A reunião desta segunda-feira (11) no Palácio do Planalto, destinada a discutir o plano de contingência do governo contra o “tarifaço” dos Estados Unidos, terminou sem definição. A expectativa é que qualquer anúncio ocorra apenas a partir de quarta-feira (13).
Por cerca de duas horas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com o vice Geraldo Alckmin (PSB) e ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Jorge Messias (AGU), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil). O alto escalão segue ajustando medidas para mitigar os impactos sobre setores produtivos, sem descumprir as metas fiscais. O pacote deve incluir linhas de financiamento, incentivos tributários e ações de compras governamentais, com foco na preservação de empregos.
O diálogo direto com Donald Trump parece improvável, especialmente após o cancelamento da reunião entre Haddad e o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent. Apesar disso, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), sinalizou que o plano terá prioridade, embora o plenário ainda não tenha retomado votações.
Enquanto Motta evita decisões imediatas sobre punições a deputados da oposição, aliados do ex-presidente intensificam a defesa do chamado pacote anti-STF, que prevê, entre outros pontos, a anistia a envolvidos na suposta tentativa de golpe.
A reunião ocorre a quatro dias das tarifas entrarem em vigor, e Lula, durante agenda oficial no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (28), o petista fez um apelo público ao presidente norte-americano Donald Trump para que reconsidere a medida.
“Espero que o presidente dos Estados Unidos reflita sobre a importância do Brasil. Se há divergência, a gente senta e conversa. Não se resolve isso de forma abrupta, unilateral, penalizando o Brasil com uma taxação dessa magnitude”, afirmou Lula.
O mandatário atribuiu a articulação da medida a Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo Lula, o parlamentar tem atuado nos bastidores da Casa Branca para impor sanções comerciais ao Brasil, enquanto se declara patriota em público.
“Isso é obra do filho do ‘coisa’ e do próprio ‘coisa’ [Bolsonaro]. O sujeito fazia campanha embrulhado na bandeira do Brasil e agora participa de manobras que punem diretamente o povo brasileiro. Uma completa falta de patriotismo”, criticou o presidente.
Em recente publicação nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro confirmou que participou de reuniões com autoridades dos EUA que antecederam o anúncio do tarifaço. Ele condicionou qualquer recuo do governo Trump à aprovação de uma anistia “geral e irrestrita” para os investigados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e à abertura de processo de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A tentativa de chantagear o Brasil, no entanto, não encontrou respaldo no Congresso. Parlamentares, inclusive da oposição, avaliam que a atuação internacional do deputado fere interesses comerciais e institucionais do país.
Durante a inauguração de uma usina termoelétrica no Rio, Lula voltou a frisar que Bolsonaro “não será julgado por governos, mas pela Justiça”, em referência aos processos que correm no STF por tentativa de golpe de Estado.