O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), classificou como “inadequada” a fala em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou a ação militar israelense na Faixa de Gaza ao holocausto. Lula deu a declaração na Etiópia antes de embarcar de volta para o Brasil. Horas depois, o primeiro-ministro Israelense, Benjamin Netanyahu, reagiu à fala do petista e disse que convocaria o embaixador brasileiro no país para uma reprimenda.
“Independentemente da consequência diplomática, isso obviamente vai depender do posicionamento da embaixada, do próprio embaixador de reafirmar ou não essas posições do presidente, fato é que uma declaração que se mostrou inadequada. Mais uma“, declarou o deputado.
“Esperamos que no próximo pronunciamento ele Lula conserte esse equívoco”, disse ele. De acordo com o deputado, há consequências “já relevantes” da fala do presidente. Barbosa citou “repulsa” do povo israelense. “É uma fala desconexa com a realidade nossa e obviamente também não é o pensamento do parlamento”, declarou o deputado.
As comissões da Câmara ainda não foram instaladas neste ano. Quando voltarem a funcionar, Paulo Alexandre Barbosa deverá ser substituído por um novo presidente ainda a ser eleito pela Comissão de Relações Exteriores. Ele chegou ao cargo em 2023, e os chefes dos colegiados costumam ficar um ano no posto.
Ataques da oposição
Líderes da oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva criticaram o presidente neste domingo (18) por causa da declaração. O apoio a Israel se tornou recorrente em grupos de direita no Brasil nos últimos anos, enquanto a simpatia de Lula e da esquerda à causa palestina vem de décadas.
Pelo X, o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), classificou a fala como “senilidade, maldade deliberada, ignorância histórica e equívoco do ponto de vista da ética, moral e perspectiva geopolítica”.
Rasgos de senilidade,maldade deliberada,ignorância histórica e equívoco do ponto de vista da Etica, moral e perspectiva geopolítica.O Brasil voltou ….padrão PT pic.twitter.com/6QNkvkVWzi
— Rogério Marinho🇧🇷 (@rogeriosmarinho) February 18, 2024
Na mesma rede social, o presidente do PP e líder da minoria no Senado, Ciro Nogueira (PI), também condenou a fala de Lula na Etiópia. “Presidente Lula, comparar o holocausto à reação militar de Israel aos ataques terroristas que sofreu é vergonhoso. O holocausto é incomparável e não pode ser naturalizado nunca. Em nome dos brasileiros, pedimos desculpas ao mundo e a todos os judeus”, escreveu, em seu perfil no X.
Mais cedo, em entrevista a jornalistas na Etiópia, Lula fez críticas à retirada de financiamento da agência para refugiados palestinos por países ricos. Em seguida, classificou as ações israelenses na Faixa de Gaza como genocídio e mencionou o extermínio de judeus por Adolf Hitler.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”, declarou Lula.
A comparação com a política de extermínio de judeus capitaneada por Adolf Hitler é forte porque Israel é um Estado que foi fundado por judeus com o apoio das potências que derrotaram a Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão imperialista na Segunda Guerra Mundial. O território, antes, era habitado por palestinos.
Lula é crítico contumaz das ações militares de Israel na Faixa de Gaza. O atual ciclo de hostilidades escalou no fim do ano passado, depois de o Hamas realizar uma série de atentados em território israelense. O petista já disse publicamente que considera a reação israelense desproporcional.