Lula Mattos De Volta ao Mar é um filme sensível e contemplativo, de uma beleza natural arrebatadora, que desponta na narrativa como um verdadeiro personagem. Na trama, Saoirse Ronam interpreta Rona (numa das melhores atuações de sua carreira), uma jovem na casa dos trinta anos, que após viver no limite por quase uma década em Londres – recém saída da reabilitação, retorna às suas origens, nas ilhas Órcades, próximas da costa escocesa.
Lá, ela está sóbria mas solitária, e mais do que se relacionar com alguns membros da família e antigos conhecidos, Rona se conecta com o mar e a paisagem exótica – a força da natureza interagindo com as emoções, que a levam a reviver seu passado conturbado e sua infância traumática.
A atuação de Saoirse Ronam é de uma intensidade dramática absurda, de uma profundidade emocional que sustenta os momentos de silêncio, aliados a momentos de confrontos com sua história e de novos eventos que a levam ao verdadeiro caminho da reabilitação. Ela alterna entre estados de fragmentação e desespero, com a força a duras penas empregada no caminho da recuperação.
O filme não banaliza o alcoolismo como algo facilmente evitável ou simplesmente cruel. A luta que Rona enfrenta é real e dolorosa – a história é baseada no romance autobiográfico da jornalista britânica Amy Liptrot, que relata o seu drama de recuperação na luta contra a dependência química.
A produção como um todo é contemplativo, o que pode espantar alguns espectadores, mas é justamente nesse ritmo pausado que Saoirse encontra espaço para trabalhar nuances de sentimentos profundos. A forma como ela interage com o mar confere à narrativa um simbolismo poético e uma força emocional que ressoa muito após o fim da projeção. É uma performance intimista e inesquecível.
À medida que Rona encontra um estado emocional que a leva a reger os movimento do mar, ela finalmente encontra espaço para reger a sua própria vida.
De Volta ao Mar está disponível na plataforma HBO Max.
