Brasília, ícone da modernidade arquitetônica e do urbanismo visionário, se prepara para receber, de 4 a 6 de setembro, a Conferência Internacional CAU 2025. Promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), o encontro ocupará o Centro de Eventos e Convenções Brasil 21 com debates que prometem atravessar fronteiras, unindo especialistas nacionais e internacionais em torno do tema “Arquitetura e Urbanismo para todos”.
O GPS|Brasília conversou com dois nomes que estarão presentes, a arquiteta e urbanista Ariadne dos Santos Daher, sócia da Jaime Lerner Arquitetos Associados, e o arquiteto Daniel Mangabeira, sócio do Bloco Arquitetos e ex-presidente do CAU-DF. Ambos ressaltaram a relevância do evento para ampliar o alcance das discussões sobre as cidades brasileiras e a urgência de levar o debate para além dos círculos técnicos.
Para Ariadne Daher, o encontro é “uma preciosa oportunidade de diálogo e aprendizado mútuo que pode ajudar a se traduzir naquilo que mais importa, que é fazer cidades melhores para as pessoas e mais leves ao planeta”. A arquiteta e urbanista é uma das vozes de destaque na conferência e acredita que um fórum desse porte está em sua capacidade de conectar realidades distintas e promover trocas efetivas.
Com uma trajetória marcada por projetos estratégicos e experiências internacionais, Ariadne defende que as pautas mais urgentes passam pela escala humana, pela gestão pública eficiente e por soluções sustentáveis que respeitem as condicionantes ambientais. Ela reforça a importância de que o encontro seja um catalisador para ações concretas. “Espero que essa oportunidade de ter contato com um panorama tão amplo de iniciativas encoraje profissionais e atores públicos a sair da inércia que por vezes encontramos e ousar colocar ideias em prática: nas palavras do nosso mestre Jaime Lerner, ‘inovar é começar’”.

Orla do Guaíba, Trecho 3 – Parque Jaime Lerner
Entre os temas que considera transversais e prioritários, a arquiteta destaca o fortalecimento da escala humana nas cidades, o aproveitamento dos instrumentos urbanísticos já disponíveis, a mobilidade integrada e o respeito ao meio ambiente como diretrizes para um crescimento equilibrado. Ela também propõe a adoção de “acupunturas urbanas”, intervenções estratégicas, ágeis e precisas no território, e o conceito de “cidades integrativas”, que, segundo ela, olham para a cidade como um organismo vivo e para seus cidadãos como “participantes ativos em seus processos de melhoria”.
Ao comentar sobre Brasília, cidade-sede da conferência, Ariadne reconhece seu valor simbólico e os desafios que carrega. “Brasília materializa uma vanguarda histórica do seu tempo, que foi a cidade modernista, traduzindo em sua linguagem urbana e arquitetônica as crenças de um momento de ruptura e novas possibilidades”, afirma. Para ela, o desafio está em preservar essa herança e, ao mesmo tempo, adaptá-la às demandas contemporâneas, estendendo a qualidade de vida do Plano Piloto aos demais territórios do Distrito Federal.
Com experiência em diferentes contextos urbanos, Ariadne acredita que o Brasil tem contribuições valiosas para o debate global sobre cidades mais sustentáveis e inclusivas. Ela cita como exemplos ações de mobilidade em Fortaleza e Joinville, políticas que priorizam a infância em Boa Vista e projetos que unem patrimônio e tecnologia, como o Porto Digital, em Recife. Para a arquiteta, iniciativas assim mostram que é possível construir um futuro urbano mais humano e integrado.

Projeto Parque das Palafitas, Santos (SP)
Já para o arquiteto Daniel Mangabeira, a conferência que desembarca em Brasília é a chance de ampliar o debate sobre o futuro das cidades. “É muito importante que o CAU seja um vetor de discussão a respeito do desenvolvimento das cidades. Não apenas arquitetos, mas geógrafos e outros profissionais também envolvidos nesse desenvolvimento, na criação, ampliação, modificação e adaptação das cidades. É importante que essa discussão seja feita de maneira abrangente, envolvendo também os políticos que legislam para o crescimento das cidades”, afirma.
O arquiteto defende que é hora de levar o tema para além dos fóruns técnicos. “O que a gente tem que fazer é tirar a discussão que envolve qualquer assunto relativo à cidade da bolha dos arquitetos e urbanistas. Nós, profissionais, precisamos entender que somos apenas um entre tantos que são responsáveis pelo desenvolvimento dessas malhas urbanas, desses centros urbanos e não urbanos. A expectativa é de que essa conferência seja compreendida e divulgada para além dos assuntos que interessam apenas à nossa categoria”, explica o arquiteto.
Para Mangabeira, a escolha de Brasília como palco da conferência é significativa, mas o debate não pode se restringir à capital. “Brasília é patrimônio da humanidade, mas está dentro de um contexto econômico, social e político nacional. Muitos problemas que Brasília tem existem em outras cidades de mesmo porte. É importante que essa discussão não se restrinja apenas à nossa cidade e que seja ampliada para cidades em constante crescimento, muitas vezes com desenvolvimento urbano não programado ou pensado para o futuro.”

Casa Aresta
O arquiteto defende um planejamento de longo prazo. “A gente tem que pensar não daqui a 30 ou 40 anos, mas imaginar como serão as cidades daqui a 100 anos. Precisarão sofrer alterações e modificações agora. Brasília acertou em muitos aspectos e errou em outros. O que temos que aprender com a cidade é o que deu certo e o que deu errado”, analisa.
Além de ser palco da conferência, Brasília será também personagem do debate organizado pelo CAU, que abordará temas como emergência climática, moradia digna, inteligência artificial aplicada ao urbanismo, mobilidade e preservação do patrimônio. Para Daniel Mangabeira, sediar um evento dessa magnitude fora de polos como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte é estratégico e também um convite para valorizar a produção arquitetônica contemporânea brasileira, marcada pela diversidade regional e pela qualidade criativa.
“Brasília é um chamariz para arquitetos do mundo todo. Mostrar a produção contemporânea brasileira, que é de extrema qualidade, é importantíssimo. A arquitetura brasileira está sendo desenvolvida de maneira muito heterogênea no país inteiro, até porque o Brasil é continental. Ainda precisamos de mais profissionais de outros locais, mas é muito feliz estarmos representando Brasília e, de certa forma, o Brasil nesse evento, que é uma semente para encontros maiores, espero eu”, afirma.

Casa + Ubatuba
Serviço
Conferência Internacional CAU 2025
Data: 4 a 6 de setembro de 2025
Local: Centro de Convenções e Eventos Brasil 21, Brasília/DF
Ingressos a partir de R$ 90 + taxas no Sympla
Mais informações e inscrições: caubr.gov.br/cauconference2025