Políticos e integrantes da bancada do Distrito Federal na Câmara dos Deputados e no Senado Federal reagiram, neste domingo (4), aos ataques do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, que classificou Brasília como uma “ilha da fantasia”.
A declaração do principal ministro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ocorre no momento em que o Senado analisa se mantém ou não a proposta de corte na correção do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF), criado para garantir a segurança na capital do País, mas com recursos também para a saúde e educação.
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O empresário Paulo Octávio, presidente do PSD-DF, lamentou “os comentários equivocados do ministro Rui Costa” sobre a capital de todos os brasileiros.
“Chamar Brasília de ‘ilha da fantasia’ como disse o ministro, demonstra uma visão pequena sobre a importância de Brasília para o Brasil. A capital modernista significou a interiorização do País e a centralização das decisões nacionais no coração geográfico da nação. Brasília, assim como todas as capitais do mundo, reúne os Três Poderes da República e é sede de embaixadas e representações internacionais. Nossa cidade e as suas 33 regiões administrativas são um território criado para administrar as decisões nacionais e acolher todos os que trabalham pelo sucesso econômico, jurídico, social e humano do Brasil”, definiu.
O senador Izalci Lucas disse a fala do ministro demonstrou que “ele não conhece absolutamente nada aqui do Distrito Federal”, que tem 3 milhões de habitantes e mais de 1,5 milhão no Entorno. “Era bom que o ministro, em vez de chegar na segunda-feira e ir na sexta, conhecesse um pouco da realidade do DF, que foi projetado para 500 mil pessoas e que hoje é a terceira cidade do Brasil, maior inclusive que Salvador”, disse.
“Temos um povo trabalhador e uma cidade com vocação de ser a capital do Brasil. Não podemos competir com São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais ou com a própria Bahia em função do território. O ministro foi muito infeliz e vou convidá-lo para conhecer o mundo real. Dizer que é uma ilha da fantasia é demonstrar não só desrespeito com a capital, mas desconhecimento da cidade e da sua importância de Brasília para o Brasil”, disse, lembrando ainda que o País se consolidou a partir da construção da capital. “Se hoje existe um Brasil grande, isso foi graças à ousadia de JK, que teve essa missão quase impossível, mas foi lá e fez. A Casa Civil é responsável pela fala em nome do governo. E eu tenho certeza que essa não é a fala da maioria dos ministros. Então vamos rever isso e respeitar Brasília”, completou.
A senadora Leila Barros (PDT), nascida em Brasília, destacou que a fala do chefe da Casa Civil é reflexo de um preconceito que muitas pessoas têm com a capital.
“O Distrito Federal é uma unidade da federação com mais de 3 milhões de pessoas. É uma cidade que, embora tenha um dos maiores índices de desenvolvimento humano, abriga a maior favela do Brasil. A desigualdade social é latente na capital da República. A fala do ministro da Casa Civil é uma oportunidade para mostrarmos aos brasileiros, e, principalmente, à classe política, que o Distrito Federal não é um mundo perfeito onde tudo dá certo. Temos muitas mazelas que, se não forem resolvidas agora, terão impactos ainda piores nas futuras gerações”, afirmou.
Ela lembrou ainda que, com o atual cálculo do Fundo Constitucional do DF, já são grandes os desafios e “a nova base jogará o destino dos habitantes em uma roleta russa”. Leila destacou que os recursos do FCDF são a principal fonte de investimento em segurança pública e custeiam parte da saúde e educação pública. “Convido todos os políticos a rodar Brasília comigo e ver a realidade enfrentada pelos brasilienses”, concluiu.
Já a senadora Damares Alves (Republicanos) disse que a fala de Rui Costa foi “desnecessária” e lembrou que ela vem “dias antes da votação do arcabouço no Senado”. Mas garantiu que não vai desanimar na luta pelo FCDF.
Na Câmara, até membros do PT, como a deputada federal Erika Kokay, se revoltaram com o que o ministro Rui Costa disse. “A declaração sobre Brasília é típica de quem não conhece a cidade e o DF. Se existe uma ‘ilha da fantasia’, ela é habitada justamente por quem só consegue enxergar aqui tapetes e gabinetes. Se ele quisesse criticar o sistema político, composto majoritariamente por pessoas de fora de Brasília, que o fizesse diretamente, sem ofender a cidade. Aqui é a capital da República, terra de gente trabalhadora. Gente que trabalha, produz, estuda, que sofre com a falta de serviços públicos, que dança, que ri, que se manifesta das mais diversas formas e que, além de tudo isso, sedia e recebe muito bem quem vem para cá trabalhar pelo País. Convido o ministro a conhecer a riqueza da nossa gente e da nossa cultura. Assim, tenho certeza que ele aprenderá a respeitar Brasília, o DF e o seu povo”, disse a parlamentar.
Deputada mais votada em Brasília, Bia Kicis (PL) afirmou que “não é de surpreender que um dos gestores mais incompententes do Brasil fale sem conhecimento de causa sobre Brasília”.
