Marcella Oliveira São Paulo nunca para, e a gastronomia também não. Nesta edição do Explora SP, reunimos novidades que vão de menus sazonais a festivais, novas casas e experiências imersivas. Uma seleção para quem gosta de comer bem, conhecer propostas autorais e se surpreender à mesa.
Dagoberto Torres no Copan
O chef colombiano Dagoberto Torres, reconhecido pelo trabalho preciso com pescados no premiado Barú, realiza um antigo sonho: abrir um restaurante no Copan. No Brisa, o centro histórico é cenário para um conceito leve, democrático e vibrante, onde peixes e frutos do mar continuam a brilhar, mas dividem espaço com carnes suínas, bovinas e aves. Na grelha, Torres explora combinações ousadas, como o bocadito de atum com chicharrón de frango, e receitas que transitam entre a técnica e a intuição.
O cardápio é conciso: apenas 12 pratos, número que se repete no total de lugares disponíveis no salão. A proposta intimista ganha reforço com pequenas áreas de espera, onde já é possível começar a experiência com drinques e petiscos. Entre os destaques, mexilhões recheados com arroz de jasmim e ceviches de camarão equatoriano ou de vieira com mexilhão, sempre com a assinatura cosmopolita de Torres, que se define como latino-americano, mas não preso a fronteiras gastronômicas.
No bar, coquetéis com acento latino dividem a carta com rótulos de pequenos produtores e um inusitado destaque para o saquê, pensado para dialogar com a grelha e a frescor do menu. O ambiente, assinado por Carlos Tavares, combina ferro, concreto e detalhes em ladrilho que remetem ao mar, traduzindo em arquitetura o espírito arejado e afetivo do Brisa.
Mexilhões recheados de arroz de jasmim do Brisa | Foto: Rubens Kato
Fondue com sotaque brasileiro
No coração verde do Parque Ibirapuera, o Selvagem apresenta sua versão de fondue para os meses frios: a Fondue Sabores do Brasil. Em parceria com a Brinox, o chef Filipe Leite revisita o clássico suíço com ingredientes nacionais e apresentação caprichada. O de queijo Catupiry® Apeti vem acompanhado de pão, batata bolinha, tomatinhos, palmito pupunha grelhado, abóbora e linguiça de cordeiro. Já o de chocolate artesanal é servido com frutas frescas, brownie e uma palha italiana de limão-siciliano que acrescenta frescor à doçura intensa.
O cliente pode escolher apenas um fondue ou o combo completo, que inclui uma garrafa de vinho Zahil, seja o Bianco di Toscana ou o Sangiovese di Toscana.
Instalado no Portão 5 do parque, o restaurante, que é dos mesmos sócios do Vista São Paulo, privilegia ingredientes de origem brasileira, grelha e preparos rústicos, em um ambiente integrado à natureza. É cozinha autoral com DNA nacional, feita para ser apreciada sem pressa, enquanto se observa a copa das árvores do Ibirapuera.
Fondue do Selvagem, no Ibirapuera | Foto: divulgação
Dez anos de história
Celebrando dez anos de trajetória, o Nino Cucina inicia uma nova fase com a introdução de menus-degustação semanais. Sempre às terças-feiras, o chef Marco Renzetti propõe uma experiência em quatro tempos (R$ 350), que pode incluir receitas como polenta bianca com ragù de cogumelos, paccheri alla puttanesca e o Tiramisù Nino 2.0, mudando a cada semana e com harmonizações sugeridas pela sommelière Erika Renzetti.
O restaurante também recebe, em 19 de agosto, o chef Francesco Brutto, do Venissa (Veneza), para um jantar a quatro mãos. Conhecido por sua cozinha sustentável e premiado com estrela verde e estrela Michelin, Brutto une seu estilo ao de Renzetti em um menu de cinco tempos (R$ 560), com harmonização opcional.
Essa programação integra uma série de colaborações com grandes nomes, que já trouxe à casa chefs como Ciro Scamardella e Manu Buffara. O Nino se firma, assim, não apenas como referência em cozinha italiana contemporânea, mas como palco de trocas e conexões gastronômicas de alto nível.
