O clima era de festa, cheio de mulher bonita. Bee-Gees e Spice Girls, vozerio alto e animado. Na mesa, delícias de todos os tipos: balas multi-coloridas, brincos e braceletes. Veroni, claro! E taças cheias de lágrimas doces.
“Chegou o momento de fechar um ciclo, e que sorte a minha fazê-lo de um modo tão autêntico e sincero”, disse..
Uma parte da Abi fica, mas aquela que se despede, deixa não só saudades e boas memórias, mas uma grande lacuna no mercado autoral brasiliense.
O Last Dance aconteceu na residência da mãe, Valéria Leão Bittar, e a casa é um evento por si só. Decorada com felpudos displays cor-de-rosa, estofados verde neon, centros-de-mesa lúdicos e adereços comestíveis, a sensação era a de cair no sonho psicodélico, da toca do coelho direto para o País das Maravilhas. Uma mistureba de maximalismo e aconchego: pomposo sem ser afetado, ostentoso mas simpático — uma dicotomia que sempre compôs o abecedário da Abi Project.
“Vivemos dentro de um status quo extremamente roborizado, todo mundo fazendo tudo igual”, Nathália reflete. “A diversão na moda e na auto-expressão é meu modo de oferecer o disruptivo”. Serve, sem deixar migalhas: um apetite por inovação natural de quem sempre a mesa posta de autenticidade.
Da avó, Moema, veio a valentia de chamar atenção. “Ela sempre trouxe essa vanguarda, esse estilo pessoal muito definido”, referendou.
Mãe, tias, irmãs e filhas dão fôlego à inspiração. “Minha família é cheia de mulheres fortes!”, afirmou.
Não à toa, o familiar e o feminino costumavam titilar, de forma ou de outra, nas coleções Abi Project. “A linha Sagrado, desenvolvida em parceria com a Luisa Farani e a NYBD, tem um significado enorme pra mim”, continuou.
A Wallpaper também fica na memória. “Foi uma das minhas primeiras coleções e se tornou um símbolo bem icônico da marca”, recorda.
Quando ela resgata esse capítulo fechado da moda de Brasília é que a faca finca fundo: o design local não pode mais ter perdas.
Brasília é um formigueiro criativo, mas a falta de investimento e infraestrutura está sempre “metendo o pé no castelo”, esmagando o trabalho de formiguinha que é feito com tanta dedicação.
Nessa brincadeira, vamos nos acostumando à triste realidade de fechar livros tão bons da história fashion da capital.
“A moda mudou muito, no varejo, no atacado, e até na cobertura midiática, em como o cliente consome tanto o produto quanto a informação”.
Mas enquanto choramos as pitangas, Nathy tranquiliza: a partida é ácida, mas o limão é um aromático indispensável para as boas receitas — e tanto a quanto o queijo já estão na mão.
“A Abi é mais que uma grife de acessórios, ela é um literalmente um projeto, um canal de propagação dos meus valores e sentimentos”, enfatiza.
“Essa energia segue intacta, com meu trabalho de consultoria criativa, branding RP e collabs”.
Uma folha em branco para se escrever uma nova e deliciosa história.
Em suma, a Abi segue viva. Está em cada peça, em cada orelha, em cada dedo, em cada colo, em cada cabeça que arrisca a cair no mar do diferente. O autoral brasiliense não morreu, o movimento é a locomotiva da vida, a mudança é a gasolina cara que no lugar de dinheiro cobra o conforto. Seguimos de olho, seguimos querendo, e seguimos “colhendo esse amor de uma forma muito mais bonita do que esperava”.