O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, disse neste domingo (23) que está disposto a renunciar ao cargo em troca de uma adesão do país à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Seu comentário veio dias depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, questionou a legitimidade do ucraniano e o chamou de “ditador sem eleições”, ecoando argumento do Kremlin.
Ao mesmo tempo, Zelensky continuou a se opor à insistência de Trump para que ele assinasse um acordo sobre minerais aos quais a Ucrânia diz ser desfavorável. E anunciou uma reunião hoje com mais de 30 países em uma tentativa de formar uma coalizão de apoio ao esforço de guerra da Ucrânia.
Não ficou imediatamente claro se Zelensky havia considerado seriamente a opção de renunciar ou se estava apenas respondendo aos últimos ataques de Washington e de Moscou.
Recentemente, Trump sugeriu que o representante ucraniano era um presidente ilegítimo, pois seu mandato expirou em maio passado. No entanto, a Ucrânia está sob a lei marcial devido à guerra, o que impede a realização de eleições, segundo a Constituição.
A entrada da Ucrânia na Otan é um cenário altamente improvável, dada a oposição de Trump. Além disso, a mera possibilidade do país ser considerado na aliança no passado foi o que embasou a justificativa de Putin para promover a invasão em larga escala em 2022.
“Se isso trouxer paz à Ucrânia e se precisarem que eu renuncie, estou pronto”, disse Zelensky em uma coletiva de imprensa. “Em segundo lugar, posso trocar isso pela Otan”.
Acordo de minerais
Na mesma entrevista, o presidente ucraniano pediu por uma reunião com Trump em meio a pressões americanas para que a Ucrânia ceda acesso às suas terras raras. O governo Trump vem pressionando Zelensky a assinar um acordo permitindo aos EUA acesso aos minerais das terras como forma de compensação pela assistência que os EUA forneceram a Kiev nesses últimos anos.
Ontem, Zelensky disse que estava aberto a intermediar um acordo que permitiria aos EUA lucrar com os minerais de seu país, mas a quantia de US$ 500 bilhões inicialmente proposta pelo governo Trump não era aceitável. “Não estou assinando algo que será pago por 10 gerações de ucranianos”, disse ele.
Zelensky acrescentou que, se Trump se encontrasse com o presidente russo, Vladimir Putin, antes de se encontrar com ele, haveria descrença nos EUA. “Seria ruim para a sociedade dos Estados Unidos.” Trump pretende se reunir com Putin na Arábia Saudita em breve, embora ainda não haja uma data. Há alguns dias, Trump e Putin conversaram por telefone, o primeiro contato entre um líder americano e o russo desde o início da guerra.
Ataque com drones
Enquanto isso, na véspera do aniversário de três anos do conflito, a Rússia lançou o maior ataque com drones contra a Ucrânia até então.
Escrevendo nas redes sociais, Zelensky disse que 267 drones foram enviados no que ele chamou de “o maior ataque desde que os drones iranianos começaram a atingir cidades e vilarejos ucranianos”. A força aérea da Ucrânia disse que 138 drones foram abatidos em 13 regiões ucranianas, e outros 119 se perderam a caminho de seus alvos.
Três mísseis balísticos também foram disparados, informou a força aérea. Uma pessoa foi morta em um ataque com mísseis em Krivii Rih, cidade natal de Zelensky, de acordo com o chefe da administração militar local.