É praticamente **impossível** caminhar por **Brasília** e não se deparar com alguma placa ou obra assinada por **Paulo Octávio**. Com patrimônio que ultrapassa a casa de **um bilhão de reais**, o empreendedor que fez fama na construção civil é figura elementar à história da cidade. Assim como é, também, a **matriarca** da família. **Wilma Pereira** se basta.
Celebrando 95 anos em 2023, ela lembra de quando chegou a Brasília, em 30 de julho de 1962. Foi casada com **Cléo** por mais de 60 anos (ele faleceu em 2010) e é mãe também de **Cláudia** e **Zé Roberto**. Hoje, apesar de manter uma vida confortável, Wilma não é desconectada às demandas da comunidade. Sempre investiu em **causas sociais**.
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A **religiosidade** fica clara à primeira visita. Numa casa no **Lago Sul**, onde mora há mais de 40 anos, estátuas e imagens sacras compõem um ambiente palaciano.
Tons dourados e vermelhos se sobressaem na decoração, em um espaço que poderia lembrar um **antiquário**, se não pela presença vivaz da anfitriã, de **sorriso largo** e **abraço fácil**. Ela nos recebe com um bonito vestido preto de mangas curtas e colares com influência étnica comprados em uma esquina em Paris. As marcas das peças? Nem se lembra. Não é apegada a grifes. **Gosta do que lhe cai bem**. De Prada a brechós.
Como quem viveu bem e é feliz, Dona Wilma toca em reminiscências sem receios. **Não teme revisitar o passado**. _“Eu criei o Paulo Octávio, sei quem ele é. As coisas que falam não nos atingem. Nunca quis ele na política, apesar de que se um dia ele fosse governador dessa cidade, ela seria outra coisa. Quem cuida de empresas como ele cuida, cuida de uma cidade.”_, afirma.
Ao fim da conversa, ela entrega a **origem mineira**. O pão de queijo fumegante, ladeado com café coado passado na hora, servido em xícara ao estilo rococó, é apenas uma demonstração da personalidade **acolhedora** da pioneira, dona de uma personalidade que se agiganta ano a ano. Some à conta elegância, beleza, simpatia – e empatia, tão importante quanto. **A fórmula está pronta**: Dona Wilma, uma dama de Brasília.
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**A chegada à Capital**
_“Cléo era fãzíssimo do Juscelino Kubistchek. Acompanhamos como ele transformou Minas. Antigamente, para sair de Lavras, minha cidade, e chegar a Belo Horizonte, não havia estrada. Em uma cidade pequena, chega certo ponto que você tem alternativas: continuar exercen do seu trabalho (no caso do meu marido, a Odontologia), e depois ir para a fazenda. E nós tivemos uma visão mais ampla. Foi quando se falou em Brasília. As crianças eram pequenas. As quadras não estavam prontas. A minha, 106 Sul, já estava. A Igrejinha já estava erguida e eu morava naquele pedacinho supergostoso.”_
**Solidão? Nenhuma**
_“Naquele tempo morar em Brasília era bom porque ninguém tinha ninguém. As pessoas vinham dos seus estados e essa troca cultural era intensa, interessante. Havia um grupo enorme de pessoas amigas e que a gente conserva até hoje.”_
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**Poder**
_“A pior época de Brasília foi quando começou a política. Antes, não se falava em eleições porque o brasiliense não votava. Depois, advogados como Maurício Corrêa começaram a fazer esse movimento para que a Capital tivesse representação no Congresso. Atrapalhou muito. As pessoas eram super despreparadas, vindo de todos os lugares. Não foi bom, complicou a nossa vida.”_
**Peso da idade**
_“Até então, os 95 não me incomodaram ainda não. Deus tem sido muito bom para mim. Sempre fui uma pessoa atleta quando jovem. Joguei vôlei, fui até chamada para a seleção brasileira em BH, mas meu pai não deixou. Crescer fazendo esporte me fortaleceu. Com isso, tive essa energia. E caminhei muito.”_
**Antes, agora e depois**
_“Não digo que meu tempo foi melhor do que o de hoje. Todo tempo é bom. Eu mudei a minha vida do avesso ao chegar aqui. Trabalhei e fui uma das fundadoras da Ação Social do Planalto. Depois de anos, saí e fiquei só como conselheira. Paulo foi o primeiro a lançar, no Brasil, a alfabetização nos canteiros de obra. Ele convidou técnicos de São Paulo para avaliar porque os canteiros de obra, naquela época, tinham tantos acidentes de trabalho: era porque não sabiam ler nem escrever e porque tinham fome. Começamos a dar duas horas de aula de estudo no canteiro de obras. Hoje, todas as empresas brasileiras têm esse cuidado. E até hoje, damos café e almoço no canteiro de obras. E eu aparecia de surpresa, para conhecer essas pessoas. Às vezes, até hoje, eu como com eles. É um trabalho bonito, uma maneira de se construir uma história.”_
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**Estilo**
_“Não sou ‘compradeira’, mas sei comprar. Adoro moda. Não gosto de ‘joias de rainha’. Prefiro algo mais chique, com menos brilho e que combine com meu jeito de ser. Não ligo para grifes. Se gostar, uso. Aliás, eu nem gosto de etiqueta, corto todas porque me incomodam. A Prada é uma que adoro. Não gosto de nada discretinho, pequenininho. Não dá, não combina comigo. Eu sou grande, gosto de coisas grandes.”_
**Aprendizado**
_“A lição mais importante na vida de qualquer pessoa é sua dignidade. Ser honesto. Ser perseverante, ter liberdade para fazer as coisas e saber usar dela. A liberdade tem limite. Onde termina o seu direito começa o meu. Aí você vence os obstáculos. Seja otimista e ache que as coisas vão melhorar. O trabalho é o que vai tirar o Brasil da crise. Sou muito religiosa. Estudei em colégio de freira e, naquela época, não podíamos ler a Bíblia. Elas falavam que Bíblia era para padres. Eu só fui ler mais tarde. Veja como as mudanças são. E consegui me adaptar a elas de uma maneira menos complicada, com muito desprendimento. Só quero o que eu posso ter.”_
_*Matéria escrita por Rebeca Oliveira para a Revista GPS 19_