O seminário “Democracia 40 anos: Conquistas, Dívidas e Desafios”, promovido pela Fundação Astrojildo Pereira, teve o objetivo de homenagear José Sarney pelo seu papel na redemocratização do Brasil. As autoridades e políticos presentes fizeram questão de ressaltar a importância da vigilância constante para a preservação da democracia. Na parte da tarde do evento, a ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Vera Lúcia Santana Araújo, e o ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque foram os destaques.
O evento não podia acontecer em um lugar mais simbólico. Com programação extensa por todo o sábado, o Panteão do Pátria foi o local escolhido para tal homenagem. Após emocionantes falas de José Sarney, do ex-presidente do Uruguai, Julio María Sanguinetti, e da ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, através de vídeo, o seminário seguiu durante a tarde com importantes palestras e declarações.
A ministra Vera Lúcia Santana Araújo, do TSE, foi convidada para falar dos caminhos da igualdade de gênero e racial. Ela destacou que a democracia passa também pelo enfrentamento da luta pelo respeito às etnias.
“Uma democracia que ainda se arrasta, que segue com atropelos, abalos e ameaças”, disse. Segundo ela, é necessário analisar o papel dos partidos políticos, no cenário atual, diante dos problemas e desafios postos. Para a ministra, a violência contra mulher gera uma dívida do Estado em relação a todo país por causa dos dados apresentados que são muito elevados.
De acordo com a ministra, a despeito das conquistas já realizadas, ainda há muito o que fazer. Ela ressaltou que o momento atual é de “ofensa” do Estado Democrático de Direito.
“Se vivermos um retrocesso constitucional, será um fracasso para a nossa geração. A gente não pode viver na dependência de um julgado do Supremo Tribunal Federal e da decisão do Tribunal Superior Eleitoral. É muito grave haver no Brasil grupos em defesa do retorno da ditadura”, disse emocionada.
Já o ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque, destacou que há alguns desafios bastante pontuais no Brasil para se conseguir a preservação da democracia. Na opinião, dele o sistema democrático passa pelo combate à fome, à redução da desigualdade social, da ampliação do atendimento da saúde, a rediscussão do papel e das atribuições dos
militares, além da necessidade de estabelecer uma consciência ecológica.
“A democracia existe para funcionar dentro das nações. Mas acabou o tempo em que cada país decida o que é democracia. O mundo está globalizado.”
Segundo Cristovam, há uma “crise estrutural” causada pela nova percepção de mundo provocada pela rapidez do tempo e da globalização. Ele reitera que um dos desafios mais profundos do planeta está nos “imigrantes sociais”, os estrangeiros rejeitados por todos. De acordo com o ex-governador, as autoridades não sabem como lidar com
esses desafios, por exemplo. “Mas temos de comemorar o que já conquistamos. Não
vamos encontrar a solução rapidamente.”