As semanas de alta-costura que abrem a temporada feminina de moda anualmente sempre são **oportunas e vêm em excelente hora**. Afinal, quem hesitaria em iniciar o ano enaltecido pelo luxo, pela graça e sofisticação? Mesmo que distante de uma realidade cotidiana, **o belo também refrigera a alma e a mente**.
O artesanato sempre traz o seu protagonismo e essencialmente **o drama, o cênico, o fetiche e a sensualidade** compõem a atmosfera _couture_. Especialmente Paris, sempre tão convidativa a excentricidades que só aprimoram o show. As **polêmicas são bem-vindas**, este ano por meio do surrealismo e hiper-realismo.
Mas eis que surge a Fendi, ao apagar das luzes, **revisitando o feminino essencial**, celebrando suas tradições e trazendo à luz a verdadeira arte da manufatura e todo o sentimento que envolve um elenco de mãos que tecem, que bordam, que passaram a vida debruçados entre puras sedas, linhas, agulhas e rendas. E para ilustrar **o _underwear_ se reveste de _evening wear_** e por mais que sejam peças revisitadas, elas carregam uma imensa fleuma que exala a leveza, a fluidez e o refrigério tão necessários neste momento. **E se faz o luxo**.
E foi numa sala ovalada branca criada entre os portais mágicos do _Palais Brongniart_, e seus portentosos arcos de pedra que surgiram como sopros de vento delicadas roupas de *profunda sensibilidade** que pareciam caminhar sozinhas. Entre **suspiros e respiros** que vinham como retomada de fôlego, uma trilha sonora deveras sinistra por seu bipes futuristas, alertando a todos a disritmia, ou não, entre a **nostalgia do passado e o devorador futuro**.
Mais uma possibilidade de decifrar os códigos restritos da feminilidade em tempos de diversidade dentro dos limites da contemporaneidade histórica:
>“É uma celebração dos ateliês e artesãos que criam essas roupas, o trabalho intensivo e a dedicação emocional a cada peça que existe tanto para o criador quanto para o usuário, e como as tradições íntimas da alta costura estão vivas e bem”, escreveu Kim Jones sobre sua coleção.
