Henrique Neri Quando Ramana Toscanelli, 29 anos, entra no octógono, ela não luta apenas por uma vitória. Cada golpe, finalização e gota de suor carregam a força de uma trajetória construída com disciplina, coragem e foco do jiu-jitsu à intensidade dos desafios no MMA (Artes Marciais Mistas, em inglês).
Na próxima sexta-feira (11), Ramana “Little Fox”, como é conhecida, volta a lutar em casa, em Brasília, pelo LFA (Legacy Fighting Alliance). A meta, conta a lutadora, é alcançar o impressionante cartel de cinco vitórias e nenhuma derrota.
“É a minha quarta luta em casa. Sempre é um sentimento muito bom estar lutando em Brasília, porque foi aqui que viram a minha história começar, desde quando eu ainda era faixa branca no jiu-jitsu”, lembra.
Das rodas de capoeira ao jiu-jitsu
O primeiro contato de Ramana com as artes marciais veio ainda na infância, através da capoeira. Foram oito anos dedicados à arte afro-brasileira até que, aos 18, ela descobriu o jiu-jitsu e iniciou um novo capítulo na luta. Nos tatames, a jovem atleta viu a vida tomar outro rumo.
“Foi amor à primeira vista. Desde então, dedico 100% da minha vida a isso”, conta.
O resultado do empenho da brasiliense nos treinamentos veio em títulos expressivos e na sua consagração como faixa-preta, ainda em 2022. Mas a vontade de ir além do tatame e desafiar novos caminhos só aumentava. Foi quando, em 2023, ela decidiu migrar para o MMA.
“Fui em busca de novos desafios e novas possibilidades. O MMA abre portas no mundo todo e tem um retorno maior, inclusive financeiro. Senti que era a hora”.
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Meta ousada
Ramana sabe onde quer chegar: o UFC (Ultimate Fighting Championship, em inglês) – maior organização de artes marciais mistas do mundo. Para isso, encara o desafio no LFA (Legacy Fighting Alliance), um dos principais eventos da modalidade e que serve de trampolim para chegar ao maior palco do esporte.
“O LFA alavanca todos os atletas. Tenho companheiros de treino que passaram por lá e chegaram ao UFC. Eu e meu staff acreditamos muito nessa porta que se abriu”, explica.
Questionada sobre a expectativa para a luta, Ramana não titubeia: “Treinei muito e quero mostrar que sou uma atleta cada vez mais completa.” “Mas em luta dá para se esperar de tudo: strike, nocaute e finalização”, pondera.
Desafio antes da luta
Fora do octógono, os desafios da atleta também são grandes. O corte de peso, segundo ela, é a parte mais dura da preparação. “Perco entre 10 kg para poder lutar. Na última semana, são 3kg a 4kg só de água e, mesmo assim, a gente precisa manter a intensidade dos treinos”.
Além do desgaste físico, Ramana encara desafios que muitas vezes passam despercebidos no universo predominantemente masculino das lutas. “Tem semana que a gente não rende; o corpo não responde; a gente fica inchada, menstruada. É difícil e às vezes os treinadores não entendem”.
Treinar em um ambiente majoritariamente masculino não é novidade para Ramana, mas ainda exige força extra. “Hoje, na minha academia, sou a única mulher. A outra amiga que treinava comigo precisou se afastar. É difícil estar ali todos os dias num meio onde não tem muitas como você”.
Ramana lembra de uma conversa recente com o treinador. “Ele me cobrando demais, e eu tentando explicar que, às vezes, não é nem psicológico, é o corpo. É estresse, é hormônio. Pedi pra ele me entender como mulher. Ele nunca teve uma aluna mulher. Agora tem”.
