O museu é o símbolo máximo da arte. Um espaço construído inteiramente **para que o belo seja exaltado e que desperte a sensibilidade de quem observa cada obra**. Obra essa, em sua maioria das vezes, delimitada por molduras que exclamam “_pronto, a arte acaba aqui!_”. Agora, imagine a **arte sem molduras**, da qual você vive dentro **a ponto de ela se tornar seu habitat**.
Para quem mora em **Brasília**, essa ideia é fácil de tanger. Afinal, a capital planejada manifesta **arte em cada cruzamento, em cada prédio e em cada comércio**, todos pensados cuidadosamente e com objetivos visuais e práticos que talvez nem imaginamos. E quem concebeu Brasília como arte são nomes que conhecemos, como **Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Athos Bulcão e Burle Marx**, que têm a capital do País como seu magnum opus. Capital essa que detém, ao lado de cidades como Berlim, Dubai e Singapura, o título de **cidade criativa do design**, pela **UNESCO**.
A mostra **CasaCor Brasília**, que acontece até o dia **2 de novembro**, mostra ao visitante uma ampliação no conceito de viver dentro da arte, que deixa de se limitar aos planejamentos históricos que fazem de Brasília Patrimônio Cultural da Humanidade, e **invade a casa, fazendo dela lar**. O local onde a mostra acontece já é o primeiro sinal artístico nas propostas de moradia: a **Arena BRB Mané Garrincha**, projetada pelo escritório Castro Mello Arquitetos e que representa uma das maiores obras de arte, em dimensão, presentes na capital.
É justamente o monumental estádio, através de suas características pilastras, que se une ao interior da casa no ambiente **_Lounge Arena_**, das arquitetas **Angela Feitoza e Yassmin Awwad**. Trazer referências de fora para dentro de casa é como a dupla transformou em arte aquilo que poderia ser uma simples exibição, bem como com a presença de esculturas do artista plástico Ricardo Barsuglia.
Valorizar a arte no lar também é sobre preservação. É isso que **Alê Neves e Gero Tavares** trazem no ambiente **_Pausapragma_**, que conta com uma parede de azulejos de Athos Bulcão que originalmente fazem parte da própria estrutura do Mané Garrincha. Face a face com a escolha de manter ou não os azulejos em seu projeto, a dupla deu valor à arte e decidiu preservar. Agora, o ambiente se torna inconfundível perante a presença da obra do icônico nome. Viver dentro da arte é sobre isso.
Os azulejos preto e branco enriquecem o espaço, mas isso não significa que o oposto, a fartura de cores, seja negligenciado pela CasaCor Brasília, e um belo exemplo é o ambiente **_Clube Coral_**, assinado por **Leo Romano**. Nele, os vibrantes tons de azul e vermelho, somados às acentuadas curvas das paredes criam um ambiente cinematográfico à la Stanley Kubrick e seus filmes dos anos 60 e 70. As plantas exibidas em repetição e dentro de vidros remetem a mais um exemplo da sétima arte inserida ao lar no Clube Coral: o clássico A Bela e a Fera, em que o personagem principal deveria encontrar seu verdadeiro amor antes que a última pétala caísse. De fato, um ambiente com atmosfera de alegria, paixão e arte.
A cor pode, também, ter significados profundos, até mesmo estudados por correntes da psicologia. No ambiente **_Abito Blu_**, assinado por **Elisa Fraga, Guilherme Bussamra e Marcelo Marcolino**, a paleta de azuis escuros mesclados a tons mais saturados norteiam a escolha dos demais itens e geram no visitante o sentimento de estabilidade e moderação. Nas paredes, obras de Burle Marx, Marcelus Freschet e Sônia Ebling são como representações em tela do espaço onde os mesmos estão, se tornando assim mais um exemplo das cores e da arte presentes nas diversas camadas do projeto.
A estabilidade engatilhada pelos tons azuis na Abito Blu também está presente no ambiente **_Casa Blanca 30+_, de Jorge Carneiro**, desta vez não com cores, mas sim com simbologias artísticas. O espaço exala conquista e sucesso, representado com força pelo grande bar no centro do ambiente.
O bar, com seu formato curvo à medida que se eleva, remete à história de quem mora ali. Nas fileiras mais altas, garrafas vazias são as memórias. Uma festa de formatura, um Natal em família, tudo é motivo para guardar a garrafa e, no futuro, olhar para cima com gratidão pela caminhada feita em direção ao sucesso. Nas fileiras mais baixas, as garrafas cheias simbolizam o futuro. Que festas ainda acontecerão? Que obstáculos ainda serão ultrapassados? O simbolismo que envolve Casa Blanca 30+ gera reflexões, tão comuns nas artes, muitas vezes produzidas para um aprimoramento no autoconhecimento e, consequentemente, no bem-estar.
Falamos muito sobre viver dentro da arte. Sabe quem não apenas vive dentro, mas vive pela arte? O artista. Seu habitat é trazido pelo **Studio Varanda** no ambiente **_Studio do Designer_**, com tons amarronzados, rascunhos e gatilhos visuais que contribuem para nada além da criação. “_Faça-se a luz!_”: a primeira criação segundo Gênesis é aqui reprisada, já que o ambiente iluminado – talvez o mais de toda a mostra – é mais um chamamento para a criatividade artística maquinar. No mobiliário, peças dos icônicos Jader Almeida, Sérgio Rodrigues e Guilherme Wentz se misturam a criações autorais do próprio arquiteto do ambiente, Felipe Zorzeto.
Finalizando o nosso tour pelo lar como arte, a CasaCor apresenta também a **_Farm House da SR Só Reparos_, por Choque Arquitetura e Design**. Um grande espaço com design biofílico, onde os espaços interno e externo se integram e passam o sentimento de liberdade. Morar não em uma caixa onde o que acontece do lado de fora não te atinge, até porque isso seria uma ilusão. O lado de fora é real. Em Brasília, o lado de fora é a arte, assim como, agora, o lado de dentro.
**Viver em uma obra de arte é um privilégio que está ao nosso alcance**. Como precisamos sentar e apertar o play para assistir a um filme, como precisamos nos dirigir a um museu para apreciar artes plásticas, a CasaCor é onde a arquitetura e o design alcançam seu maior papel artístico. Arte essa que pode ser levada até sua casa. Que logo se tornará um lar.
