Um dos maiores milagres da vida é o nascimento. Para existir, respirar e ser alguém, todos tiveram de passar por essa experiência. Nova e transformadora, para o bebê e para a mãe, quando nasce uma vida, nasce esperança. E é essa melodia de esperança que o Coletivo Pupa, um time de fotógrafas experientes, registra diariamente. São quatro mulheres, duas delas mães (a Mari e a Sol), que já trabalhavam com partos humanizados, mas decidiram juntar-se a fim de atender melhor suas clientes e levar um estilo de vida mais saudável e de maior autocuidado.
Marianna Cardoso (@maricardosofotografiadeparto), Thassia Solrac Said ( Sol Said) (@contodeparto), Ana Carolina Resende (@entrepelajanela) e Samantha Silveira (@sa.silveira) uniram forças e trouxeram para a área da fotografia de parto humanizado o cuidado mútuo — até porque a rotina das fotógrafas não é fácil. “Sozinhas acabamos nos perdendo entre noites em claro, muitas vezes seguidas, e acreditamos em partos gentis e transformadores e precisamos estar saudáveis e tranquilas para conseguir oferecer o melhor de nós para contar sua história. Juntas somos mais fortes e trabalhando em grupo ajudamos umas as outras. Todas trabalham e todas descansam — e todas também recebem”, explicam as profissionais.
A ideia do coletivo surgiu depois de as quatro fotógrafas tornarem-se individualmente referências em Brasília. Por conta da alta procura, passaram a sofrer com a disponibilidade e, unindo-se, o objetivo foi “aliviar o ônus de não saber que horas teríamos que sair de casa, podendo ter uma vida pessoal mais próxima da realidade”, destacam. Antes, de se tornar oficial, as quatro já se ajudavam como “backups”, a forma que costumam se chamar caso alguém não possa comparecer e uma delas possa render a amiga. “Agora, somos quatro juntas e nos revezamos conforme os partos acontecem. Dessa forma, conseguimos viver os processos de descanso necessários para entregar cada vez mais a qualidade que as famílias merecem”.
“Percebemos que estávamos mais juntas do que parecia e então decidimos formalizar o vínculo e tem sido magnífico viver uma dinâmica estruturada, tornando a nossa permanência no mercado que a gente acredita (parto humanizado) mais sustentável em amplos sentidos”, comentam sobre a união oficial que resultou no Coletivo Pupa.
E o nome do coletivo traz um significado mais bonito ainda dentro do contexto do parto humanizado. Pupa é a fase em que a lagarta fica no casulo para, então, se tornar uma borboleta. Por isso, as fotógrafas optaram pelo naming, afinal, é um processo muito semelhante ao da formação humana. “É exatamente o que acontece com a mulher no processo do parto: ela se recolhe, se organiza, se transforma e então, dá à luz ao seu bebê”.
O registro de um momento tão esplêndido e importante na vida de uma família, sempre foi registrado com muito carinho e respeito pelas fotógrafas Marianna, Sol, Carol e Sa. Para as quatro, o nascimento é uma verdadeira poesia por si só e, por isso, as fotos acabam tornando-se naturalmente a expressão artística da vida.
“Ver uma mulher gestar e parir é um experiência única e especial. É inevitável não levar para um lado poético. Estamos entregando nosso tempo e nossa bagagem artística para ela enquanto ela nos confia sua memória mais valiosa, a sua experiência mais transformadora. A atmosfera que se cria em um cenário de parto é alimentada por uma atmosfera de transformação que traz uma vida ao mundo, como mulher não tem como sair a mesma. A gente sai se sentindo capaz de tudo. Para duas de nós (Mari e Sol) que já vivemos essa experiência na pele, é uma sensação especial de reviver aquele momento tão potente e que nos transformou de dentro para fora. É a oportunidade de acolher nossas clientes que estão no momento delas”, declaram.
O respeito pela vida que chega
Há sim uma diferença entre fotógrafas de parto e outros profissionais. Há uma delicadeza, um cuidado no nascimento que é necessário ter experiência para passá-lo para as imagens. Um dos maiores diferenciais, por exemplo, é a paciência. Enquanto um fotógrafo comum registra uma sessão de fotos ou até mesmo um casamento em no máximo 8h, uma fotógrafa de parto pode ficar à espera junto com a família por mais de 24h.
“Nós, como profissionais que escolheram registrar partos, vamos com o mesmo respeito que todo movimento da humanização se baseia. Sabemos que um parto pode durar uma ou muitas horas, sabemos que pode ser escuro e que devemos ser quase invisíveis. Tentaremos ao máximo não perder um momento bonito, mas jamais desrespeitar a parturiente e o ambiente de parto em prol da foto tecnicamente perfeita”, iniciam.
Para além das horas, é um universo que precisa de seus próprios conhecimentos até mesmo na área médica a fim de evitar constrangimentos e estar em sintonia com as vontades da mãe e colaborar com a equipe do parto, como médicos, enfermeiros e doulas.
