A gravidez é um período repleto de transformações, um turbilhão de emoções que se estende muito além do parto. Mas, enquanto o foco se volta ao bebê, sinais silenciosos podem passar despercebidos, mascarados pelo cansaço ou atribuídos às oscilações naturais do puerpério. Sintomas como exaustão extrema, ansiedade intensa e queda acentuada de cabelo podem, na verdade, indicar um quadro de tireoidite pós-parto, uma inflamação na tireoide que, segundo a médica endocrinologista Elaine Dias JK, geralmente surge entre a sexta e a décima segunda semana após o nascimento, podendo persistir por até um ano.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças como o hipotireoidismo, o hipertireoidismo, nódulo tireoidiano e câncer de tireoide afetam mais de 750 milhões. Cerca de 60% dessas pessoas têm o problema, mas desconhecem — em sua maioria mulheres .
A médica explica que a tireoide é uma pequena glândula localizada na base do pescoço, responsável pela produção de hormônios que regulam o metabolismo. Ela desempenha um papel crucial em diversas funções do corpo humano, além de influenciar na frequência cardíaca, humor e cognição.
“Durante as fases da vida, principalmente das mulheres, existem disfunções hormonais que correspondem a evolução corporal, como na adolescência, quando há um pico de estrogênio e progesterona e, consequentemente, uma redistribuição de gordura subcutânea, com aumento de glúteos, coxas, braços, provocando os primeiros sinais de celulite e retenção de líquido. Ainda nessa fase, ocorre o aumento da testosterona, que traz o excesso de oleosidade na pele e no cabelo, provocando acne, queda capilar e alterações de humor”, comenta a médica.
Apesar de frequente, a tireoidite pós-parto ainda é pouco reconhecida. “Muitas mulheres acreditam que tudo faz parte da adaptação à maternidade, mas há casos em que o corpo está dando sinais de uma disfunção hormonal que necessita de atenção”, explica a profissional.
A condição caracteriza-se por duas fases. Na primeira, é possível observar sintomas de hipertireoidismo, quando a glândula trabalha de forma acelerada, causando ansiedade, insônia, batimentos cardíacos acelerados e irritabilidade. Já o hipotireoidismo é marcado por desaceleração do metabolismo, cansaço intenso, ganho de peso, queda de cabelo e tristeza. Muitas vezes, este quadro é confundido com a depressão pós-parto.
Segundo a médica, o maior perigo do quadro é seu caráter silencioso e facilmente negligenciado. “Muitas pacientes normalizam sintomas importantes por acreditarem que fazem parte da rotina materna. No entanto, a tireoidite pós-parto tem tratamento e precisa ser levada a sério”, afirma a especialista que recomenda que, ao notar alterações significativas no corpo e no emocional, a mulher busque avaliação médica.
O diagnóstico é simples, feito por exames laboratoriais que avaliam a função tireoidiana. “É fundamental um olhar integral para a mãe, não só para o bebê. Cuidar da saúde da mulher após o parto é essencial para que toda a família fique bem e para que a maternidade seja vivida da melhor maneira possível. Sintomas persistentes após o parto não devem ser ignorados. Identificar e tratar doenças como a tireoidite pós-parto pode fazer toda a diferença para a saúde física e mental das mães”, pontua.
De forma geral, em qualquer idade, a médica afirma que é fundamental realizar acompanhamento anual com o endocrinologista e o ginecologista, com a realização de exames hormonais como da tireoide, dos ovários e da hipófise, do TSH, do T4 Livre, do estrogênio, da progesterona, do FSH e do LH.
Elaine acrescenta ainda, que, “para garantir um resultado hormonal positivo, também é necessário um estilo de vida saudável, com atividade física regular, alimentação saudável e dormir de sete a nove horas por noite. Dessa forma, a possibilidade de se ter alguma alteração hormonal é bem menor em relação a quem não tem uma vida saudável”.
Saiba qual é cada quadro de distúrbios na tireoide
Hipotireoidismo: quando a tireoide trabalha em ritmo lento
A tireoidite de Hashimoto é a principal causa do hipotireoidismo, condição em que o sistema imunológico ataca as células da tireoide, reduzindo a produção dos hormônios T4 e T3. Esse processo autoimune pode desencadear sintomas como cansaço constante, depressão, retenção de líquido, infertilidade, queda de cabelo e ganho de peso. Outros sinais incluem intolerância ao frio, constipação, bradicardia e alterações no ciclo menstrual.
Embora comum, o hipotireoidismo pode passar despercebido, sendo muitas vezes confundido com cansaço ou estresse. O diagnóstico precoce é essencial para o tratamento adequado e o controle dos sintomas.
Hipertireoidismo: aceleração metabólica e sintomas intensos
Ao contrário do hipotireoidismo, o hipertireoidismo é marcado pela produção excessiva dos hormônios tireoidianos T4 e T3, geralmente causado pela Doença de Graves. Nessa condição autoimune, anticorpos atacam os receptores de TSH, estimulando a tireoide a trabalhar em ritmo acelerado. Taquicardia, perda de peso sem motivo aparente, sudorese, tremores, irritabilidade e exoftalmia — caracterizada pelo deslocamento dos olhos — são sinais frequentes da condição. A identificação precoce é fundamental para evitar complicações cardíacas e outros danos sistêmicos.