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Hypnacoteca Maravalhas: o museu brasiliense que une erudição e loucura

Mais do que um museu, o espaço propõe um mergulho na interseção entre consciência e imaginação

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Em uma área isolada do Distrito Federal, cercada por vegetação nativa e o silêncio da natureza, está a Hypnacoteca, um museu de arte com um nome tão inventivo quanto seu criador. Idealizado pelo artista Nelson Maravalhas, o termo é uma fusão entre as palavras “hipnagógico” e “pinacoteca”, já revelando a proposta do espaço: um lugar onde é possível admirar quadros que nasceram do limiar entre a vigília e o sono, onde o mundo consciente e inconsciente se confundem. “É uma homenagem a esse estado, do qual sou um experienciador”, explica Maravalhas, referindo-se às visões que inspiram suas obras.

Visionário assumido, ele sempre se viu como alguém que cria a partir de imagens e visões espontâneas, em contraste à lógica da arte moderna, pautada por intencionalidade e razão. “Na história da arte, isso não é uma experiência muito comentada e apreciada”, afirma. “O artista visionário parece obedecer a uma voz interna, nascida dentro da maquinaria de sua própria mente”, relata.

Apesar de sua produção estar ancorada nessas visões, Maravalhas não deixa de dialogar com as matrizes deste segmento. “A minha maneira de pintar é a mesma, e eu não tenho, inclusive, muita novidade no tipo de pincelada”, admite. Porém, ele conta que insere referências de mestres do Renascimento, como Vittore Carpaccio, Rafael Sanzio, Pietro Perugino e Ambrogio Lorenzetti, além de incorporar elementos da literatura. “São espécies de segredos escondidos nos meus quadros, mas ninguém sabe. São referências que, muitas vezes, só aqueles que conhecem muito sobre o tema conseguem perceber”, destaca. “É uma mistura de erudição e loucura”, brinca. A esse estilo, ele deu o nome de maravalhismo.

O caminho da arte
Nascido no Rio de Janeiro em 1956, Nelson veio para Brasília com 11 anos de idade. Morou na 707 Sul, de frente para um complexo cultural. “Via ali obras de muita qualidade, até mesmo exposições internacionais, o que me deu uma educação visual e artística muito cedo na minha vida”, afirma. “Morasse eu, por acaso, na Asa Norte ou no Lago Sul, não teria tido um contato tão próximo com a arte como aconteceu”, acredita.

A relação com o desenho começou na adolescência, durante um período em que viveu em Itabuna, na Bahia. “Eu morava com meu pai e não tinha nada para fazer. Um dia, fui à papelaria, comprei papel, lápis e nanquim para passar o tempo desenhando. É como se eu tivesse caído em uma armadilha”, confessa.

De volta a Brasília, ingressou no curso de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), atendendo ao desejo da mãe. “Ela dizia que pintor não tinha futuro. Aquela velha história”. Um ano depois, pediu transferência para o Departamento de Desenho, onde se graduou.

A trajetória na UnB se estendeu por mais de três décadas como professor, lecionando diversas disciplinas no atual Departamento de Artes Visuais. Foi nesse período que produziu grande parte de sua obra, que não se restringe à pintura. “Minha produção segue três vertentes: a pintura hipnagógica, o desenho, que é mais delicado, e um trabalho experimental com materiais inusitados”, explica. Além disso, dedica-se à escrita de textos sobre arte, ciência e sociedade.

Hypnacoteca Maravalhas: o museu brasiliense que une erudição e loucura

Um sonho concretizado
Maravalhas construiu um extenso currículo no campo acadêmico, com mestrado nos Estados Unidos, doutorado na Inglaterra e pós-doutorado na Alemanha. Foi, inclusive, enquanto morava no país germânico com sua companheira, a produtora cultural e também artista plástica Nuára Visintin, que surgiu a ideia de abrir um negócio próprio. “Sempre achei que meus trabalhos só podiam ser vistos em conjunto”, conta.

Foram sete anos de planejamento até a inauguração da Hypnacoteca, em julho de 2024. Por estar localizada em uma Área de Proteção Ambiental (APA), o Núcleo Rural Córrego do Urubu, o projeto exigiu licenciamento ambiental e colaboração da Secretaria de Agricultura. Projetado pelos arquitetos Danilo Fleury e Raul Maravalhas, filho de Nelson, o museu se inspira na arquitetura indiana e conta com dois andares, divididos entre salas de exposição, cafeteria, mirante e uma área externa que, futuramente, irá comportar eventos culturais. “Pretendemos inserir outras linguagens artísticas para além das artes visuais”, revela Nuára.

Além de abrigar cinco décadas da obra de Nelson, a Hypnacoteca tem objetivo educacional. “Quero ajudar na formação de adolescentes e jovens adultos, que estão em um momento que considero crucial”, diz o artista. “Sinto como se eu pudesse contribuir para o aprimoramento, e não o desmoronamento, desses jovens”.

Outra meta é tornar o museu cada vez mais integrado à natureza e sustentável. “No futuro, a ideia é unir arte e natureza, como um Inhotim no Cerrado”, explica Nuára. “No início, achei a comparação prepotente, mas Nelson diz que é assim que tudo começa”, finaliza.

Hypnacoteca Maravalhas: o museu brasiliense que une erudição e loucura

Nuára Visintin e Nelson Maravalhas

Serviço
Hypnacoteca Maravalhas
Local: Núcleo Rural Córrego Urubu, Lago Norte, Brasília
Horário de funcionamento: sábados e domingos, das 15h às 19h
Entrada gratuita

*Matéria originalmente publicada na edição 42 da Revista GPS|Brasília

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