Nesta semana, um dos assuntos mais comentados da internet foi a cirurgia que as influenciadoras brasileiras Maya Massafera e Andressa Urach fizeram para mudar a cor de seus olhos. Chamada de queratopigmentação, a “tatuagem ocular” é, na verdade, um procedimento voltado para pessoas cegas que desejam restaurar a aparência natural do olho afetado. No entanto, muitas pessoas se submetem à cirurgia apenas para fins estéticos: mudar a cor de seus olhos.
O oftalmologista brasiliense Sergio Kniggendorf explica que, nos últimos anos, pacientes com doenças corneanas graves ou com olhos cegos passaram a ter acesso a uma técnica conhecida como queratopigmentação, popularmente chamada de “tatuagem corneana”. O procedimento tem como principal objetivo restaurar a aparência natural do olho afetado, ao reduzir o estigma social e o impacto psicológico associado a condições como o chamado “olho branco”, uma opacidade da córnea que torna o olho visivelmente diferente.

Maya Massafera

Andressa Urach
A cirurgia, então, consiste na aplicação de um pigmento na córnea, a camada mais externa e transparente do olho, que funciona como sua “primeira lente”. O pigmento pode ser inserido de duas maneira:
- Diretamente, com o uso de uma agulha, de modo semelhante a uma tatuagem convencional;
- Por meio da criação de um túnel corneano, feito com laser de femtosegundo ou técnica manual, em que o pigmento é introduzido nas camadas internas da córnea.
“Graças aos avanços tecnológicos e ao desenvolvimento de pigmentos mais seguros e biocompatíveis, o procedimento tem se tornado mais eficaz para fins terapêuticos”, revela o médico. “No entanto, seu uso cosmético, ou seja, em olhos saudáveis para mudança da cor dos olhos, continua altamente controverso e proibido na maioria dos países, incluindo o Brasil e os Estados Unidos”, observa.
Por ser uma intervenção definitiva, em que não é possível remover o pigmento após a aplicação, o paciente deve ter muita atenção antes de se submeter ao procedimento. “Esse é um dos pontos mais críticos, pois muitas pessoas desconhecem os riscos reais, colocando em jogo a própria visão em troca de um desejo puramente estético”, afirma. As complicações mais frequentes e graves incluem:
- Inflamação corneana e intraocular (uveíte);
- Perfuração ocular durante a aplicação do pigmento;
- Infecção corneana ou endoftalmite (infecção intraocular);
- Rejeição ou migração do pigmento;
- Dor ocular crônica;
- Perda irreversível da visão.
A influenciadora Andressa Urach, por exemplo, relatou em suas redes sociais que após passar pela cirurgia, começou a sentir muitas dores nos olhos e que “já está arrependida”.
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Kniggendorf revela, ainda, que existe outra técnica também utilizada para fazer a mudança da cor dos olhos, que é o implante de íris artificial. O procedimento consiste na introdução de uma membrana de silicone colorida entre a íris e a córnea, e foi originalmente desenvolvido para corrigir defeitos congênitos ou traumáticos da íris. O método também vem sendo oferecido para fins estéticos em clínicas fora do Brasil, onde é proibido, geralmente sem regulamentação adequada.
Os riscos são igualmente preocupantes:
- Aumento da pressão intraocular (glaucoma);
- Inflamação intraocular severa;
- Lesão corneana irreversível;
- Infecção intraocular;
- Necessidade de transplante de córnea ou até remoção do olho.
Por fim, o médico ressalta que os procedimentos cirúrgicos para mudança da cor dos olhos ainda são extremamente perigosos, e não justificam os riscos quando realizados apenas por razões estéticas. “Eles devem ser restritos a indicações médicas, como em casos de olhos cegos, aniridia (ausência da íris) ou alterações corneanas graves com comprometimento da aparência”, acredita.
“Se o desejo é apenas estético, a forma mais segura e reversível de mudar a cor dos olhos continua sendo o uso de lentes de contato coloridas, com prescrição e acompanhamento de um profissional especializado”, conclui.