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Henrique Zaga, licença poética para amá-lo

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_“Eu tenho um quadro com azulejos do Athos Bulcão no meu quarto, vou buscar para você ver”_, disse o ator **Henrique Zaga**, quando perguntei se havia algo de **Brasília** em sua casa, em **Los Angeles**, na Califórnia, onde vive há dez anos. Voltou exibindo para a câmera da nossa chamada de vídeo dois azulejos da **Igrejinha** emoldurados. Brasiliense apaixonado, continuou: _“moro numa região que me lembra muito Brasília, pelo contato com a natureza e pela tranquilidade. Dá espaço para criar, respirar”_.

Com uma trajetória de uma década construída em solo norte-americano, Henrique mostra as **raízes brasileiras** em detalhes. _“Olha o que eu trouxe do Brasil, um filtro de barro, meu xodó. Tem a melhor água do mundo. Foi um perrengue trazê-lo, enchi de plástico bolha”_, disse, aos risos, ao mostrar o objeto ao fundo. Caseiro, gosta de receber os amigos para um churrasco. _”Adoro cozinhar para eles”_, revelou, mostrando-se um bom anfitrião na casa onde vive com os cachorros Brando e Parker.

Aos 29 anos e com trabalhos em grandes produções internacionais no currículo, como as séries **_13 Reasons Why_** e **_Teen Wolf_**, e o longa **_Os Novos Mutantes_**, da Marvel, Henrique conquistou seu espaço em Hollywood, consagrou-se ator, mas o triunfo veio mesmo neste ano, quando sua terra natal **reconheceu** seu **talento**. Afinal, quem não se apaixonou pelo médico **Gabriel**, do filme **Depois do Universo**? E não estamos falando só da beleza física do alto de seus 1,80m de altura.

_“Até então, conhecia o cinema nacional só como espectador. Atuar em uma produção brasileira era um sonho antigo que se concretizou na hora certa”_, confessa. Sorridente e educado, Henrique mostra semelhança com a leveza de seu personagem no longa-metragem que protagonizou ao lado da cantora **Giulia Be** e que se tornou o quarto filme de língua não inglesa mais visto globalmente na **Netflix** e o primeiro no Brasil.

![](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/henriquezaga_foto02_eb1040a11a.jpg)

Henrique já havia recebido convites para trabalhos no Brasil, mas até então não tinha dado certo por questões de agenda. E, no meio da pandemia, em um momento em que estava muito **sensível**, o projeto chegou em suas mãos. _”Eu tinha acabado de pegar Covid, ainda não tinha vacina, não estava bem emocionalmente. E aquela história mudou meu momento, despertou em mim um sentimento de gratidão. Me deu uma revigorada, me encheu de esperança”_, revela.

O ator conta que não há diferença de técnica de atuação nem de tecnologia em trabalhos no Brasil. _”É tudo muito globalizado hoje. A gente cria o projeto para o mundo, não só para o país onde ele é produzido. Trabalhamos com câmeras que eu vi em produções dos EUA”_, diz. O que mudou neste trabalho foi o fato de acompanhar a pré-produção, inclusive a busca pela intérprete da Nina. _”Foi um grande aprendizado, nunca tinha participado como uma pessoa de poder criativo em um projeto, de estar nos bastidores, de dar palpite, de acrescentar ao personagem, dar ideias no roteiro. Trouxe uma outra visão do processo. A partir daí, comecei a sonhar em produzir um projeto”_, afirma.

Foram **cinco meses** morando em São Paulo para a produção do filme. _”Me apaixonei pela cidade, me senti até meio que traindo Brasília”_, brinca, mostrando em mãos o livro **Guia Fantástico de São Paulo**, um presente de uma amiga que traz uma turista entendendo a capital paulista do jeito que os paulistas explicam. _”É muito engraçado”_, adianta.

Aliás, seus **interesses artísticos** e **culturais** podem ser vistos nas suas redes sociais, pois ele faz questão de compartilhar um livro que está lendo, um filme que assistiu, uma exposição que visitou, além dos destinos turísticos e bastidores de filmagens. Discreto e sossegado, vez ou outra podemos ver um pouco da sua vida pessoal, seus interesses – por montanhismo, corrida e natureza – e suas conquistas, como quando entrou para a lista da **Forbes Under 30** na categoria **Artes Dramáticas**.

**O roteirista**

Após uma temporada de filmagens de um projeto no Canadá e no aguardo de outros trabalhos em Los Angeles para 2023, um próximo filme já é certo: um segundo longa-metragem brasileiro dirigido por Diego Freitas, o mesmo de Depois do Universo. A novidade será a estreia de Henrique como **roteirista**, além de ator. _”Escrevi um roteiro há três anos, mostrei para o Diego e estamos trabalhando para tirá-lo do papel. A intenção é gravar no ano que vem”_, revela, animado.

O enredo conta a história de uma norte-americana que vai para o Rio de Janeiro, hospeda-se em um hotel cinco estrelas e conhece Thiago, um carioca de classe média funcionário do local. Eles se apaixonam nos dois cenários: no Rio de ilusões de um turista e no Rio de verdade, do Thiago.

