 1,6 bilhão. Em 2001, o Banco do Estado de Goiás (BEG), o Banco do Estado da Paraíba (Paraiban) e o Banco do Estado de São Paulo (Banespa) acabaram nas mãos de Itaú, ABN Amro Bank e Santander. O Banco do Estado do Amazonas (BEA) foi para o Bradesco em 2002, que levou o Banco do Estado do Maranhão (BEM) em 2004.
Em 2004 também desapareceu o Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj), que foi para as mãos do Itaú. Dois anos depois, sumiram o Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe) e o Banco do Estado do Ceará (BEC), vendidos para o Banco Real e o Bradesco. Apenas em 2008 uma instituição estatal absorveu um banco estadual, quando o Banco do Brasil comprou o Banco do Estado do Piauí (BEP). No mesmo ano, desapareceu de vez o Banco do Estado do Rio Grande do Norte (Bandern), já fechado desde 1990. Em 2009, o Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) e a Nossa Caixa foram comprados pelo Banco do Brasil. Por fim, em 2018, o Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep), foi liquidado.
Depois desta fase de 20 anos de extinção, sobraram poucos bancos ligados aos estados e à União, esta controladora de Caixa Econômica, Banco do Brasil, Banco da Amazônia (Basa) e Banco do Nordeste (BNB), sem contar as instituições bancárias de fomento. No fim, sobraram apenas o Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), o Banco do Estado do Pará (Banpará), o Banco do Estado de Sergipe (Banese) e o BRB.
É importante que se acrescente um fato: junto com o desaparecimento dos bancos estaduais, sumiram também instituições privadas de peso em alguns estados, como o paranaense Bamerindus, e seu sucessor HSBC; o baiano Excel-Econômico; o mineiro Rural; e os cariocas Banco Boavista e Bozano, Simonsen. A maioria caiu nas mãos do mesmo grupo de compradores: Itaú (que absorveu ainda o poderoso Unibanco), Bradesco e Santander.
Vê-se, com este histórico, dois fatores: desde a década de 1990 havia uma predisposição para alienar os bancos estaduais e uma tendência de concentrar, nas mãos dos três gigantes – Itaú, Bradesco e Santander. E aí vem a pergunta: como o BRB está conseguindo romper esta tendência? Como o BRB ousa comprar o Banco Master que, segundo o Ranking Valor 1000, organizado pelo jornal Valor Econômico, era o 28° do País, após avançar 14 posições entre 2022 e 2023, com uma variação de seus ativos em 75,9%?
A resposta é simples: com gestão.
Há duas décadas, o BRB era exemplo de tudo, menos de boa gestão. Governadores, senadores, deputados e presidentes de partido indicavam diretores. Não era incomum ver o banco no centro de escândalos e irregularidades. As agências eram péssimas, embora contassem com pessoal dedicado. Mas os funcionários eram poucos. Tudo levava a crer que o BRB iria seguir o caminho tomado pela esmagadora maioria dos bancos estaduais e acabar sendo absorvido por um dos três bancos grandes.
Mas aí veio o governo de Ibaneis Rocha e, sob sua batuta, a visão empresarial. Em vez de ter um banco para cabide de empregos, é melhor tê-lo como gerador de recursos, já que o GDF é acionista majoritário da instituição. Buscou no mercado um nome para dirigir a instituição. E recebeu a indicação de Paulo Henrique Costa, então vice-presidente da Caixa Econômica.
A partir de 2019, o BRB deixou de ser um banco qualquer. Passou a disputar mercado, a conquistar folhas de pagamentos de estados e cidade, a investir em marketing, a adotar espaços públicos de Brasília e a gerenciá-los em conjunto com a iniciativa privada, conseguindo melhorias impensáveis. E adotou o lado social do DF, posicionando o banco em torno da população carente e da gestão de ativos invisíveis aos bancos tradicionais, como a bilhetagem do transporte público.
Se o mercado está em polvorosa com a aquisição do Banco Master, os investidores parecem que entenderam um pouco mais o movimento, pois às 16h55, o pregão da B3 cotava as ações do BRB PN a R$ 13,02, com alta de 96,63%, e as do BRB ON a R$ 13,51, variação positiva de 80,51%. Alta que chegou a bater em 100% ao longo desta segunda-feira (31). Mas o mercado não precisa temer. A negociação de R$ 2 bilhões será analisada pelos órgãos reguladores, sempre muito zelosos.
Além do fato relevante da última sexta-feira (28), é bom atentar-se que, além da compra de 58% do Banco Master, o BRB anunciou a venda de 49% da BRB Crédito, Financiamento e Investimento, nesta segunda-feira (31), por R$ 320 milhões. A financeira oferece crédito consignado e financiamento de veículos. Os compradores foram os empresários André Luís Vieira Azin, José Ricardo Lemos Rezek e CPSB Patrimonial e Participações. Isso mostra que o BRB entra capitalizado para esta nova aquisição, capaz de enfrentar eventuais turbulências que possam ser detectadas após a confirmação da aquisição.
Ou seja, mais um acerto da gestão de Ibaneis Rocha no GDF e da nomeação de Paulo Henrique Costa.