Salão do Nino Cucina | Foto: divulgação
Dois omakases, duas jornadas
No Ryo, cada horário do dia conta uma história diferente à mesa. No almoço, o omakase é mais enxuto (em sete tempos) e pensado para ser leve. O cardápio muda a cada quatro meses, seguindo a sazonalidade dos pescados. Entre os destaques, o Shiromi Sashimi com gelatina de ponzu e uni, vieiras com molho de tomate fermentado e tiradito nikkei com purê de batata-doce laranja e crocante de arroz. No capítulo quente, brilham o tempurá de peixe branco com dashi de shoyu e dedo de moça e o Suzuki com beurre blanc e nori. A experiência culmina em sushis frescos escolhidos pelo chef e fecha com sobremesa delicada: sorvete do dia com crumble de amêndoas e tuile de leite. O menu sai por R$ 750, com harmonização opcional (R$ 590) entre vinhos e saquês.
À noite, a atmosfera muda e o omakase de inverno, com 13 tempos, se revela mais intenso e robusto. Inspirado nas culturas japonesa, nikkei e nippo-brasileira, o chef Edson Yamashita combina ingredientes marcantes como foie gras, ouriço-do-mar, chimarrão e zimbro a pescados da estação e carnes em preparos quentes e frios. Entre as criações, o Tiradito Nikkey Nippo-Brasileiro com olho de boi e arroz crocante, a garoupa com molho gomadare e o Kamo Kimo no Chawanmushi, que troca o creme de ovo pelo foie gras. Há ainda pratos autorais como Yaki Nassu com missô, berinjela e katsuobushi, ou a trilha com caldo cremoso de ouriço e pó de chimarrão.
A sobremesa segue o mesmo rigor criativo: entremet de abóbora com creme de leite de cabra e sorvete de iogurte, seguido por petit fours e um bombom de chimarrão. O jantar custa R$ 1.290 por pessoa, com harmonização Standard (R$ 750) ou Premium (R$ 1.100), ambas com vinhos nacionais e internacionais, além de saquês.
Kisetsu sashimi, do RYO | Foto: Kenzo Sanematsu
Boca a Boca, tapas & vinhos boutique
No dia 26 de agosto, às 19h30, o Torero Valese arma uma noite de tapas e taças em parceria com a importadora Boca a Boca, de Juliana Hage (Le Cordon Bleu, École du Vin). A proposta é didática e hedonista ao mesmo tempo: apresentar rótulos de pequenos produtores lado a lado de uma cozinha que prima por técnica, produto e sabor.
Na mesa, o Jamon Ibérico Pata Negra (24 meses) com pan tumaca abre os trabalhos acompanhado do Nat Charmat Brut Nature (Vinyes Ocults). A milanesa de atum gordo (tomaca, picles de pepino, maionese de wasabi, brioche) encontra textura e perfume no Viognier Vinyes Ocults; fruta madura e corpo abraçam o untuoso do peixe sem perder vivacidade do picles. O taco de bochecha suína (dijon em grãos, aioli, picles de rabanete, sriracha) conversa com o Gran Reserva Miguel Minni Décimo Petit Verdot: tanino firme, especiarias e acidez seguram colágeno e calor da pimenta.
Para fechar, a Paella Mar & Montanha (arroz bomba da Mantiqueira, caldo suíno rico, chistorra, cogumelos, frango caipira e mini lulas) pede estrutura, entra o Gran Malbec Vinyes Ocults, que sustenta defumado e umami sem sobrepor o mar. O encontro acontece na Av. Horácio Lafer, 638 (Itaim Bibi). O valor é de R$ 250 por pessoa, incluindo degustação e tapas, com vagas limitadas e reservas pelo link na bio no perfil do Instagram.
Paella Mar & Terra do Toreto | Foto: divulgação
Degustação em sete tempos
Claude Troisgros comemora 45 anos de Brasil lançando o primeiro menu degustação do Chez Claude. A experiência, em sete tempos, é um passeio pela trajetória do chef, unindo clássicos e criações recentes. A ostra com tucupi abre a sequência, seguida pelo atum com melancia e caviar, e pela vieira com gohan, pupunha e dashi de cebola. O salmão com creme de azedinha, receita de família desde 1968, mantém o elo com a tradição.
O magret de pato com risoni ao molho de laranja e pimenta verde encerra a parte salgada, precedendo o granité de champagne cassis e a mousse de chocolate com azeite, farofa e flor de sal. A harmonização opcional percorre rótulos como Mataojo Albariño e Sandeman Tawny 10 anos, realçando nuances de cada prato.
A proposta é um convite para revisitar o repertório de Claude sob nova perspectiva, em uma cozinha que absorve influências globais sem perder a essência autoral. Reservas são indispensáveis, já que todos à mesa precisam participar da experiência.
