A inadimplência nas famílias brasileiras em março se manteve estável em 28,6% desde fevereiro. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,1% das famílias relataram ter dívidas a vencer (maior patamar desde setembro de 2024). As famílias sem condições para quitar as dívidas recuou para 12,2%.
Para o presidente da CNC, José Roberto Tadros, o resultado revela esforço das famílias para manter o controle financeiro mesmo diante das pressões do orçamento. “O crédito tem papel fundamental no orçamento das famílias e no fomento ao consumo, mas precisa ser utilizado com planejamento, principalmente em um cenário de juros elevados. O avanço do endividamento com estabilidade da inadimplência sinaliza maior consciência no uso do crédito”, afirma.
As projeções da CNC mostram que essa deve ser a tendência ao longo do ano, com expectativa de aumento de 2,5 pontos percentuais no endividamento até o fim de 2025. Já a inadimplência tem a previsão de recuo de 0,7 ponto percentual nos 12 meses.
O tempo da inadimplência também diminuiu, 47,6% dos inadimplentes estão com dívidas em atraso há mais de 90 dias — o menor nível desde maio de 2024. Ao mesmo tempo, o comprometimento da renda com dívidas se manteve em 29,9%, e 20,8% das famílias afirmam comprometer mais da metade da renda com o pagamento dessas obrigações.
Mais carnês mesmo com juros altos
O cartão de crédito é a modalidade mais utilizada entre os endividados, cerca de 83,7%, os carnês voltaram a crescer e se mantêm com a segunda forma mais popular de endividamento. A modalidade ganhou 1,3 ponto percentual na comparação anual.
Para o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, isso reflete que as famílias estão tendo mais dificuldade de acessar fontes formais de crédito e acabam optando por modalidades alternativas, porém com juros maiores. “A alta dos carnês e do crédito pessoal mostra que o consumidor está buscando formas alternativas, porém mais caras, de conseguir empréstimos para manter o consumo ou quitar dívidas”, explica.
Entre as faixas de renda, o maior avanço do endividamento ocorreu entre famílias que recebem até três salários mínimos (+1,0 p.p. em relação a março de 2024). Já os consumidores com renda entre 5 e 10 salários apresentaram a maior queda da inadimplência (-1,1 p.p.). Acima dos 10 salários mínimos, houve leve aumento tanto da inadimplência quanto da parcela que não conseguirá quitar dívidas vencidas.