Sebastião Salgado, considerado o maior fotógrafo brasileiro da atualidade e um dos mais importantes do mundo, morreu nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, em Paris, por complicações decorrentes de uma malária contraída na década de 1990. Com um legado marcado pela sensibilidade, técnica e profundo olhar sobre a condição humana, Salgado transformou a fotografia em ferramenta de denúncia, beleza e reflexão.
Mineiro, natural de Aimorés e nascido em 1944, Salgado trilhou caminhos que ultrapassaram fronteiras da arte e da geografia. Formado em economia pela Universidade de São Paulo (USP), com doutorado em Paris, ele iniciou sua carreira como fotógrafo aos 29 anos, após se encantar pelo poder das imagens enquanto trabalhava para a Organização Internacional do Café. A mudança de trajetória resultou numa obra que capturou os grandes fluxos migratórios, o impacto do trabalho braçal e a relação do homem com a natureza.

Foto: Sebastião Salgado
Com passagens por agências renomadas, como a Sygma, Gamma e Magnum, o profissional construiu projetos fotográficos de longa duração, como Trabalhadores (1993), Êxodos (2000) e Gênesis (2013), todos com imagens em preto e branco que registram tanto a dureza quanto a beleza do mundo. Um de seus cliques mais icônicos é o do garimpo de Serra Pelada, no Pará, onde milhares de homens mergulham na lama em busca de ouro, uma imagem que se tornou símbolo da desigualdade social no Brasil.

Foto: Sebastião Salgado
“A fotografia é o espelho da sociedade”, afirmou Salgado em uma de suas últimas entrevistas. Com sua lente, ele fez do mundo seu estúdio e do ser humano seu principal personagem. Seu estilo inconfundível privilegiava o preto e branco como forma de “abstrair a cor e focar na emoção”, como ele próprio dizia.
Em 2014, sua trajetória foi celebrada no documentário O Sal da Terra, codirigido por seu filho, Juliano Ribeiro Salgado, e pelo cineasta alemão Wim Wenders. O filme foi premiado em Cannes e indicado ao Oscar de Melhor Documentário, revelando ao grande público a profundidade ética e estética do fotógrafo.

Foto: Sebastião Salgado

Foto: Sebastião Salgado
Salgado também já recebeu inúmeros prêmios, como o Eugene Smith de Fotografia Humanitária, o Prêmio Erna e Victor Hasselblad e diversas premiações do International Center of Photography (ICP). Mesmo próximo aos 80 anos, Salgado se mantinha ativo, uma exposição com mais de quatrocentas obras estava prevista para estrear em 1º de junho, no centro cultural Les Franciscaines, na França.