Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética, morreu aos 91 anos, de acordo com agências de notícias russas, com informações de profissionais de saúde do país.
Controverso na União Soviética, Gorbachev é amplamente reconhecido no Ocidente como o homem que acabou com a Guerra Fria, colocando um fim na disputa entre os blocos antagônicos liderados pelos Estados Unidos capitalistas e pela União Soviética comunista.
Em seu país, era acusado de promover reformas econômicas que acabaram por acelerar a derrocada comunista e o colapso do regime soviético.
Em 1990, foi agraciado com o Nobel da Paz por seu “papel de liderança nas mudanças radicais nas relações entre Ocidente e Oriente”, segundo o comitê do prêmio. Um ano depois veria sua nação se fragmentar com todo um estilo de vida que permeou o século 20, um colapso com reflexos ainda hoje na geopolítica.
![Mikhail Gorbachev em aparição no jogo Street Fighter II ao lado do personagem Zangief, de origem soviética: impactos na geopolítica e na cultura pop do século 20](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/stt_6c6ec7c5e5.jpg)
Mikhail Gorbachev em aparição no jogo Street Fighter II ao lado do personagem Zangief, de origem soviética: impactos na geopolítica e na cultura pop do século 20
Nascido em 1931 em Stravopol, Mikhail Sergeyevich Gorbachev era filho de uma família de agricultores imigrantes russo-ucranianos.
Em 1955, Gorbachev se formou em direito na Universidade de Moscou, onde conheceu sua esposa Raisa Titarenko (falecida em 1999), com quem se casou em 1953, e iniciou sua trajetória política ao ingressar no Partido Comunista. Posteriormente se formaria em economia agrícola.
Rapidamente ascendeu na estrutura do partido, alcançando o cargo de primeiro-secretário do Stavropol Kraikom, em sua terra natal.
Passou a integrar o comitê central do Partido Comunista em 1971 e continuou sua ascensão meteórica, promovido ao Politburo, maior autoridade da União Soviética, em 1979.
Na década de 1980 ganhou força no partido, com viagens oficiais e encontros com autoridades importantes da época, como primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e presidente americano Ronald Reagan, com quem futuramente dividiria os holofotes da Guerra Fria.
Em 1985, com a morte de Konstantin Chemenko, Mikhail Gorbachev foi eleito Secretário-Geral do Politburo. Sua escolha foi vista com desconfiança pelos soviéticos, uma vez que não era uma figura publicamente conhecida, mas um homem das entranhas da burocracia partidária. Pesou ao seu favor a expectativa da população por um líder mais jovem do que os anteriores.
Seu estilo pessoal de governar era incomum: cumprimentava diariamente pessoas nas ruas, proibiu a exaltação de sua figura nas propagandas soviéticas e nas celebrações nacionais, incentivou a participação da primeira-dama dentro do governo e incentivou a abertura de espaço para opiniões divergentes dentro das reuniões do Politburo.
As mudanças não passaram batidas. Gorbachev passou a ser visto pelo Ocidente como uma figura moderada e aberta ao diálogo, o que incomodou diversas camadas do partido, que consideravam que o país poderia passar uma imagem de enfraquecimento com um líder cujo discurso não era ríspido e belicoso.
![Estilo pessoal de Gorbachev incomodava a ala mais dura do Partido Comunista: conversava com cidadãos nas ruas e evitava a exaltação de sua imagem em cerimônias](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/gorba2_1859d3a391.jpg)
Estilo pessoal de Gorbachev incomodava a ala mais dura do Partido Comunista: conversava com cidadãos nas ruas e evitava a exaltação de sua imagem em cerimônias
Em 1986, anunciou uma série de reformas que visavam mudar o destino da União Soviética. Perestroika (reestruturação) e glasnost (abertura) ficaram famosas pela abertura política e econômica do estado soviético.
Com a perestroika, Gorbachev reduziu os gastos com a Defesa, que corroíam a economia soviética, promoveu a liberalização do comércio exterior, flexibilizou os preços, a moeda, eliminou limites de fabricação de produtos, reduziu subsídios econômicos, autorizou a entrada de produtos importados, mas não reformulou a agricultura do país, o que acabou por perpetuar as dificuldades sociais.
Com a glasnost, o líder soviético promoveu uma abertura política, com uma tentativa inicial de liberdade de expressão, menor repressão à população. O tiro saiu pela culatra e acabou fomentando revoltas étnicas, regionais e separatistas por conta das dificuldades econômicas.
As duas diretrizes culminaram, em 1989, com as primeiras eleições desde 1917. Gorbachev foi eleito presidente e tomou posse em 1990, mesmo ano em que viu a queda do muro de Berlim – um ano antes a União Soviética já havia sofrido um golpe em sua influência com a queda dos regimes comunistas em países da cortina de ferro.
Em agosto de 1991, após meses de ebulição interna, a ala mais dura do Partido Comunista promoveu um golpe interno. Gorbachev foi sequestrado por três dias. Quando libertado, se demitiu e dissolveu todos os partidos do governo. Era o fim do regime comunista na União Soviética.
Quatro meses depois, em dezembro, um encontro em Minsk, na Bielorrússia, sacramentou a dissolução da União Soviética, com o início do processo de independência de Bielo-Rússia, Ucrânia e Rússia, que proibiu a atuação do partido em seu território.
No dia de Natal, 25 de dezembro de 1991, Gorbachev deixava o cargo e a bandeira da União Soviética foi retirada do mastro do Kremlin, simbolizando o fim de uma era, de uma nação e de uma ideologia econômica e social que mudou a política internacional.