_”Sempre me incomodou o quão deturpada é a visão do turista que vem ao Brasil, acha que conhece o País por ficar alguns dias em um hotel e, muitas vezes, menospreza a cultura rica que a gente tem. Eu cresci indo muito para o Rio porque meu pai é carioca, então, eu acredito que eu tenho uma licença levemente poética de acrescentar sobre o que o Rio significa pra mim e para outras pessoas que vivem as diferentes camadas da cidade e o quão apaixonante cada uma pode ser”_, explica.

![henriquezaga_foto01.jpg](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/henriquezaga_foto01_6c21467abf.jpg)

Ele ter escrito essa história reforça sua brasilidade. _”Eu me sinto muito brasileiro. Muita gente fica surpreso quando eu falo português bem, acho que esperam um sotaque por eu estar há tanto tempo fora. Mas eu sou do Brasil, até os 18 anos morava em Brasília e vou pelo menos uma vez ao ano ao País”_, conta.

Esse reencontro com seu País e sua brasilidade trouxe junto uma mudança de nome. _”Na verdade, eu não mudei. Eu ‘desmudei'”_, brincou. É que quando ele foi para os Estados Unidos, adotou o nome artístico de Henry. _”Nunca me senti 100% Henry. Cheguei sem conhecer ninguém, sem nenhuma promessa de trabalho e tinha uma insegurança de ser tachado como latino. Hoje eu entendo o que eu senti na época. E foi muito importante voltar para o meu nome de batismo, admitir minha brasilidade e abraçar a minha história”_, revela.

Uma década depois, Henrique é outro. Um recado para aquele jovem sonhador? _”Eu daria um abraço e diria: ‘vai fundo, que você tem muita gente que te apoia, que acredita em você. Seja seu próprio amigo e se enalteça’. Às vezes, nos colocamos para baixo achando que as pessoas vão receber algo de forma negativa. Mas a gente precisa acreditar na gente”_, analisa.

O ator lembra o que ouviu dos pais quando resolveu arriscar tudo e mudar para Los Angeles. _”Eles falavam para eu aceitar e entender minhas fraquezas como ator e trabalhá-las. Aquilo foi primordial. É uma carreira que mexe muito com o ego, com o emocional, com a sua vida pessoal. Então, mexer com as suas fraquezas às vezes machuca. Depois de dez anos trabalhando nas minhas fragilidades, que era meu sotaque, por exemplo, hoje eu vejo e respeito meu valor como um brasileiro no mercado hollywoodiano. Às vezes querem pagar menos por ser latino, mas sou mais firme hoje em dia, sei o que levo para um projeto. Entendo minhas forças e sigo trabalhando minhas dores”_, diz.

Henrique alcançou essa maturidade justamente num momento que as produções hollywoodianas se abrem cada vez mais para a pluralidade de raças e culturas. _”Hoje, há vários projetos interessados nas culturas, nas peculiaridades de cada uma. Tem sido bacana participar disso aqui nos EUA, mas de acompanhar essa mudança no cenário cinematográfico daqui. E nós, brasileiros, temos muito a agregar ao cinema internacional”_, acredita.

**From Brasília**

Quando criança, Henrique tinha uma vida bem brasiliense. Vestiu os uniformes **Candanguinho**, do **Marista**, do **Galois** e da **Escola Americana**. _”Fui de representante de turma à bagunceiro número um”_, brinca. Frequentou o **Bier Fass**, no **Gilberto Salomão**. _”Nasci e cresci em Brasília, me aventurei pelas asas e eixos por mais de 18 anos: do tio do churros no portão da escola, ao caminhar até o Pátio Brasil no horário de almoço com os colegas nos tempos de Galois. Do eco de uma risada embaixo dos blocos das superquadras, ao vai e vem das pontes, que tanto fazia em condução escolar”_, elenca.

Filho de advogados, chegou a imaginar um futuro no Direito, mas cultivava uma paixão pela arte, sempre fascinado pela cultura norte-americana e pelo cinema. Até que, aos 16 anos, em uma apresentação teatral na Escola Americana, vestiu o figurino e subiu no palco numa montagem de **_Hairspray_**. Amigos e familiares na plateia se surpreenderam com sua desenvoltura em cena. Foi quando ele entendeu o que queria: ser ator. Sonhava longe, mas será que pensou que aquele menino da apresentação teatral da escola chegaria a **Hollywood**?

Henrique deixou o Brasil rumo a um novo trabalho dois dias após a estreia de **Depois do Universo**. Colheu os frutos do sucesso à distância. A expectativa? Voltar à sua terra natal para sentir de perto o carinho dos fãs brasileiros, especialmente os brasilienses, para o verão. O protagonista do sucesso da Netflix de 2022 está doido para sentar em um barzinho de uma suprequadra da Asa Sul com os amigos, como nos velhos tempos. Só que desta vez, não será apenas o Henrique. Será o nosso Henrique Zaga, orgulho brasiliense.

**Onde ver Henrique Zaga:**

**Filmes**
– Depois do Universo
– Os Novos Mutantes
– XOXO
– Deadly Detention
– MDMA

**Séries**
– 13 Reasons Why
– Teen Wolf
– The Stand
– Trinkets
– Looking For Alaska
– The Mysteries of Laura

(Colocar esses créditos na última foto da página)
Styling: Patricia Zuffa
Make: André Veloso

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