E o grande diferencial do Coletivo Pupa é exatamente esse. Para além da fotografia, o envolvimento no universo da humanização e a experiência contam muito. “O diferencial do nosso trabalho gira em torno de ter quatro fotógrafas que por si só já eram referência na cidade à disposição da família. A comunicação entre nós segue protocolos muito bem pensados, proporcionando assim, mais segurança para a família com relação aos registros do nascimento do bebê. Somos muito conscientes das necessidades fisiológicas do parto e isso influencia totalmente na nossa postura e material feito. Além disso, conhecemos equipes e conseguimos nos comunicar de forma técnica com elas, deixando a família mais aliviada sem precisar se incomodar”, contam.
A importância do registro
“É terapêutico”, descrevem as fotógrafas. Registrar o parto é um trabalho cheio de significado e propósito, e é na gratidão das famílias que as quatro profissionais se alegram pelo resultado de seu trabalho.
Que a fotografia é um registro que ultrapassa o tempo, todos sabemos. Mas a fotografia de parto é uma forma de conectar a criança, o adolescente e, depois, o adulto a si mesmo. É a chance de se ver no momento mais marcante de nossas vidas já que sem ele, nada em seguida existiria. “O bebê poder ter acesso vitalício ao momento em que ele nasceu, a esfera emocional que se fez nesse tempo em que ele chegou. Ter algo assim em mãos e acessível é capaz de curar feridas e unir pessoas”, relatam.
Além, claro, da memória da família, principalmente a mãe, que enquanto esteve no momento do parto viveu momentos tão intensos e pode até ter perdidos detalhes dos quais gostaria de se lembrar para o resto da vida. “É muito comum termos feedbacks de agradecimentos por acessar momentos que não ficaram na memória da mulher durante o parto ou que ficaram de forma negativa. Além de visitar lembranças, é possível também ressignificar o que ficou marcado de uma vivência tão intensa.”
Conheça cada fotógrafa e o porquê de cada uma ter escolhido o nicho do parto humanizado para trabalhar:
- Mari Cardoso (Marianna Cardoso @maricardosofotografiadeparto)
“Trabalho com fotografia de parto há 9 anos. Escolhi a profissão por querer transformar, por meio da fotografia, o cenário de parto que encontrei — não muito bom na época — ao ter minha primeira filha. Nasceu uma fotógrafa, nasceu a minha filha mais velha e nasceu uma mãe! Me sinto satisfeita com o resultado desse trabalho que venho construindo ao longo dos anos e considero que contribui muito para a mudança desse cenário do parto dos últimos anos, desde a mudança de mente de profissionais de saúde em formação até a vida das mulheres que se permitiram e ainda se permitem viver a potência de seus corpos em um parto.”
- Sol Said (Thassia Solrac Said @contodeparto)
“Meu sonho era na verdade ser parteira. Porém, a vida aconteceu diferente para mim e por ser muito ativa e criativa, explorei a fotografia muito cedo, mas sempre de olho em conteúdos de parto, despretensiosamente, mesmo antes de ser mãe. Uni, então, as duas coisas que eu amo: fotografia e partos. Foi uma decisão muito acertada e encontrei pessoas incríveis no caminho. Vivi histórias muito especiais com elas.”
- Carol Resende (Ana Carolina Resende @entrepelajanela)
“Trabalho com fotografia de parto desde 2019. Me formei em Audiovisual na UnB e trabalhava com cinema, eventos culturais e teatro desde 2015, focada na fotografia e filmagem. Porém, em 2019 entrei no mundo dos partos a convite de uma amiga doula que conheci na época em que estudava Pedagogia. Desde então nunca mais saí desse mundo. Me encanta a verdade que o mundo do parto nos permite capturar. As fotos tem um caráter mais documental e isso me chamou a atenção. Poder observar a vida acontecer na minha frente, estar presente em momentos de pura vulnerabilidade e a maior entrega de uma mulher me faz ver a beleza sempre que trabalho. Isso é de um enorme privilégio. Meu objetivo é sempre que possível encontrar os detalhes, as trocas… contar a história do jeito que ela é para a família. Poder eternizar cada um desses olhares, palavras trocadas por meio dos registros tem feito muito sentido para mim, por isso escolhi ser fotógrafa de parto. Apesar das grandes dificuldades de rotina, imprevisibilidade e ansiedade que desperta, via mais pontos positivos. No entanto, agora que estamos em coletivo, o trabalho tem ficado ainda mais precioso.”
- Sá Silveira (Samantha Silveira @sa.silveira)
“O primeiro parto que fotografei foi justamente de uma médica obstetra que defende a humanização. Acompanhei a gestação e a chegada do primeiro filho dela há 9 anos. Saí da sala de parto achando toda mulher incrível e, claro, isso reverberou em mim. Desde então estudo conteúdos sobre o tema e fui mergulhando cada vez mais na fotografia de parto.”