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Antonio Geraldo: Reconhecer os sinais pode mudar o rumo da sua vida; entenda a importância do diagnóstico precoce

Quando o diagnóstico chega, traz alívio, mas pode vir tarde demais, depois de impactos significativos na vida pessoal, profissional e social

Reconhecer que algo não está bem pode ser desafiador. Tristeza intensa, ansiedade, falta de motivação ou dificuldade para se concentrar costumam ser interpretadas como sinais passageiros, fruto de uma fase difícil ou do estresse cotidiano. Essa percepção equivocada faz com que os sintomas se arrastem por meses ou anos, adiando a busca por ajuda. Quando o diagnóstico chega, traz alívio, mas pode vir tarde demais, depois de impactos significativos na vida pessoal, profissional e social.

O atraso no diagnóstico de transtornos mentais é um fenômeno comum e preocupante. Ele ocorre por diversos fatores, como a falta de informação, o preconceito, o medo de ser rotulado e as dificuldades de acesso a serviços especializados. A consequência é clara: quanto mais tempo a condição permanece sem tratamento adequado, maiores são os prejuízos acumulados, comprometendo não apenas a saúde mental, mas também a qualidade de vida como um todo.

Entre os transtornos mais frequentes estão a depressão, a ansiedade generalizada, o transtorno bipolar e o TDAH. Em muitos casos, eles se apresentam de maneira sutil, confundindo a percepção de quem sofre e daqueles que estão próximos. Sintomas são atribuídos a características de personalidade ou a momentos temporários de estresse, reforçando a crença equivocada de que tudo se resolverá com o tempo. Esse atraso no reconhecimento agrava os quadros clínicos, tornando a recuperação mais lenta e complexa.

A importância do diagnóstico precoce se equipara à de qualquer outra área da medicina. Assim como no tratamento de doenças físicas, a identificação precoce de um transtorno mental aumenta consideravelmente as chances de um prognóstico positivo. Quanto antes o tratamento é iniciado, mais eficaz é o controle dos sintomas e maior é a possibilidade de o indivíduo retomar suas atividades cotidianas com qualidade de vida e equilíbrio emocional.

Outro aspecto relevante é a prevenção de complicações futuras. Uma depressão não tratada, por exemplo, pode evoluir para isolamento social, perda de vínculos afetivos, comprometimento do desempenho acadêmico ou profissional e até mesmo risco de suicídio. No caso dos transtornos de ansiedade, a falta de tratamento pode desencadear problemas físicos, como doenças cardiovasculares, devido à sobrecarga constante do organismo. A intervenção precoce interrompe esse ciclo e protege a saúde mental e física.

É essencial compreender que os sinais de alerta não devem ser ignorados. Alterações persistentes no humor, mudanças no padrão de sono e apetite, perda de interesse por atividades antes prazerosas, irritabilidade ou dificuldades cognitivas, como falhas de memória e concentração, são indicativos importantes. Quando esses sinais passam a comprometer o funcionamento diário, é hora de buscar avaliação profissional, mesmo que exista dúvida sobre a gravidade da situação.

Infelizmente, muitas pessoas ainda acreditam que esses sintomas são passageiros ou que representam apenas fraqueza emocional. Essa crença é não apenas equivocada, mas perigosa. A saúde mental precisa ser encarada com a mesma seriedade que a saúde física. O cérebro é um órgão, e os transtornos mentais são condições médicas que exigem cuidado especializado, assim como qualquer doença do corpo. Normalizar o sofrimento e negligenciar os sinais apenas prolonga o quadro e amplia os riscos.

Buscar ajuda é um ato de responsabilidade consigo mesmo e com aqueles que fazem parte da sua vida. O tratamento adequado envolve acompanhamento profissional, estratégias terapêuticas personalizadas e, em alguns casos, uso de medicação, sempre conduzidos por um médico psiquiatra. Essa abordagem integrada possibilita não apenas a remissão dos sintomas, mas também a prevenção de recaídas, proporcionando um caminho consistente para a recuperação.

Cuidar da saúde mental não é um privilégio, é uma necessidade essencial para viver bem. Reconhecer os sinais e agir de forma precoce pode evitar anos de sofrimento e mudar completamente a trajetória de uma vida. O diagnóstico precoce é a porta de entrada para um futuro mais saudável, equilibrado e pleno. Se algo não está bem, não adie a decisão de buscar ajuda. A prevenção é sempre a melhor escolha, e cada passo em direção ao cuidado é um passo para uma vida mais estável e significativa. Se precisar, peça ajuda.

Antonio Geraldo: Reconhecer os sinais pode mudar o rumo da sua vida; entenda a importância do diagnóstico precoce

*Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.

Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.

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