“Rui Costa deixou seu Estado com os piores índices de segurança, desemprego, educação. E vem querer dar pitaco sobre a capital do Brasil? Brasília tem a vocação de acolher a brasileiros de todos os cantos do Brasil e quem vem para cá em busca de novos horizontes e oportunidades. Aqui todos são bem-vindos, sem preconceito de origem, e convivemos com as diferenças de sotaques, de cultura, com muita empatia e naturalidade. Saia dos palácios, Rui. Misture-se ao povo na rodoviária do Plano Piloto, na feira do produtor na Ceilândia, nos parques da cidade, conheça Brasília e nos poupe das suas falas preconceituosas”, completou.
Tal como o governador Ibaneis Rocha, que classificou Rui Costa como “um idiota”, o deputado federal Alberto Fraga (PL), em entrevista ao GPS, criticou duramente a fala do ministro, usando o mesmo adjetivo para classificar o ministro, além de endossar a fala de Bia Kicis, sua colega de partido.
“É um discurso para esconder o péssimo governo que ele fez na Bahia. Não conhece a realidade do DF e perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado. Ele é quem deve estar vivendo uma ilha da fantasia, com este discurso. Mas agora ele deixou a digital de quem inventou esta coisa de alterar o FCDF, e tenho a certeza de que o Senado vai corrigir esta distorção. Nós vamos restaurar o texto da Medida Provisória no Senado e vamos pedir a sensatez da Câmara dos Deputados em manter o texto. O bom é que o discurso de Rui Costa não tem ressonância”, avaliou.
Fraga disse ainda que ser lamentável perceber nas declarações um tom de inveja ou de revanchismo. “Eu acho que não pode continuar a existir essa relação de inimizade ou de disputa entre o governo federal e o governo do Distrito Federal. Essa relação sempre foi muito boa, independente dos partidos políticos que comandavam a União ou o Distrito Federal. Fico aqui triste com esse tipo de pensamento do ministro”, definiu.
Eleito pelo MDB do governador Ibaneis Rocha, o deputado federal Rafael Prudente gravou um vídeo criticando o ministro Rui Costa. “Brasília não é uma Ilha da Fantasia como o senhor disse. Quero convidá-lo a conhecer nossa cidade, o Sol Nascente, o Guara, a Estrutural, São Sebastião… Talvez o senhor não conheça mesmo, pois vêm do estado da Bahia de avião da FAB, desembarca ali no aeroporto e vai direto para o Palácio. Venha aqui conhecer efetivamente a realidade do nosso povo”, rebateu.
Para Reginaldo Veras (PV), a declaração foi infeliz, inconveniente e inconsequente. “Típica de quem não conhece a realidade do DF e merecedora de todo o repúdio da população brasiliense e brasileira. No mínimo, deve pedir desculpas”, aconselhou.
Eleito pelo Republicanos com a segunda maior votação do DF, o deputado Fred Linhares achou absurda a fala do ministro. “Ele realmente não conhece Brasília, por isso que nossa briga pelo Fundo Constitucional é gigante. Ele só conhece a Esplanada dos Ministérios e o Plano Piloto. Ele não sabe que a maior favela do Brasil está em Brasília. Ele precisa ir lá no Sol Nascente e ver o esgoto a céu aberto e os meninos que brincam ali, maquela lama. Eu levo ele lá. É brincadeira ele falar um negócio desses. Ele só vai da Esplanada ao Aeroporto, onde a vista fica linda, né? Ele acha que as 3 milhões de pessoas aqui do Distrito Federal moram no Plano Piloto, Asa Sul e Asa Norte”, disparou.
Por nota, o deputado Paulo Fernando (Republicanos) afirmou que a “Bahia, berço do Brasil, terra de Rui Barbosa , Castro Alves e tantos ilustres brasileiros e que Brasília acolheu inúmeros baianos desde a sua fundação, abriga o ex-governador petista, atual ministro-chefe da Casa Civil que faz ataques gratuitos à Capital de todos os brasileiros e nos agride com ofensas que demonstram um profundo desconhecimento histórico ,geográfico e social da cidade e de sua honrada população”.
Já Gilvan Máximo (Republicanos) disse que o ministro precisa se desencastelar. “Ele vem da base aérea para o castelo, não sai mais do Palácio e não conhece mesmo. Não vai saber o que que é Brasília. Precisa sair do castelo e conhecer um pouco da nossa cidade para não falar tanta besteira. Eu não sei que raiva é essa que o ministro tem de Brasília. Essa capital só dá certo porque foi construída por um homem corajoso como JK”, rebateu. “É uma cidade que respeita a todos, mas infelizmente ele foi muito infantil nessa declaração”, disse o parlamentar, que prometeu “convidar o ministro para ir comer um pastel, uma buchada de bode, uma dobradinha e um sarapatel em uma feira da cidade, para que ele sabia um pouco da nossa capital”. (com reportagem de Caio Barbieri e Jorge Eduardo Antunes)