Magret, risoni, laranja e poivre vert do Chez Claude | Foto: divulgação
Sopro mediterrâneo nos Jardins
Recém-inaugurada, a Osteria e Caffè Sardegna leva aos Jardins a essência da ilha italiana que inspira seu nome. O espaço é dividido entre o caffè, com operação contínua das 10h às 23h e cardápio para todas as horas, e a osteria, dedicada a pratos que mesclam tradição sarda, ingredientes frescos e técnicas contemporâneas.
Receitas como a fritti della Costa Sarda, amatriciana di mare e lasanha de camarão exaltam a ligação da ilha com peixes e frutos do mar, enquanto sugestões vegetais como zucchine fritte e tábuas de queijos e embutidos celebram produtos artesanais. Entre os clássicos, a lasagna alla bolognese e a cotoletta alla milanese garantem conforto à mesa. Para a sobremesa, o biscoito con gelato, cookie gigante com sorvete fior di latte, é pedida certeira.
A ambientação valoriza a esquina arborizada onde a casa está instalada, com deck de madeira e mobiliário assinado. No comando, os chefs Simone Manfrin e Pedro Marinho unem experiência internacional e respeito à sazonalidade, criando um endereço que convida a viver sem pressa, entre um spritz de mirto e um prato de massa fresca.
Osteria Sardegna | Foto: divulgação
Jantar imersivo “Entre o Céu e a Terra”
Às sextas-feiras, entre 15 de agosto e 3 de outubro, o OCanto transforma a Vila Madalena numa viagem sensorial inspirada na Fazenda Bananal, em Paraty. A chef Fernanda Valdívia conduz um menu em seis tempos que narra as fases do dia com ingredientes da Mata Atlântica e técnicas que respeitam tempo, sazonalidade e terroir brasileiro. O percurso passa por combinações como muda de sucrine com emulsão de cambuci e “orvalho” de cacau, gema de tainha com creme de pupunha e sururu, e pato laqueado em cajuína com dumpling de camarão em caldo de tucupi.
Cada etapa chega afinada com bebidas brasileiras: drinques autorais (Funghi Martini, Curraleiro Fashioned), vinhos e licores selecionados para sublinhar textura e acidez de cada prato. A sobremesa “Lua Cheia” arremata com torta de banana, doce de leite, baunilha e chocolate — um fechamento confortavelmente doce, sem perder o frescor.
A experiência custa R$ 700 por pessoa e inclui harmonização completa. Há versões veganas e harmonização sem álcool, com reservas via WhatsApp (11) 93222-0808.
OCanto apresenta menu degustação | Foto: divulgação
FoodSpot 10 anos no Boulevard do Iguatemi São Paulo
Nos dias 16 e 17 de agosto, o FoodSpot comemora uma década ocupando o boulevard do Iguatemi São Paulo com algumas das casas mais premiadas da cidade. Entre os destaques, o Ama.zo (eleito melhor peruano pela Prazeres da Mesa), o Borgo Mooca e o Kazuo (presentes no Michelin Guide), além da Zdeli (melhor hamburgueria pelo prêmio Nossa UOL). É o tipo de festival para circular, escolher pratos exclusivos criados para a ocasião e montar sua própria “degustação” de cozinhas. A atmosfera mistura música ao vivo, apresentações circenses e atividades para crianças.
Neste fim de semana tem Food Spot no Iguatemi São Paulo | Foto: divulgação
Emiliano Market Day nos Jardins
No domingo, 17 de agosto (11h–17h), a Rua Oscar Freire recebe a 13ª edição do Emiliano Market Day, com o tema Gastronomia viva: cozinhando com alma. Produtores como Raiar Orgânicos, Queijaria Rima, Illycaffè e Bacio di Latte se espalham pela calçada com queijos, pães, vinhos e charcutaria artesanal para provar e levar, uma curadoria que privilegia origem, método e pequenos lotes.
A programação inclui oficinas de tartelete de maracujá, picles e dumplings, além de aulas sobre viticultura sustentável, blends de uísque e uma imersão no universo dos chás. Para as crianças, a atividade Pintando com a Alma estimula criatividade e bem-estar. É programa perfeito para um domingo sem pressa: provar, aprender e conversar com quem produz. Entrada gratuita. Endereço: Rua Oscar Freire, 379 — em frente ao Hotel Emiliano.
Emiliano Market Day no próximo domingo, dia 17 | Foto: Ricardo Dangelo
