Jair Bolsonaro realizou uma entrevista coletiva nesta quinta-feira (17), no Senado Federal, na qual comentou sobre o processo que enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-presidente aproveitou para fazer críticas à retenção de seu passaporte e se ofereceu para intermediar negociações com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em meio à escalada de tensões comerciais entre os dois países.
Com relação ao julgamento por tentativa de golpe de Estado, que tramita no STF, Bolsonaro adotou um tom mais pessimista. “Vou enfrentar o julgamento, não tenho alternativa”, declarou. O parecer mais recente da Procuradoria-Geral da República (PGR) reforça o pedido de condenação do ex-presidente por tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa, acusações que podem resultar em mais de 40 anos de prisão.
Ao lado de aliados no gabinete do filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ex-militar também se manifestou sobre as tarifas de 50% anunciadas por Trump aos produtos brasileiros. Ele afirmou estar disposto a negociar diretamente com o ex-presidente norte-americano, caso tenha seu passaporte devolvido.
“Se o Lula sinalizar para mim, eu negocio com o Trump”, disse Bolsonaro.
Pix e guerra comercial
Durante a coletiva, Bolsonaro também se apresentou como o criador do Pix, sistema de pagamentos instantâneos lançado em 2020, durante seu governo
“Antes do Pix, você tinha um cartão. Os bancos perderam comigo, com o Pix mais TED e DOC, mais de R$ 20 bilhões. E eu não taxei o Pix. O Pix tem nome: Jair Bolsonaro”, afirmou.
O ex-presidente sugeriu que a adoção do Pix e seu impacto no sistema financeiro nacional poderiam estar entre os motivos da retaliação liderada por Trump, cujo governo iniciou esta semana uma investigação formal contra o Brasil, com base na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA.
“Acho que teria sucesso uma audiência com presidente Trump. Estou à disposição. Se me derem um passaporte, eu negocio”, declarou.
No entanto, a decisão sobre a devolução do documento está sob responsabilidade do STF, que o reteve em fevereiro deste ano como parte da investigação sobre tentativa de golpe.
Eduardo Bolsonaro
Bolsonaro também defendeu a permanência de seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nos Estados Unidos. Eduardo admitiu ter participado das negociações que resultaram na taxação contra o Brasil e, segundo o pai, pode ser preso se retornar ao País. “Ele é mais útil lá do que aqui”, disse Bolsonaro. A licença parlamentar de Eduardo se encerra no próximo domingo (20), e ele não poderá renová-la. Caso permaneça nos EUA, poderá perder o mandato por ausência.
Ainda segundo o ex-presidente, Eduardo mantém articulações com aliados de Trump e teria “portas abertas” no governo do republicano. “Conhece dezenas de parlamentares e está trabalhando pela nossa liberdade”, afirmou. Bolsonaro ainda minimizou as chances de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), conseguir negociar com Trump. “Louvo o Tarcísio, mas não haverá negociação com um Estado apenas. É com o Brasil. E está na cara que ele (Trump) não vai ceder.”
Bolsonaro encerrou a coletiva reafirmando que enfrentará o processo no STF, embora continue se dizendo alvo de uma injustiça.
“A ideia de ser preso não passa pela minha cabeça”, declarou.