Lula Mattos A série Adolescência acende um sinal vermelho e dispara um grito de alerta aos pais de adolescentes: criar um filho não é só dar amor, prover e cuidar de sua educação. Mais que tudo, deve-se ter olhos atentos e bem abertos para as atividades que os adolescentes de hoje praticam na rua, na escola, mas sobretudo, no aconchego e na segurança do lar, bem próximos à vista dos pais.
É exatamente dentro de casa que alguns jovens, plugados na internet, por motivos vários, passam a fazer parte de certos grupos radicais. Esses grupos incitam a violência e, muitas vezes, provocam reações devastadoras, levando adolescentes a comportamentos extremos, como a prática de assassinatos e até o suicídio.
As siglas usadas pelos jovens na internet, os emojis, bem como as diferentes tribos das quais eles se tornam membros, são completamente desconhecidas de seus pais.
Em Adolescência , o protagonista Jamie, um garoto de 13 anos, é acusado de assassinar uma colega de escola. Quando os criadores da minissérie optaram por filmar todos os quatro episódios em planos-sequência (cenas que se sucedem numa única tomada, sem que haja cortes), acertaram na mosca.
O formato dá ao espectador a sensação de participar da cena, vivendo a angustiante impossibilidade de fugir de uma circunstância aflitiva, sem pausas para descanso ou questionamentos.
Sublinho, dando destaque, o diálogo que acontece entre a psicóloga forense e o adolescente Jamie (interpretado por Owen Cooper). Cooper, em seu primeiro trabalho como ator, não se intimida com a presença da experiente atriz Erin Doherty, dividindo com ela o palco de um embate psicológico de altíssimo nível de atuação.
É preciso que se entenda que a minissérie não se trata de um suspense, mas um drama. O foco não recai na investigação policial, mas nas circunstâncias em torno do crime. Não há julgamentos morais, e a narrativa tampouco pretende chegar a uma verdade absoluta.
Adolescência é um alerta de perigo, uma experiência dolorosa e incômoda, que mostra a desconexão, o enorme abismo que existe, hoje em dia, entre os pais, os educadores e os jovens.
Lula Mattos é arquiteta, mas sua paixão sempre foi o cinema. Possui formação em Crítica de Cinema e também fez cursos na área com Alberto Renault e Humberto Silva. É admiradora do chamado “cinema de autor”, mas faz sugestões e produz conteúdo que abrange todos os gêneros, sempre inserindo um olhar pessoal em suas críticas e resenhas.
